O processo é o meio pelo qual chegamos ao resultado. O conjunto de princípios que nos aproximam, ou não, dos resultados. O processo é a nossa forma de percorrer. O caminho. O resultado é apenas o fim. Mas é tudo ao mesmo tempo, porque no futebol – como em qualquer outra modalidade – o que conta é o fim. Mas a que escala devemos olhar? Há mais razões de sobressalto num jogo com processo e sem resultado ou sem processo e com resultado? Dir-me-ão os mais precipitados que, se houve resultado, está tudo bem. Resultado é o fim. Mas, a menos que se trate de uma final ou do último jogo da temporada, há mais resultados para conquistar. E quem apresenta o processo está mais perto de conseguir os próximos resultados do que o contrário. Pela regra básica que nos diz que quem joga bem está mais perto de vencer do que quem joga mal.
Por isso disse a uns amigos sportinguistas, no final do jogo, que preferi o empate com o Paços a esta vitória sobre o Setúbal.
Disse-o porque considero que dificilmente o Sporting perderá o terceiro lugar ou chegará ao segundo – o que me leva a relativizar a importância do resultado naquele contexto. Mas disse, sobretudo, porque frente ao Paços vi princípios que já há algum tempo tinham desaparecido do conjunto de Alvalade: pressão alta, extremos por dentro, intensidade na procura, etc. Vi, no fundo, um processo capaz de nos conduzir a mais resultados. Hoje, o Sporting voltou a ser uma equipa descaracterizada. De elementos demasiado distantes, de jogo exterior forçado até à exaustão, de bola longa enquanto resultado da falta de linhas de passe próximas. Vi um processo aleatório que gerará, no meu entender, resultados aleatórios.
O Vit. Setúbal é um conjunto muito inferior ao Sporting. O recente histórico desfavorável dos leões em Setúbal não pode ajudar a menorizar a diferença entre as equipas. Posto isto, não é normal ver nos primeiros 10/15 minutos de encontro a equipa de Alvalade com tantas dificuldades em impor-se no jogo devido a uma pressão forte da equipa da casa. Menos normal se torna, na segunda parte, ver o conjunto leonino a recuar linhas assim que vê a sua vantagem no marcador reduzida a um golo. Se chegou aos golos com bola e linhas subidas, porquê abdicar dos princípios que fizeram surgir a vantagem? Porquê renunciar ao que nos faz ganhar? É esta falta de processo – ou aleatoriedade de processo, se preferirem – que me preocupa.
Hoje, tudo foi demasiado cinzento embora ainda assim um pouco mais luminoso do que no adversário. Por outras palavras, o Sporting não jogou bem mas mesmo assim justificou a vitória mais do que o Setúbal. Pelo meio, Olegário Benquerença fez uma segunda parte mi-se-rá-vel ao expulsar anedoticamente Ewerton e com uma mão cheia de intervenções erradas que retiraram ao Sporting a possibilidade de terminar mais cedo o encontro. Ainda assim, há um mundo de distância entre este Sporting e aquele que, a certa altura, entusiasmou a massa associativa. O mesmo que merecia ter passado a fase de grupos da Liga dos Campeões, que eliminou o Porto da Taça de Portugal ou que em nada ficava a dever – antes pelo contrário! – ao Benfica. E é esse que peço de volta ao Marco Silva. Porque gostava do processo? Não! Pelos resultados que gerava e poderia vir a gerar; que não há mais resultadista do que eu.
A Figura
Suk – Num jogo de poucos destaques, o avançado asiático do Vitória apontou um golaço e provou que foi uma excelente aquisição por parte da equipa sadina. Forte fisicamente, tem potencial para crescer e vir a jogar num colectivo que lhe proporcione algo mais do que esta equipa o faz.
O Fora de Jogo
Olegário Benquerença – Se ainda não viste o lance que origina o segundo amarelo de Ewerton, vai ver. Quando vires, entendes que não preciso de justificar esta escolha.
Foto de capa: FPF