Revista do Mundial’2014 – Portugal

    cab portugal mundial'2014

    Desde 1998 que Portugal não desperdiça a oportunidade para estar presente na mais importante competição de selecções do mundo. Não falhou com António Oliveira, não falhou com Scolari, não falhou com Carlos Queiroz e também não seria agora que tem um bom treinador, que isso iria acontecer. Paulo Bento pegou na Seleção Nacional em setembro de 2010, depois dos sucessivos erros de gestão de Queiroz e, desde então, tem cumprido todos os objectivos a que se tem proposto: conseguiu o feito de pegar numa equipa portuguesa completamente destroçada e a cair aos bocados (que já contava com dois resultados ridículos para a fase de qualificação para o Euro’2012 com Carlos Queiroz – empate a 4 frente ao Chipre e derrota por 1-0 com a Noruega.

    Depois disso, Paulo Bento pegou na equipa, moldou-a à sua maneira, ainda foi a tempo de se qualificar para o Euro’2012 (quando poucos acreditavam), apenas caindo aos pés da campeã Espanha na marcação de grandes penalidades. Depois disso, sofremos para nos qualificarmos para o Mundial, é verdade. Mas relembrem-se, os portugueses que o criticam, de uma vez com qualquer um destes antigos selecionadores, que tenhamos tido uma qualificação folgada para uma fase final. São poucas, como puderam verificar.

    Agora é hora de acreditar e não a de criticar o selecionador por convocar A ou B. O núcleo-duro há muito que está formado e dificilmente se iria alterar. Paulo Bento escolheu estes 23 e nós só temos é de apoiar. Se o trabalho for bem feito, como tem sido até agora, ninguém poderá colocar em causa o selecionador nacional, que muito tem feito por Portugal.

    Para este Mundial, as hipóteses de sucesso são promissoras. Voltámos a ter a infelicidade de voltar a encontrar a Alemanha, que é, por norma, um adversário complicado para Portugal. Mas, tal como em 2012, é benéfico que seja o adversário inicial. Os primeiros jogos são sempre mais táticos e fechados e, tanto os portugueses como os alemães, em primeiro lugar, não quererão perder o encontro. Por isso mesmo, Portugal poderá aproveitar para montar bem a equipa para gerir este primeiro jogo e adotar uma posição ligeiramente mais defensiva. Sem jogar para o empate, mas com a ideia de que o empate será um bom resultado.

    Depois seguir-se-ão dois jogos que, à partida, definirão bem toda a participação de Portugal no Mundial: E.U.A e Gana. Dois jogos em que somos favoritos, mas que estão longe de ser fáceis. Os americanos são uma equipa muito mais evoluída taticamente, desde a última vez que os encontrámos numa fase final – sim, em 2002, quando perdemos por 3-2 – e deverão ser uma barreira difícil de ultrapassar. Quanto ao Gana, teremos de contar com uma equipa de 11 obreiros, que coloca uma intensidade imensa em campo durante os 90 minutos. É importantíssimo que os jogadores portugueses entrem em campo em boas condições físicas e com capacidade para aguentar o ritmo do jogo, que será muito elevado.

    No entanto, com maior ou menor dificuldade, eu aposto na passagem de Portugal à fase seguinte. Na teoria, essa é a hipótese mais óbvia e na prática também o será. E a partir do momento em que passemos estes 3 jogos, tudo é possível. Temos hipóteses para ganhar a qualquer seleção do mundo e o sonho é o limite. Não é a seleção de Figo, Rui Costa, Deco, João Vieira Pinto ou Paulo Sousa, mas é a equipa que temos agora e que nos vai querer fazer sonhar. Guardemos então o nosso tempo para ela. Para vibrar, apoiar e nunca baixar os braços. Eu acredito nesta equipa.

    OS CONVOCADOS

    Guarda-redes: Beto (Sevilha), Eduardo (Sp. Braga) e Rui Patrício (Sporting);

    Defesas: André Almeida (Benfica), Bruno Alves (Fenerbahçe), Fábio Coentrão (Real Madrid), João Pereira (Valência), Neto (Zenit), Pepe (Real Madrid), Ricardo Costa (Valência)

    Médios: João Moutinho (Mónaco), Miguel Veloso (D. Kiev), Raul Meireles (Fenerbahçe), Rúben Amorim (Benfica) e William Carvalho (Sporting);

    Avançados: Cristiano Ronaldo (Real Madrid), Éder (Sp. Braga), Hélder Postiga (Lazio), Hugo Almeida (Besiktas), Nani (Manchester United), Rafa (SC Braga), Varela (FC Porto) e Vieirinha (Wolfsburgo)

    A ESTRELA

    Cristiano Ronaldo Fonte: foxsports.com.br
    Cristiano Ronaldo
    Fonte: foxsports.com.br

