Depois de imensas críticas aquando dos Mundiais de Innsbruck 2018 por não contemplar qualquer atleta feminina na sua convocatória, a Federação Portuguesa de Ciclismo arrepiou caminho e anunciou a criação do cargo de selecionadora nacional de ciclismo feminino, escolhendo para o cargo Ana Rita Vigário.
O ciclismo feminino tem vindo a crescer bastante em terras lusitanas nos anos mais recentes e teve em 2018 um recorde de três atletas em equipas UCI, com especial destaque para Maria Martins que, com apenas 19 anos, apresenta potencial para chegar à elite da modalidade.

Fonte: José Baptista / Portuguese Cycling Magazine
Mas também internamente há uma renovada vivacidade, com ciclistas como Marta Branca ou Liliana Jesus a mostrarem melhorias constantes, o calendário a ser cada vez mais alargado e, também importante, a haver cada vez maior interesse nesta vertente no passado tantas vezes esquecida do desporto.
Ana Rita Vigário é uma pioneira do ciclismo nacional, sendo durante anos a mais conhecida ciclista nacional a par de Celina Carpinteiro. No BTT foi campeã nacional de Cross-Country em 2010, mas é na estrada que o seu currículo mais impressiona. Nos Campeonatos Nacionais ficou sempre à porta e, entre contrarrelógio e prova de fundo, conquistou 15 (!) medalhas, mas nunca a de ouro. Em 2009 participou na Grande Boucle Féminine (o entretanto extinto Tour de France Feminino) e terminou agora carreira. Aos 41 anos, tem também como vantagem para exercer da melhor forma o novo cargo a sua formação em Psicologia.
Os planos para já anunciados passam por continuar a investir no desenvolvimento das camadas jovens, criando mais momentos de concentração das atletas para preparação e também a participação em provas espanholas para dar maior ritmo competitivo às atletas nacionais, respondendo a algumas reivindicações a que já aqui tínhamos dado voz. Adicionalmente, também garantiu que se pretende ver Portugal representado nas provas femininas dos Europeus e Mundiais.

Fonte: Federação Portuguesa de Ciclismo
Em suma, trata-se de um bom sinal dado pela Federação e que esperemos que possa dar frutos. Tem sido feito um esforço nos últimos anos para alavancar o ciclismo feminino e, por isso, certas decisões como a não convocaria de atletas para os Mundiais pareciam um passo atrás na estratégia que a própria Federação estava a por em prática.
Felizmente, esta mostrou estar atenta e aproveitou as críticas que lhe foram dirigidas para melhorar e corrigir o que faltava à ciclismo português. E a escolha para o cargo também merece consenso, já que se trata de alguém com enorme experiência e que conhece o ciclismo feminino nacional como muito poucos.
Foto de Capa: Diogo Almeida / Associação de Ciclismo do Minho