Sim, (ainda) podemos

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    A preparação para os Jogos Olímpicos arrancou há muito tempo, mas tomou forma palpável em Março último, quando os sub-23 portugueses enfrentaram a congénere mexicana. Nesse encontro ficou demonstrada a qualidade do grupo escolhido por Rui Jorge, assente num entrosamento tão harmónico que fazia esquecer quaisquer individualidades. O resultado (4-0) e a exibição foram de luxo. O sonho de uma medalha parecia real.

    Quatro meses depois, e com apenas um encontro de preparação disputado, tudo mudou. Muitos clubes podem ter achado piada ao jogo contra o México, mas não mais que isso. Reduzir as possibilidades de Portugal conquistar uma medalha histórica nos Jogos Olímpicos era um mal necessário perante o risco de ver um dos seus miúdos lesionar-se. Perante esta inflexibilidade, sobraram seis dos 19 jogadores que dizimaram o campeão olímpico.

    Entraram nomes que não são muito conhecidos do público em geral, outros que até são mas que entram no lote por ainda não terem encontrado colocação… Entre outros. Uma mescla que deverá ter impacto na harmonia do futebol praticado. Um grupo de individualidades, uma gerigonça entre aquilo que sobrou da permissividade dos clubes e da insistência do seleccionador, que teve margem para o fazer (Salvador Agra, Nacional).

    A seleção olímpica  Fonte: Seleções de Portugal
    A selecção olímpica
    Fonte: Seleções de Portugal

    Mas aquilo que restou pode, até, surpreender. Existe vontade e querer. As sucessivas críticas ao facto de estes não serem os 18 melhores possíveis servirá de motivação. A eles e a quem os comanda, que poderá alegar (muito subtilmente, claro está), com uma medalha ao pescoço, que fez omeletes sem ovos. E pode fazer subir, ainda mais, a sua cotação no índice de treinadores nacionais com valor.

    Passar a fase de grupos perante um grupo composto por Honduras, Argélia e uma Argentina que, apesar de ter grande tradição na competição, colocou a hipótese de não estar presente e não leva grandes nomes ao Brasil está ao alcance da qualidade dos jogadores lusos. Depois disso, ficará mais complicado, porque o grupo de Portugal se cruza com o da Alemanha e o do México (as outras selecções são Fiji e Coreia do Sul). A primeira selecção tem soluções de sobra para ter “reservas” de qualidade; a segunda é a campeã olímpica e, apesar de ter sido dominada por Portugal há uns meses atrás, os jogadores não são os mesmos e a aposta nos Jogos costuma ser forte. Caso se resista aos quartos, porém, tudo será possível, a não ser que se apanhe… O Brasil, equipa com muita qualidade e que vê nestes jogos uma oportunidade única para vencer um título há tanto tempo procurado.

    O quadro não é favorável à história, mas há que ter esperança. Afinal, há três semanas atrás estávamos a celebrar o título de campeão da Europa com uma equipa à qual muitos sentenciavam um fim próximo logo na fase de grupos. Há qualidade para isso, apesar de tudo.

    A defesa manteve-se, com a versatilidade e a inteligência de Ricardo Esgaio, e as dinâmicas já estabelecidas entre Tobias Figueiredo e Tiago Illori. Edgar Ié também transita dos sub-21 e sabe aquilo de que o treinador precisa, pelo que a nível defensivo a equipa não se ressentirá muito. E ainda há o miúdo Paulo Henrique, para as sobras (pode actuar na esquerda ou no centro da defesa).

    Vai ser assim o equipamento no Rio'2016 Fonte: Seleções de Portugal
    Vai ser assim o equipamento no Rio’2016
    Fonte: Seleções de Portugal

    No meio-campo, continua Chico Ramos, um médio com visão 360.º e uma qualidade de passe impressionante, a quem se juntam companheiros que o conhecem desde os escalões de formação do FC Porto – o aguerrido líder Tomás Podstawski e Sérgio Oliveira, que dispensa apresentações. Mantendo este meio-campo, conseguir-se-ia dar uma dinâmica e um entrosamento interessante, sobretudo se a ele se juntar Bruno Fernandes, com grande capacidade técnica e que também conhece os caprichos tácticos de Rui Jorge. André Martins e Tiago Silva também são jogadores capazes, com vocação ofensiva e qualidade técnica, e terão nos Olímpicos uma “montra” interessante, sobretudo o ex-jogador do Sporting, actualmente sem clube.

    Na frente será uma incógnita o que Mané, Paciência, e Agra poderão fazer. Os dois primeiros estão habituados à orientação do seleccionador olímpico, mas poderão não chegar nas melhores condições anímicas, enquanto que o atacante do Nacional tem na velocidade e na finalização a principal arma, mas falta saber se conseguirá dar objectividade ao seu jogo. Há ainda Sturgeon e Pité, alternativas viáveis ao melhor jogo de Mané ou Agra, nas alas: Sturgeon pelo traquejo de selecção, Pité pela capacidade técnica.

    Esta selecção não é tão má como se tem feito parecer. Podia ser melhor? Claramente, e Rui Jorge, faça o que fizer, tem uma discussão ganha frente à Federação Portuguesa de Futebol e clubes (pela intransigência). Mas pode haver esperança. Porque não há pressão e há 18 pares de luvas brancas prontas para se erguer em direcção aos críticos.

    Foto de Capa: Seleções de Portugal

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