Ainda em Agosto, com a temporada na sua fase mais embrionária, deixei neste espaço de opinião algumas linhas dedicadas a Adrián López. Na altura muitos torciam o nariz à sua permanência no plantel e, porventura, os mesmos que o faziam na altura, fazem-no também agora. Escrevi mais sobre o jogador habilidoso que vi jogar no Atlético de Madrid do que acerca do jogador apático que aterrou no Porto em 2014.
Dizia eu que, caso Sérgio Conceição conseguisse recuperar o jogador emocionalmente, este poderia dar coisas muito positivas à equipa. Não achei que fosse possível que chegasse a indiscutível, mas advoguei que lhe poderia estar destinado, esta época, um papel secundário no palco principal.
A verdade é que até ao jogo em Roma a única coisa que se pôde confirmar foi que existe uma vontade grande do treinador do FC Porto em reabilitar o espanhol. Não raras vezes tem sido chamado aos jogos (maioritariamente na condição de suplente utilizado), sem nunca ter tido, ainda assim, grande continuidade. De tudo o que Adrián tem feito em campo destacam-se apenas pormenores. Pormenores esses que confirmam não só que o jogador tem muita qualidade, mas também que há uma apatia gritante que o impede de se tornar numa verdadeira mais valia.
O avançado espanhol nunca impressionou pela velocidade ou fantasia, mas sempre demonstrou ser (até chegar a Portugal), um jogador requintado, inteligente na ocupação do espaço entre linhas, competente a jogar a um ou dois toques e em jogo associativo, e certeiro na finalização e na procura da profundidade. Em muitos dos pormenores que mencionei anteriormente se vê este Adrián que chegou a jogar uma final de Liga dos Campeões pelo Atlético de Madrid, no Estádio da Luz. No entanto, no rosto sempre fechado e cabisbaixo com que invariavelmente entra em campo se denota um constante desconforto nas suas ações.
A história errática de Adrián no FC Porto é já sobejamente conhecida. Contudo, no dia 12 de Fevereiro, em pleno Estádio Olímpico de Roma, conheceu o seu apogeu. Com a equipa em apuros e praticamente fora da Liga dos Campeões, foi um golo do avançado espanhol (que substituiu Brahimi no decorrer da partida), que recolocou a equipa na prova e que abriu uma última janela de oportunidade para os portistas seguirem para os quartos-de-final. Um golo importante numa finalização de classe. Classe essa que toda a gente reconhece a Adrián Lopez mas que o jogador teima em deixar escondida.
O golo e mais alguns pormenores (sempre eles), foram o suficiente para assegurar ao espanhol, por via de várias ausências por lesão, a titularidade no jogo frente ao Vitória FC. A exibição não foi a melhor, ainda que dificilmente pudesse ter sido frente a uma equipa que jogava com 10 jogadores atrás da linha da bola, mas trouxe um momento nunca antes visto. O Estádio do Dragão de pé a ovacionar Adrián López no momento da substituição. Um aplauso que comprova a importância do golo em Roma e confirma simbolicamente (e finalmente), as pazes entre jogador e bancada.
Assim, resta perceber se um novo capítulo se abrirá no percurso titubeante do jogador desde que chegou ao FC Porto e se este recupera, por fim, a alegria de jogar futebol que lhe tem faltado. Não se sabe se voltará a ser aposta inicial nos próximos jogos, mas com a recente vaga de lesões que tem assombrado o plantel, e mais concretamente os avançados, torna-se claro que oportunidades não irão faltar. Caberá a Adrián, o Imperador de Roma da Invicta, responder com boas exibições, muito para além dos já habituais (e insuficientes) pormenores de qualidade.
Foto de Capa: UEFA
artigo revisto por: Ana Ferreira