Paris-Nice: Guia para a Corrida do Sol

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    A 82.ª edição do Paris-Nice inicia-se já neste domingo, decorrendo entre os dias 3 e 10 de março. Esta histórica competição assinala, como já é habitual, o início da disputa das provas por etapas do World Tour no “Velho Continente” e contará à partida com 154 ciclistas, de 22 equipas diferentes (18 do World Tour e 4 ProTeams).

    O Paris-Nice representa o primeiro verdadeiro barómetro voltistas na temporada e uma oportunidade de ouro para diversos ciclistas juntarem vitórias de prestígio ao seu palmarés. É igualmente utilizada esta competição como meio de ultimação da preparação para as clássicas do empedrado por alguns dos classicómanos que desejam exibir-se ao seu melhor nível na Flandres e em Roubaix.

    A última edição da “Corrida do Sol”, assim designada por tipicamente se iniciar numa região mais marcada pelo frio e pela chuva e por terminar em Nice (onde predominam os dias soalheiros e o bom tempo), foi vencida pelo esloveno Tadej Pogacar. Quem sucederá ao bicampeão do Tour de France (que não estará presente)?

    Percurso

    Primeira etapa: Les Mureaux – Les Mureaux (157,7 km)

    A primeira etapa inclui quatro subidas categorizadas (todas elas de terceira categoria), sendo a última ascensão ao Côte d’Herbeville ultrapassada a pouco mais de dez quilómetros para o fim da etapa. O último quilómetro inclui um falso plano (sem grande inclinação). No papel, esta poderá ser uma tirada para velocistas com uma boa capacidade para ultrapassar subidas curtas, mas será de difícil controlo pelas equipas dos homens rápidos, que poderão ver os fugitivos a ter sucesso logo na primeira etapa e que terão de ter em atenção os primeiros 600 metros do Côte d’Herbeville, com pendentes a rondar os 10% e onde poderão surgir ataques.

    Segunda etapa: Thoiry – Montargis (177,6 km)

    À primeira vista, para os mais inexperientes, a segunda etapa não parece apresentar grandes perigos ou armadilhas, mas os mais fiéis espetadores do Paris-Nice saberão que é nestas etapas marcadamente planas que muita da ação acontece. De Thoiry a Montargis, a etapa é quase sempre feita entre os 150 e os 200 metros acima do nível médio das águas do mar e em terreno plano, mas em estradas, muitas vezes, sem vegetação a proteger os ciclistas do vento. Se estiver dia de Mistral, os ciclistas passarão um dia diabólico na bicicleta em terreno desprotegido e poderão dar-se fraturas importantes no pelotão como efeito dos ventos cruzados, que determinem, em certos casos, o rumo infeliz da classificação geral para alguns.

    Terceira etapa (CE): Auxerre – Auxerre (26,9 km)

    A terceira etapa é um contrarrelógio por equipas de quase 27 km. Com duas pequenas subidas de pouco mais de dois quilómetros a 4% de inclinação na primeira metade do percurso, as equipas terão de definir uma boa estratégia entre puros roladores e homens da classificação geral, para que, no final do percurso, tenham conseguido otimizar o seu tempo. Deve-se alertar para o facto de que, à semelhança do que aconteceu em 2023, os tempos são contabilizados à medida que chega cada ciclista da equipa individualmente, não se unificando os tempos dos quatro primeiros classificados de cada equipa à chegada à meta do último desses quatro, como costuma ocorrer em provas de contrarrelógio por equipas com sete ciclistas por equipa.

    Quarta etapa: Chalon-sur-Saône – Mont Brouilly (183 km)

    A quarta etapa está, indiscutivelmente, marcada no livro de prova como um campo de batalha para aqueles que pretendem vencer o Paris-Nice. Com final no Mont Brouilly, uma subida categorizada de segunda categoria (3 km a 7,7%), a tirada inclui ainda uma montanha de primeira categoria (Col du Fût d’Avenas- Les Chappes- 5,2 km a 7,2%), cujo topo é atingido a pouco mais de 20 quilómetros para o final da etapa; e outras cinco subidas de segunda categoria, nomeadamente uma outra ascensão ao Mont Brouilly a 40 quilómetros da meta.

    Quinta etapa: Saint-Sauveur-de-Montagut – Sisteron (193,5 km)

    A quinta etapa, que contém no seu percurso quatro subidas de terceira categoria, poderá sorrir a um grupo de fugitivos que se entenda bem e possa levar o seu esforço até ao risco de meta, ou, a um sprinter do pelotão. A última grande dificuldade é ultrapassada a quase 50 quilómetros da meta, mas para que os velocistas tenham a oportunidade de disputar a etapa, os seus gregários terão de assegurar que a fuga não consegue alcançar uma vantagem de grande dimensão sobre o pelotão na fase intermédia da etapa, onde estão localizados os maiores obstáculos montanhosos.

