Nuno Capucho é o reflexo dos adeptos na sua maioria. As pessoas estão cansadas deste futebol pobre que é o português. Ainda há meses escrevi que este campeonato está mesmo viciado: ‘ganham os mesmos de sempre e assim ninguém se chateia’. Lembram-se? É muito isto… Quer na Segunda, quer na Primeira Liga. O treinador do Varzim SC, por exemplo, diz que já se sabe quem sobe à primeira divisão este ano. Agora é esperar para ver… Ou será que não é preciso?
Eu estive lá quando aquelas palavras foram proferidas na conferência de imprensa e digo-vos que a revolta de Nuno Capucho era evidente para qualquer um. Dias depois do sucedido, já houve notícias que contam o seu possível afastamento como treinador de futebol.
Em relação a isto, só me consigo lembrar de outra frase que disse no mesmo texto de que falei há pouco: ‘a verdade é que a cada polémica nova, é mais um pouco da adepta apaixonada que se esmorece (…). Só espero que não chegue ao ponto de não restar mais nada’. Consigo encontrar algumas parecenças. Mesmo que indiretamente. E por isso mesmo quis falar particularmente sobre este assunto – porque também sinto essa deceção a crescer cada vez mais, porque estão a ‘matar’ algo que me dá tanto gosto viver.
Para ser sincera, acho que, no geral, o que prende os adeptos ao desporto-rei é mesmo o amor pelo seu clube e não pelo jogo em si, pelas jogadas, pelos golos, pelo espetáculo… Mas por outro lado, penso: será que é esse o ponto fulcral do problema? Irónico, não? Aquilo que ainda leva as pessoas ao estádio a ver futebol é a mesma coisa que se calhar o está a estragar. Decerto que não será a única coisa.
Não interessa como, o que interessa mesmo é ganhar. E será que a mentalidade dos adeptos é reflexo das entidades superiores do futebol português? Afinal, não é assim que se estuda muitas vezes a sociedade? Afinal, o comportamento dos filhos não é o reflexo da educação dos pais? Isto são só pequenos exemplos para ilustrar este meu pensamento. A minha pergunta é: de onde é que tem de partir a mudança? De baixo ou de cima? De onde não sei, mas ela tem de partir de algum lado. Como diria Gandhi, temos de nos tornar na mudança que queremos viver e acho que passa um pouco por aí.
No fundo, o treinador do Varzim SC disse o que muita gente pensa, mas não tem voz para se fazer ouvir. Se ele a tem, decidiu usá-la. Verdade seja dita: talvez não da melhor maneira. As palavras do treinador são duras e concisas e vai mesmo pagar as consequências por as ter proferido. Já foi alvo de um processo disciplinar na sequência de uma participação do Conselho de Arbitragem, mas não é nada que já não se estivesse à espera. Quando se toca na ferida, costuma arder. Só que pelos vistos há quem ainda ache que o que arde não cura.
Foto de Capa: Varzim SC