A deslocação do CD Aves ao Estádio de Alvalade não se afigurava fácil, mas José Mota estava convicto da sua estratégia e confiante no desempenho dos seus atletas. Foi ele quem o disse e sublinhou na conferência de imprensa pós-jogo.
Entre um ou outro lance polémico e reações mais ou menos corretas, José Mota recebeu ordem de expulsão do árbitro Vítor Ferreira. Tudo aconteceu quando o VAR apoiou a decisão do árbitro em assinalar grande penalidade favorável ao Sporting CP.
Não interessa aqui julgar as decisões, ou falta delas, em determinados lances, mas olhar e refletir sobre as palavras do técnico do Aves. Numa conferência de imprensa longa, ao contrário do que é habitual, e onde, mais uma vez, pouco se falou de futebol, o VAR e os “engravatados” estiveram debaixo de críticas ferozes.
Além de não concordar com a expulsão e desafiar o árbitro a explicá-la, José Mota não controlou os ânimos e enveredou por um monólogo retórico, visando algumas entidades. Desde logo, pelo facto de treinar um clube “pequeno”, apontou o dedo às diferenças de orçamento e tratamento dentro de campo. Na sua opinião, o VAR aparece e funciona sempre para o mesmo lado. Foi mais longe e disse que ninguém o questionou sobre a implementação desta nova ferramenta.
É verdade que bastou que os três clubes do costume se manifestassem a favor para que a discussão fosse trazida para a ordem do dia e, com maior ou menor dificuldade, fosse executada. Mas é também verdade que o futebol sofreria se o progresso tivesse de ser submetido a votação. Quem votava? E os clubes que subissem nos anos seguintes e não tinham dado opinião podiam competir? Simplesmente inconcebível.
A conversa de que os “pequenos” lutam com as armas que têm está rota, mas não deixa de ser verdade. O CD Aves lutou como conseguiu, povoou o meio-campo e apostou nas transições, merecendo elogios colossais de Bas Dost. No final do jogo, o técnico, atual detentor da Taça de Portugal, garantiu que, com outra atuação da arbitragem, os avenses poderiam mesmo ter saído vencedores. Deixou escapar, no entanto, que o objetivo do CD Aves passava mais por não deixar jogar os leões do que propriamente em fazer o seu próprio jogo. Revelador.
Com a devida razão, relativamente ao poder dos grandes junto das entidades decisoras, José Mota exagerou nos protestos relativamente à arbitragem, provavelmente esquecendo que achou limpo o golo de Rony com a mão, no mesmo estádio, enquanto treinava o FC Paços de Ferreira. Corria a época 2006/07 e os pacenses venceram por 0-1 com um golo polémico. No final do campeonato, os leões ficaram no segundo posto, a um ponto do FC Porto. Neste caso, era um clube grande com razões de queixa da arbitragem e um clube pequeno o beneficiado.
Poucas vezes acontece, mas os “pequenos” também têm os seus dias de sorte. Fica mal a José Mota, “raposa velha” do nosso futebol, perder o controlo e criticar algo, ou alguém, que noutras ocasiões defendeu, só porque o resultado é diferente.
Foto de Capa: CD Aves
Artigo revisto por: Rita Asseiceiro