    Sexta etapa: Sisteron – La Colle-sur-Loup (198,2 km)

    A sexta etapa, com quase 200 quilómetros de extensão, é mais uma que pode ser discutida entre os velocistas que melhor ultrapassem obstáculos montanhosos ou por integrantes da fuga do dia. A etapa contém quatro subidas categorizadas de segunda categoria e uma de terceira. O final da etapa 6 é mais acidentado do que o da etapa 5 e, se contestado num sprint, poderá ter ainda menos velocistas presentes no final do que na etapa do dia anterior. A sexta tirada tem um último quilómetro relativamente duro, com pendentes médias de 4%.

    Sétima etapa: Nice – Auron (173 km)

    A sétima e penúltima etapa foi desenhada para ser discutida pelos melhores trepadores em prova, estando as principais dificuldades localizadas nos últimos 60 quilómetros de prova. O topo da subida de primeira categoria, La Colmiane (7,5 km a 6,9%), é atingido a pouco mais de 50 quilómetros da linha de meta e, desde aí, os ciclistas fazem a descida e a aproximação à última subida do dia, também de primeira categoria, em Auron (7,4 km a 6,9%).

    Oitava etapa: Nice – Nice (109,3 km)

    A oitava e derradeira etapa da prova, definidora da classificação geral do Paris-Nice, é, como já é habitual, bastante curta (a mais curta da prova), mas é sempre percorrida a alta velocidade pelas montanhas que rodeiam a cidade de Nice, que oferecem um percurso extremamente exigente e que são sempre palco de um espetáculo de elevado calibre proporcionado pelos ciclistas. A oitava tirada inclui inicialmente a passagem por três subidas de segunda categoria, às que se seguem duas ascensões altamente exigentes, de primeira categoria, aos míticos Col d’Eze (1,6 km a 9,1%) e Col des Quatre Chemins (3,8 km a 8,1%). No final da etapa, no Passeio dos Ingleses (em Nice), tanto pode emergir vitorioso um fugitivo com boas qualidades de trepador, como um candidato à classificação geral num dia superlativo, nomeadamente o líder da prova.

    Candidatos à classificação geral

    Principais favoritos

    Remco Evenepoel (Soudal-Quick Step)

    O belga, que venceu as duas primeiras provas da temporada que disputou (Figueira Champions Classic e Volta ao Algarve), chega a França em boa forma e com os olhos postos no primeiro lugar. Remco, que definiu o Paris-Nice como um dos seus principais objetivos da primeira parte da época de 2024, vai querer mostrar que é um dos melhores ciclistas em provas de uma semana do World Tour e estará acompanhado por uma equipa bem equilibrada entre roladores, trepadores e homens de todos os terrenos, composta por: Ilan Van Wilder, Louis Vervaeke, Yves Lampaert, Mattia Cattaneo, Gianni Moscon e Casper Pedersen. A superestrela belga encabeça uma equipa que, em boa forma, pode ser considerada uma das principais favoritas à vitória no contrarrelógio por equipas.

    João Almeida (UAE Team Emirates)

    O português de 25 anos inicia a sua época no Paris-Nice e, dada a sua regularidade e o bloco que o acompanha, tem obviamente de ser tido como uma das principais ameaças ao trono final em Nice. João, que já foi oitavo classificado no Paris-Nice em 2022, vai tentar melhorar o seu resultado de há dois anos, esperando poder sobrepor-se a todos os rivais e que a equipa faça da sua força coletiva a principal arma de defesa do título conquistado pelo líder da equipa no ano passado, Tadej Pogacar. Neste Paris-Nice, João vai poder contar ao seu lado com: Brandon McNulty, Finn Fisher-Black, Jay Vine, Felix Grosschartner, Nils Politt e Marc Soler.

    Primoz Roglic (BORA-hansgrohe)

    Tal como João Almeida, também o esloveno inicia a sua temporada na “Corrida do Sol”, ansiando-se há muito pela sua estreia com as cores da formação alemã, depois da sua inesperada saída da Jumbo-Visma no final da época passada. Primoz, que tem como objetivo último a vitória no Tour de France deste ano, inicia a sua época no país no qual estão depositadas as suas maiores esperanças para este ano e parte, certamente, com o intuito de voltar a vencer o Paris Nice, sendo que já o havia feito em 2022. Para ter êxito, contará com a ajuda de: um trepador em grande forma, Aleksandr Vlasov; dois excelentes roladores para todos os terrenos, Bob Jungels e Matteo Sobrero; e três máquinas de alta rotação no plano, Danny Van Poppel, Marco Haller e Nico Denz.

