Porto e Sporting? É deixá-los estar

    camisolasberrantes

    Como bom adepto do futebol português que sou, faço os possíveis para acompanhar só e somente…o meu Benfica. Com ironia o digo e com razão o reforço: é cada vez mais difícil, senão impossível, gostar da bola que rola neste país. Primeiro, porque está gasta. Segundo, porque já a furaram inúmeras vezes. Terceiro, porque a câmara de ar insiste em invadir o espaço das costuras. Quarto, porque o(s) dono(s) da bola chateia(m)-se se os outros jogadores também quiserem dar uns pontapés.

    E pela linha nada doutrinária do pontapé é que vamos. Desde que este Sporting emergiu, comparticipado pelo surgimento e pela insurgência de Bruno de Carvalho – cavaleiro desejado no seio verde e branco, inútil no panorama global –, que a ordem natural das coisas ganhou novos contrastes. Não me queixo. Pelo contrário. Acho saudável que o Sporting queira voltar à Europa. Ao terceiro ou ao segundo lugar. Até mesmo aos campeonatos. Falamos de uma das instituições com mais história em Portugal, portanto compreende-se que os seus dirigentes – pelo menos um, desde Dias da Cunha – queiram reforçar a importância que os Leões têm no futebol nacional. Não querem é ficar por aí.

    O cavaleiro Bruno de Carvalho e seus verdes paladinos anseiam hoje pela queda violenta e definitiva dos seus directos rivais. Legítimo, mais uma vez. Mas perigoso. E ridiculamente mal orquestrado desde o primeiro dia. Repito-me: hei-de estar mesmo muito, muito, muito enganado se, mais tarde ou mais cedo, os adeptos sportinguistas não se vierem a arrepender da Dinastia Carvalhista. É que este homem tomou conta de um clube quase morto, desistente em todas as suas práticas, até nos seus adeptos adormecido, e quer, de um dia para o outro, cumprir um sem número de objectivos que nem um grande colosso nacional e europeu conseguiria se tivesse uma direcção decente: matar o Porto e acabar com o tempo de Pinto da Costa, mostrar as debilidades de um Benfica a cargo de Luís Filipe Vieira, afirmar-se como o clube a seguir entre a esfera dirigente, manipular os árbitros e sua estrutura organizacional para “não errarem tanto”, ou para, pelo menos, errarem mais vezes para o lado que – admita-se – vai sendo menos beneficiado. E o tiro há-de sair pela culatra. Se é que já não saiu.

    Actualmente em segundo lugar, com mais cinco pontos do que o Porto, os Leões reclamam ainda mais sete pontos – que lhes dariam o primeiro lugar, a par com o Benfica – e sustentam que o clube encarnado devia ter um ponto a menos. Já o Porto foi beneficiado em dois pontos, eventualmente quatro. Contas feitas e o Sporting ocuparia o primeiro lugar, com um ponto de avanço sobre o Benfica e 11, que poderiam até ser 13, sobre o Porto. É a matemática divina. É a matemática dos justos e dos iluminados, que vêem, em campo e fora dele, o que os outros não-omniscientes não conseguem descortinar. Porque a arrogância vale tudo.

    Mais tarde ou mais cedo o plano cai por terra...<br />Fonte: Maisfutebol
    Mais tarde ou mais cedo o plano cai por terra…
    Fonte: Maisfutebol

    E tudo já vimos. Logo no princípio do campeonato, um Sporting que, inflamado pelas suas recentes conquistas e vitórias, quis fazer peito ao rival do Norte. Legítimo. Mas despropositado. Sem quês nem porquês, Bruno de Carvalho auto-intitulou-se persona non grata no reduto dos Dragões e quase exigiu ser mal recebido, isto de forma a provar que o Sporting já tinha pêlos no peito. E aconteceu. Depois queixou-se.

    Assim como se queixou de um atraso de três minutos para justificar a sua continuidade na Taça da Liga. Arrastou mundos e fundos para afastar o rival da tal competição que não interessa a ninguém e que é apelidada de “Taça Benfica” ou “Taça da Cerveja”. Simplesmente paradoxal, até porque todos sabemos que dirigentes e adeptos verdes preferem antes um Chivas Regal com 18 anos.

    Num último acesso de loucura, presenteou ainda a actualidade futebolística com ameaças legais e em tudo muito justificadas aos árbitros e seus dirigentes. Meteu a Liga ao barulho, atirou para a equação Porto e Benfica e exigiu não só pontos como avultadas quantias em dinheiro. Tudo como forma de compensar o imerecido segundo lugar que ocupam.

    Passamos agora para o outro, mas igual, lado da moeda. O triste Porto. Se soube lidar com as acusações relativas à Taça da Liga e distanciar-se de grandes polémicas, não soube, por outro lado, censurar as atitudes dos seus adeptos na recepção aos Leões, ajudando ainda à festa com condições deploráveis e estratégias de backstage que todos nós conhecemos e reconhecemos como habituais no seio de tal instituição. Bonito.

    Pinto da Costa já há muito que perdeu a força e a compostura Fonte: Record
    Pinto da Costa já há muito que perdeu a força e a compostura
    Fonte: Record

    Mas o mais grave surgiu há uns dias. O Porto, clube suspeito de presentear os árbitros com cabazes de fruta madura, veio a palco condenar não as decisões (pouco ou nada) desastrosas de Pedro Proença, mas a forma como o Sporting pressionou violentamente – através da conferência de imprensa de Bruno de Carvalho e do tal movimento “Basta”, que bastou para ajudar na vitória ao rival directo pelo segundo lugar – os órgãos de decisão da arbitragem, tendo ainda possivelmente condicionado Proença e o seu apito no decorrer do encontro. Se eu até vejo alguma razão nas palavras da estrutura portista, vejo ainda mais hipocrisia e falta de bom senso em tal manobra. Como é que é possível que tal instituição venha a público exigir que se retire entre cinco a oito pontos ao clube leonino? Como?! Mas anda tudo maluco?

    Não bastando, saiu há pouco do forno um nada incendiário (e aziado) comunicado azul que acusa o Sporting de não ter recebido com pompa e circunstância a comitiva nortenha. Sim…depois de tudo o que aconteceu no Porto, é de facto uma pena que não tenham preparado canapés e café com leite. Já ter havido escolta policial deveria ser motivo de regozijo. Vejo-me obrigado a concordar com Bruno de Carvalho nesta: haja “senilidade”.

    Contudo, concordo ainda mais com Jorge Jesus. Nós, Benfica, deixamos o que temos a dizer em campo. Até porque já não temos paciência para falar fora dele. E assim vos garanto que, este ano, o Benfica será campeão. Passei meses e meses sem abrir a boca ou o coração a tal possibilidade. Agora asseguro-a. Que se matem pelo vosso segundo ou terceiro lugar, que nós, cá no topo, temos outra conquista europeia para preparar, uma Taça de Portugal para oferecer ao pai do nosso mister e a tal “Taça da Cerveja” para irmos aproveitar a noite leiriense. Com isto dito, não estamos do lado de ninguém (ouviste, nada-faccioso-jornal-Record?). E nem vamos deixar que nos arrastem para tal contenda. O tempo do Benfica está a chegar. E isso percebe-se. Portanto, não é o crescendo do Sporting nem o diminuendo do Porto que incomodam…é o papel de protagonista do Benfica.

    Divirtam-se.

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    O Tiago tem uma doença incurável que o afeta desde o momento em que nasceu: a paixão pelo Benfica. Gosta de ver bom futebol, mas a sua maior alegria é comer um coirato à porta do Estádio da Luz.                                                                                                                                                 O Tiago não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.