Oleg Salenko – O Bota de Ouro que o Mundo do Futebol Esqueceu

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    Não há muitos jogadores por esse mundo fora que se possam orgulhar de ter marcado seis golos num mundial de futebol, mas o antigo internacional russo Oleg Salenko foi capaz disso e de muito mais.

    A 25 de Outubro de 1969 nasceu para o mundo Oleg Anatolyevich Salenko. A sua cidade natal, Leninegrado (rebatizada como S. Petersburgo após o fim da URSS), serviu de palco às primeiras incursões futebolísticas do jovem Oleg ao serviço do Zenit Leninegrado, onde se estreou na equipa principal com apenas 16 anos de idade a 1 de Março de 1986. Um jogo contra o poderoso Dynamo Moscovo na capital do império Soviético serviria para intimidar qualquer jogador, mas o jovem Salenko não acusou a pressão de jogar no emblemático estádio, que albergava numa das suas entradas a imponente estátua do lendário Lev Yashin, e vindo do banco de suplentes marcou o golo com o qual o seu Zenit Leninegrado derrotou o poderoso emblema moscovita. O jovem Oleg rapidamente se tornou numa das jóias da coroa daquela equipa superiormente comandada por Pavel Sadyrin e foi pela mão deste lendário pensador do futebol russo que Salenko desenvolveu as suas refinadas capacidades de finalização e se tornou um avançado de elevada qualidade.

    Salenko a receber a sua primeira bota de ouro das mãos de um responsável do futebol da URSS Fonte: vk.com
    Salenko a receber a sua primeira bota de ouro das mãos de um responsável do futebol da URSS
    Fonte: vk.com

    Em 1989, com apenas 19 anos, o ainda inexperiente Salenko mudou-se de malas e bagagens para a potência do futebol soviético da década de 1980, o Dynamo Kiev. A sua transferência para o emblema da capital da Ucrânia entrou para história do futebol soviético, uma vez que foi a primeira a envolver dinheiro. Nessa altura, o todo poderoso Dynamo pagou ao Zenit 36 mil rublos, uma quantia avultada para um país que não estava habituado a este tipo de transações, mas muito longe das pretensões iniciais da equipa de Leninegrado, que exigia 1 milhão de rublos à formação treinada pelo mestre Valeriy Lobanovskiy.

    Em pouco tempo tudo mudou para Salenko; a sua saída para o Dynamo deixou os adeptos do Zenit revoltados e a sua experiência na capital ucraniana foi bem mais complicada do que aquilo que ele poderia prever. O Zenit não tinha o estatuto que tem hoje e em Kiev “morava” uma equipa com jogadores fantásticos, quase todos eles internacionais pelo seu país, algo que relegava o jovem Oleg para segundo plano. Apesar de todas as dificuldades, Salenko apontou perto de 30 golos em cerca de 100 jogos oficiais e, em 1992, já depois do atribulado desmembramento da União Soviética, mudou-se para a liga espanhola, para o modesto CD Logroñes. A sua experiência na comunidade autónoma de La Rioja foi fantástica e, na época de 1993/94, Salenko marcou 21 golos em 37 jogos oficiais. Nunca nenhum outro jogador proveniente da ex-URSS marcou tantos golo numa só época em Espanha e não será por demais lembrar que a quantidade de atletas oriundos daquele antigo país que passaram pelo futebol espanhol é bastante significativa.

    Salenko com o seu filho ostentando a sua segunda bota de ouro Fonte: http://vz.ua
    Salenko com o seu filho ostentando a sua segunda bota de ouro
    Fonte: vz.ua

    Em 1994, Oleg Salenko inscreveu o seu nome na história do futebol mundial ao apontar seis golos no World Cup 94 nos Estados Unidos da América. Foi um ano fantástico para Salenko, durante o qual o antigo jogador do Zenit não só se afirmou a nível nacional como também ao serviço da sua selecção, pese muito embora a fraca prestação da equipa russa no respectivo torneio. Salenko reencontrou Pavel Sadyrin na selecção do seu país e foi novamente pela mão do homem que o lançou no Zenit quase uma década antes que Oleg se tornou, em conjunto com o lendário Hristo Stoichkov, no Bota de Ouro do torneio, com seis golos apontados, cinco deles diante da selecção dos Camarões. O experiente guarda-redes camaronês Jacques Songo’o não conseguiu seguramente esquecer aquele fatídico dia em Palo Alto na Califórnia, quando aquele jogador russo de certa forma “desconhecido” o obrigou a ir buscar a bola ao fundo das redes por cinco vezes.

    Ganhar a Bota de Ouro não foi uma novidade para Oleg Salenko, uma vez que em 1989, no mundial de Sub-20 na Arábia Saudita, o jovem oriundo de Leninegrado havia sido coroado como melhor marcador do torneio, ganhando por isso o respectivo troféu. Salenko continua a ser, nos dias de hoje, o único jogador mundial a ter ganho duas Botas de Ouro em categorias distintas e continua também a ser o único a nível mundial a ter erguido o troféu ao serviço de uma selecção que não tenha superado a fase de grupos.

    Oleg Salenko ao lado do lendário Roger Milla no Mundial de 1994 Fonte: img.championat.com/
    Oleg Salenko ao lado do lendário Roger Milla no Mundial de 1994
    Fonte: img.championat.com/

    Todos estes acontecimentos marcantes antecipavam uma carreira gloriosa para Oleg Salenko após o Mundial de futebol de 1994, mas tal nunca chegou a acontecer. O avançado russo mudou-se para o Valência CF depois do mundial e, um ano mais tarde, rumou ao futebol escocês para representar os Rangers FC, mas, apesar de manter a sua veia goleadora sempre activa, nada voltou a ser como antes, muito por causa de sucessivas lesões e consequentes problemas de ordem física. Uma cirurgia ao joelho, levada a cabo no início da temporada 1996-97, foi o princípio do fim da carreira do artilheiro russo, que por diversas razões, alegadamente relacionadas com a falta de coordenação entre as equipas médicas que o acompanharam nessa altura, viu a sua carreira cair até ao abismo no curto espaço de quatro anos.

    De Salenko, pouco mais se ouviu até aos dias de hoje, com excepção de um desmaio em directo num canal televisivo ucraniano em 2013, de se ficar a saber que o seu livro favorito era o Manifesto Comunista de Marx e Engels e de pequenas entrevistas, sem direito a grande destaque, em jornais e outras publicações internacionais; tudo isto muito pouco para um jogador que colecciona recordes e memórias fantásticas e que devia merecer o respeito e a admiração de todos aqueles que amam e vibram, semana após semana, com o desporto-rei.

    Foto de Capa: kino-nik.ru

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    Joel Amorim
    Joel Amorimhttp://www.bolanarede.pt
    Foi talvez a camisola amarela do Rinat Dasaev que fez nascer, em Joel, a paixão pelo futebol russo e pelo Spartak Moscovo. O futebol do leste da Europa, a liga espanhola e o FC Porto são os tópicos sobre os quais mais gosta de escrever.                                                                                                                                                 O Joel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.