    Outros candidatos

    Mattias Skjelmose (Lidl-Trek)- O dinamarquês, que venceu a Volta à Suíça de 2023, iniciou a sua época no fim de semana passado, nas clássicas Faun-Ardèche e Faun-Drôme, com um top 5 e um pódio. A tentar entrar com o pé direito nesta temporada, após os bons resultados obtidos nas duas clássicas em França, vai procurar dar mais passos em frente em terras gaulesas e é assumidamente o líder da equipa para a classificação geral.

    Carlos Rodríguez (INEOS Grenadiers)- O ciclista da INEOS, uma das principais promessas espanholas da nova geração, iniciou a sua época sem grande brilhantismo em provas espanholas, em Jaen e na Galiza. Ainda assim, o quinto classificado da última Volta à França, não deixa de ser um dos maiores candidatos à vitória final, fazendo-se acompanhar à partida por Egan Bernal (que vai tentando retornar à forma dos seus tempos áureos).

    UAE Team Emirates- A formação do Médio Oriente habituou-nos nos últimos anos a correr sem um líder definido, mas com vários líderes, nas competições em que não se apresenta à partida com a sua principal coqueluche, Tadej Pogacar. Assim sendo, apesar de João Almeida ser a mais segura aposta da equipa, os diretores desportivos podem ainda jogar taticamente com as presenças notáveis de ciclistas plenamente capazes de darem dores de cabeça aos adversários, designadamente: o vencedor da Volta à Comunidade Valenciana deste ano, Brandon McNulty; o primeiro classificado do Tour Down Under de 2023, Jay Vine; ou o líder da classificação geral final do Paris-Nice de 2018, Marc Soler.

    David Gaudu (Groupama-FDJ)- O francês de 27 anos de idade foi o segundo classificado do Paris-Nice do ano passado, quando se mostrou, para surpresa de muitos, o mais capaz de igualar os esforços de Pogacar. Apesar do seu incontestável talento, não conseguiu, até aos dias de hoje, venceu qualquer prova por etapas. Será a altura do francês escalar outro patamar e efetivar o seu potencial?

    Felix Gall (Decathlon AG2R La Mondiale Team)- O austríaco, uma das revelações do Tour de 2023, tem nesta prova em território francês uma competição importante para a sua equipa e um dos seus primeiros testes no ano perante alguns dos melhores ciclistas do mundo, para aferir em que patamar se encontra de momento.

    Matteo Jorgenson (Team Visma / Lease a Bike)-  O norte-americano, que já terminou duas vezes no oitavo lugar do Paris-Nice (em 2021 e em 2023), terá liberdade para mostrar, na sua nova equipa, aquilo de que é capaz. Com base na sua grande exibição na Omloop Het Nieuwsbald, no fim de semana passado, tem de ser mantido debaixo de mira pelos principais candidatos à classificação geral.

    Wilco Kelderman (Team Visma / Lease a Bike)- O experiente neerlandês apresenta-se à partida como um dos líderes da equipa e deverá ter oportunidade para tentar almejar ao lugar mais alto que puder alcançar na classificação geral. Pode-se dizer que não é um grande vencedor, mas é um dos voltistas mais regulares e pode, porventura, vir a surpreender.

    Aleksandr Vlasov (BORA-hansgrohe)- O russo apresenta-se, num primeiro plano, como um gregário de luxo de Primoz Roglic. Todavia, se o esloveno fracassar, a equipa pode contar com ele para servir como um plano B de qualidade, já que está em grande forma neste início de temporada, somando já três pódios em troféus do Challenge de Mallorca e um outro pódio na classificação geral da Volta à Comunidade Valenciana.

    Bahrain-Victorious- Esta equipa é sempre candidata a disputar os lugares cimeiros das provas por etapas do World Tour, não sendo o Paris-Nice deste ano exceção. Para essa disputa, contam com: o polivalente Pello Bilbao, que terminou no terceiro lugar no UAE Tour deste ano; uma estrela colombiana em ascensão, Santiago Buitrago, que foi segundo na Volta à Comunidade Valenciana; e o australiano Jack Haig, que já terminou quatro vezes no top 10 do Paris-Nice.

    Alguns velocistas a ter em conta

    Mads Pedersen (Lidl-Trek)- O campeão do mundo de 2019 iniciou o ano em grande forma, com 4 vitórias de etapa e duas classificações gerais já conquistadas em apenas duas provas, e terá várias etapas ao seu jeito nesta edição do Paris-Nice. Candidato a triunfar em mais do que uma etapa, contará com uma equipa quase inteiramente ao seu dispor: Tim Declercq para gerir o ritmo na frente do pelotão e um comboio de sprint composto por Ryan Gibbons, Jasper Stuyven e Alex Kirsch.

