O estranho caso de Helton

    Olhando para o passado do FC Porto são vários os nomes incontornáveis e que ficarão para sempre associados a momentos importantes do clube. Num passado recente, um desses nomes é o de Helton. Ter tido a possibilidade de o ver vestir de dragão ao peito é algo de que me orgulho, recordar as suas intervenções é algo que continuo a fazer, aceitar a forma como saiu do clube, é algo que nunca vou conseguir. E esse é o estranho caso de Helton.

    Camisola amarela e calças pretas: é esta a forma como mais recordo Helton a guardar as redes da nossa baliza. Vê-lo subir ao relvado de calções, confesso, deixava-me nervosa, tal era o hábito de o ver de calças. Durante anos, a quem quer que me perguntasse qual o meu jogador preferido da equipa (aquela pergunta básica que toda a gente já terá com certeza ouvido), respondia sem hesitar que era o Helton. E não só pelo seu trabalho, muito também por tudo o que transmitia.

    Não consigo lembrar-me do Helton sem ser com um sorriso aberto no rosto. Era a essa a forma como estava na maioria das vezes e era dessa forma que gostava de se relacionar com colegas e adeptos. A 12 de agosto de 2016, na primeira jornada dessa época e no jogo inaugural do campeonato, fui ao Estádio dos Arcos receber a equipa, no segundo ano de Casillas de azul e branco. Também no ano em que o Helton deixou o clube. Cá fora, enquanto se esperava o autocarro, fui abordada por um casal espanhol que me perguntou qual o jogador que eu preferia. Pela primeira vez, fiquei a pensar numa resposta para dar!

    Nunca fui uma fã acérrima do Real Madrid. Para os lados de Espanha, sempre me senti mais inclinada pelo futebol do Barcelona. Ainda assim, tinha em Casillas um jogador que admirava, um herói no seu clube, um ícone na seleção do seu país. Vê-lo praticamente atirado para fora do Bernabéu foi daquelas decisões que não entendi nem quis esforçar-me para entender. Simplesmente não me fazia sentido! Quando começaram os rumores de que viria para o FC Porto, temi que o meu clube fosse fazer exatamente a mesma coisa a um dos seus. Ao seu capitão. E assim foi!

    Braçadeira de capitão, liderança em campo e sorriso fácil: Helton
    Fonte: Bola na Rede

    Vi elementos ligados ao FC Porto criticarem a atitude tida pelo Real Madrid em relação a Casillas, uma figura de proa da equipa. Depois, vi-os fazer exatamente o mesmo a Helton, num momento que ainda hoje considero uma infeliz passagem na história do clube. Mais do que usar a braçadeira de capitão, Helton liderava verdadeiramente a equipa e com ele estava tudo (quase sempre!), controlado. Recordo as suas saídas arriscadas, o seu habitual jogo de pés, a forma como parecia sempre ser bafejado pela sorte depois de uma má abordagem a um lance. Recordo, claro está, as suas grandes defesas que por muitas vezes “salvaram” o resultado. Durante 11 épocas, Helton esteve em sete títulos nacionais, quatro Taças de Portugal, seis supertaças e uma Liga Europa.

    Em 11 épocas, a titularidade esteve-lhe indiscutivelmente entregue durante nove! Para os adeptos, Helton era um ícone. Era não, de certeza que ainda o é. O Helton deixou por certo todos os adeptos com a forte necessidade de lhe fazerem um pedido de desculpas pela forma como viu chegar ao fim a sua ligação ao clube. Acredito que a grande maioria dos adeptos quereria despedir-se do seu capitão de uma outra forma, com Dragão cheio, aplausos, sorrisos.

    Ao Helton, eu sinto a necessidade de dizer que foi um ídolo que cresci a admirar, um homem a quem invejo a capacidade do sorriso fácil, alguém a quem, se pudesse, diria um “desculpa por tudo”. Mas mais do que isso, ao Helton diria sempre, “Obrigada, Capitão”!

    Foto de Capa: FC Porto

    Artigo revisto por: Jorge Neves

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    Joana Quintas
    Joana Quintashttp://www.bolanarede.pt
    O gosto pela escrita e a paixão pelo desporto, particularmente pelo futebol, tornaram claro que o jornalismo desportivo seria o caminho a seguir. A Joana é licenciada em Ciências da Comunicação, gosta de estar atenta ao que a rodeia e tem, por norma, sempre uma palavra a dizer sobre tudo.                                                                                                                                                 A Joana não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.