Pouco futebol e muita intimidação no antro da corrupção

    O Sexto Violino

    Neste fim-de-semana o Sporting perdeu pela primeira vez no campeonato. Se este facto mostra que estamos incomparavelmente melhor do que no ano passado (à oitava jornada da época anterior tínhamos 3 derrotas e apenas uma vitória, e ainda não tínhamos jogado com o Benfica), por outro lado o resultado e exibição no Dragão também colocam alguma água na fervura e relembram-nos de que o objectivo do Sporting é, para já, diferente dos de Porto e Benfica.

    Sobre o jogo não falarei muito, porque fui pela primeira vez ao Dragão e o lugar em que estava, a somar ao facto de ter tido uma bandeira a esvoaçar à minha frente durante 90 minutos, fez com que a minha percepção de todos os lances do jogo não tenha sido tão boa como a de quem assistiu pela televisão. Ainda assim, queria destacar a exibição de William Carvalho (muito sólido, sereno e sem medo de meter o pé), as dificuldades defensivas (Piris e sobretudo Cédric muitas vezes desposicionados e a dar muitos espaços, os centrais a revelarem problemas em lidar com adversários mais difíceis e, obviamente, o penálti ridículo do Maurício), a apatia e falta de poder de choque do meio-campo (Adrien e André Martins mostraram-se algo nervosos, perderam muitas bolas divididas e não tiveram capacidade para ligar a defesa e o ataque), o eclipse quase total dos extremos (o Carrillo é o caso mais evidente de um jogador a quem uns jogos no banco fariam bem) e, por último, a exibição discreta do Montero (viu-se que o Porto se preparou bem, ainda assim na única oportunidade que teve podia ter mudado o rumo do jogo). Já o adversário não fez um jogo por aí além, mas entrou forte e soube impor-se em campo, aproveitando a inexperiência e ansiedade dos jogadores do Sporting. O Porto tem um eixo defensivo muito sólido (Mangala tem uma estampa física que mete medo a qualquer adversário, e isso é algo que falta ao Sporting), dois laterais de grande qualidade (Danilo fez um golo e Alex Sandro arrancou um penálti), um meio-campo comandado por Lucho, um dos melhores jogadores a actuar em Portugal, e um ataque com um Jackson que, mesmo não marcando, deu muito trabalho à defesa do Sporting.

    No que diz respeito às incidências fora de campo há também algumas coisas que devem ser faladas. A começar pelo triste ataque levado a cabo pelos chamados casuals do Sporting (muitos deles com ligações à extrema-direita e cuja finalidade é, dizem eles, “defender a honra” do clube, também conhecido como “partir tudo”), que presenciei e que, para além de ter varrido tudo, desde pessoas inocentes ao material dos pequenos comerciantes que por lá se encontravam, incendiou os ânimos e colocou indirectamente em perigo os sportinguistas, dando motivos aos adeptos rivais para se virarem contra nós. Mas, tirando este inovador e condenável episódio, tudo o resto nada teve de surpreendente. O clima de intimidação continua a ser lei no Dragão, e não raras vezes com a conivência dos seguranças e até da polícia (a mesma que há uns anos informou Pinto da Costa que ele iria ser detido, dando-lhe tempo de fugir para Espanha). Para além daquilo que figura no comunicado lançado ontem pelo Sporting (e que ninguém que conheça minimamente o futebol português terá grandes reservas em aceitar como verdadeiro), no domingo foi possível observar vários comportamentos discriminatórios por parte das chamadas “forças de segurança”: as claques chegaram, para não variar, já com o jogo a decorrer, quando teria sido perfeitamente possível fazê-las entrar antes do início da partida (em Alvalade, aliás, os sportinguistas são obrigados a parar para deixar entrar as claques do Porto e do Benfica), os seguranças arrancaram, numa atitude deplorável, uma faixa do nosso sector (faixa essa que dizia apenas “metam-nos sob tensão, cansem-nos”), numa manobra de diversão para permitir o roubo de uma bandeira por parte de adeptos de uma claque do Porto. Já uma faixa presente numa das centrais do estádio, com a simpática inscrição “ides sofrer que nem cães”, permaneceu o jogo inteiro no local sem que ninguém a retirasse. Para além de tudo isto, os cartazes de gozo ao Rui Patrício denotam, como se diz e muito bem no comunicado do Sporting, uma enorme “mesquinhez regional”, ao mesmo tempo em que patenteiam a grande qualidade do guarda-redes do Sporting.

    A promiscuidade entre adeptos e "forças de segurança" no Dragão continua a ser evidente titulo: pouco futebol e muita intimidação no antro da corrupção / Fonte: Fórum SCP
    A promiscuidade entre adeptos e “forças de segurança” no Dragão continua a ser evidente / Fonte: Fórum SCP

    Ainda num campo extra-desportivo, tem-se falado bastante das faixas mostradas pelos Super Dragões, que como é óbvio não perderam a oportunidade de gozar com o facto de o Sporting não ir à Europa. É normal que o façam e que tenham material de sobra para explorar, uma vez que o Sporting actualmente é um alvo fácil. Mas destaco aqui, em jeito de conclusão, uma frase concreta, que apontava para o facto de termos 5 títulos em 43 anos e perguntava “é esta a força brutal?”. Em primeiro lugar, essa frase dá conta, de forma indirecta, do enorme valor dos adeptos sportinguistas, que continuam com a equipa apesar do parco sucesso futebolístico. E de facto, modéstia à parte, voltámos a demonstrar neste que somos mesmo os melhores adeptos de Portugal, porque o apoio foi incansável e em várias ocasiões abafou por completo o resto do estádio. Em segundo lugar, a frase mostra também a vitalidade do Sporting Clube de Portugal: não é difícil imaginar que, se fosse o Porto a estar nesta situação, o clube ou já teria acabado ou estaria a jogar para meia dúzia de espectadores. É que ser do clube que ganha tem tanto de saboroso nos bons momentos, quanto de falta de militância nos maus.

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