    Gerben Thijssen (Intermarché-Wanty)- O velocista de 25 anos, já com duas vitórias este ano, poderá também contar com um bom conjunto ao seu dispor, beneficiando, por exemplo, da experiência de Adrien Petit e do potencial do jovem Madis Mihkels. O belga estará na contenda para alcançar a sua décima vitória na carreira e a sua segunda vitória no principal escalão do ciclismo mundial.

    Dylan Groenewegen (Team Jayco AlUla)- O neerlandês é um dos ciclistas com maior ponta de velocidade no panorama internacional, mas passou um pouco ao lado das vitórias no mês de fevereiro. Após ter vencido logo na abertura da sua temporada, numa clássica com final em Valencia, procura agora regressar à rota das vitórias, contando com homens da sua confiança, como Elmar Reinders e Luka Mezgec, para chegar à sua quarta vitória de etapa no Paris-Nice.

    Bryan Coquard (Cofidis)- Desde o início da época, “Le Coq” já bateu várias vezes na trave, sem conseguir triunfar. Depois de ter competido em provas no Médio Oriente, retorna agora a “casa”, onde tentará erguer os braços. O seu foco irá estar sobretudo nas etapas ao sprint que terminam em falsos planos, nas quais ele terá reais possibilidades de discutir a vitória.

    Arnaud Démare (Arkéa-B&B Hotels)- O francês, que já foi por várias vezes campeão nacional da França e que contabiliza no seu palmarés mais de 90 vitórias profissionais, tem estado completamente desencontrado da rota das vitórias este ano. Ainda assim, não deixa de ser um grande campeão a competir “em casa”, merecendo a confiança da equipa, que põe ao seu dispor um pequeno grupo que o poderá levar à vitória, composto, nomeadamente, por: Miles Scotson e Donovan Grondin.

    Arnaud De Lie (Lotto Dstny)- Para espanto de muitos, o talentosíssimo belga ainda não abriu a contagem de vitórias em 2024, mas isso não deverá demorar a acontecer, já que tem várias etapas adaptadas às suas características neste Paris-Nice. Arnaud terá a guiá-lo para a vitória ciclistas de grande qualidade, como: Jasper De Buyst, Cedric Beullens, Brent Van Moer e Victor Campenaerts.

    Olav Kooij (Team Visma / Lease a Bike)- O jovem neerlandês terá a “Corrida do Sol” como a terceira competição da sua temporada e parte de Les Mureaux com o objetivo de adicionar mais vitórias às duas que já soma este ano. É um dos melhores velocistas em competição e terá a integrar a sua locomotiva de sprint: um dos melhores roladores do mundo, Edoardo Affini; e os irmãos Mick e Tim Van Dijke.

    Fabio Jakobsen (Team dsm-firmenich PostNL)- O velocista neerlandês é o reforço mais sonante da equipa da dsm para esta época e foi-lhe garantido que teria um comboio de sprint à sua altura, algo que se verifica nesta prova. Fabio estará acompanhado por uma equipa quase exclusivamente dedicada às chegadas para os homens mais rápidos, da qual fazem parte, por exemplo: Nils Eekhoff, Julius Van Den Berg, Tobias Lund Andresen e Timo Roosen.

    Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck)- A formação belga dá liberdade ao velocista australiano de disputar as etapas que sejam do seu interesse nesta 82.ª edição do Paris-Nice. O vencedor da camisola por pontos da última Volta à Espanha é um dos nomes a ter em conta para chegadas ao sprint mais acidentadas.

    Arvid De Kleijn (Tudor Pro Cycling Team)- O principal sprinter desta equipa suíça em ascensão é um dos velocistas mais rápidos do World Tour e estará certamente na discussão pela vitória em algumas etapas. Conta também com uma equipa de qualidade para a aproximação aos metros finais das etapas destinadas aos homens mais rápidos, da qual fazem parte: Matteo Trentin, Rick Pluimers e Maikel Zijlaard.

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    Miguel Monteiro
    Miguel Monteirohttp://www.bolanarede.pt
    O Miguel é um estudante universitário natural do Porto, cuja paixão pelo desporto, fomentada na infância pelos cromos de Futebol que recebia e colava nas cadernetas, considera ser algo indescritível. Espetador assíduo de uma multiplicidade de desportos, tentou também a sua sorte em algumas modalidades, sem grande sucesso, tendo encontrado agora na análise desportiva uma oportunidade para cultivar o seu amor pelo desporto e para partilhar com os demais as suas opiniões, nomeadamente de Ciclismo, modalidade pela qual nutre um carinho especial.