    Devo ter, provavelmente, a tarefa mais facilitada de todas para escolher a figura desta equipa. Se temos o melhor do mundo, a minha escolha é óbvia. Cristiano Ronaldo aparece neste Mundial longe com algumas debilidades físicas e muito desgastado de uma temporada ao mais alto nível. Logicamente que a sua presença é sempre um fator motivacional para os portugueses e os seus colegas, mas parece-me que a Seleção Nacional não deve focalizar o seu jogo exclusivamente na inspiração do português, como aconteceu nos últimos jogos da fase de apuramento. Portugal tem de jogar com Ronaldo e não para Ronaldo. Devemos aproveitar os seus desequilíbrios, mas pensar em planos B ou C, caso o craque português não esteja a conseguir adquirir a preponderância necessária para pegar no jogo. Desse modo, aponto João Moutinho como o principal leitor do jogo português e aquele que mais disponibilidade terá para organizar a equipa e fazer as ligações entre a defesa e o ataque nacional.

    O TREINADOR

    Paulo Bento Fonte: seleccaonacional.net
    Paulo Bento
    Fonte: seleccaonacional.net

    Sobre Paulo Bento já foi quase tudo dito. Elogiado por poucos e criticado por muitos, o selecionador nacional vai procurar fazer tudo aquilo que estiver ao seu alcance para chegarmos o mais longe possível na competição. Partimos como outsiders e poderemos aproveitar esse estatuto para jogar sem pressão nos primeiros encontros. O primeiro e único objetivo, para o imediato, é passar a fase de grupos. Depois, tudo o que vier por acréscimo é um ponto extra.

    Paulo Bento tem cumprido todos os objetivos a que se tem proposto. Foi ao Europeu e fez uma boa campanha e agora vai ao Mundial e também vai fazer. É o que espero e aquilo que acredito que vai acontecer.

    O ESQUEMA TÁTICO

    11 portugal

    O esquema tático de Portugal não irá fugir muito ao que tem sido habitual, desde que Paulo Bento pegou na equipa. Arrisco-me até a dizer que o onze base deverá ser o mesmo do último Europeu. Excluindo as dúvidas entre Miguel Veloso e William, Nani e Varela e Postiga ou Hugo Almeida, o resto da equipa está completamente definido. Na questão do trinco, creio que Paulo Bento dará a Miguel Veloso a titularidade no primeiro encontro e dependendo da exibição do jogador do Dínamo Kiev, o lugar ficará definido. Quanto às outras duas posições, tudo dependerá dos jogos. Se o jogo pedir mais velocidade, Varela é a escolha. Se, por outro lado, pedir mais inteligência e capacidade para segurar a bola, Paulo Bento optará sempre por Nani. Finalmente, na posição mais adiantada do terreno, Postiga deve levar alguma vantagem, embora eu arrisque na titularidade de Hugo Almeida para o jogo com a Alemanha. Não só pela sua capacidade física, que será adequada para o tipo de jogo praticado pelos alemães, como também pelos 2 golos marcados no último jogo de preparação, frente à Irlanda, que lhe deram, por certo, um acréscimo de moral para a competição. Depois, há ainda jogadores como Vieirinha, Rúben Amorim e Éder que podem acrescentar algo mais à equipa.

    O PONTO FORTE

    A Experiência e coesão a nível tático são claramente os pontos mais fortes da equipa portuguesa. Não há dúvida de que Portugal é uma das melhores equipas do mundo a jogar em posse e sem bola. Todos os jogadores têm um tremendo sentido posicional e sabem sempre o que têm de fazer em campo, tanto nos momentos ofensivos, como defensivos. Este fator está intrinsecamente ligado com o outro ponto forte – a experiência – dado que este conhecimento e reconhecimento dos jogadores das suas posições e tarefas em campo, em muito é devido à forte experiência que a grande maioria já possui, tanto a nível de seleção, como de clubes. Portugal é a segunda seleção com uma média de idades mais alta neste Mundial (28,2 anos, apenas suplantada pela Argentina com 28,4) e esse é um interessante fator também a ter em conta.

    O PONTO FRACO

    A dependência em relação a Cristiano Ronaldo pode ser um problema. Se Ronaldo não estiver nas melhores condições físicas e se os jogadores portugueses sentirem o peso de ter de centralizar o ataque da equipa na inspiração do português. O craque do Real Madrid tem de ser encarado como uma peça importante da equipa, mas nunca como o nosso único recurso para atacar as balizas adversárias.

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    Mário Cagica Oliveira
    Mário Cagica Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
    O Mário é o fundador do Bola na Rede e comentador de Desporto. Já pensou em ser treinador de futebol por causa de José Mourinho, mas, infelizmente, a coisa não avançou e preferiu dedicar-se a outras área dentro do mundo desportivo.