Santo Gaal

Na conferência de imprensa que antecedia o encontro frente ao Sunderland (relativo à segunda jornada, há cerca de uma semana), questionado sobre as hipóteses de o “seu” Manchester United poder conquistar a Premier League deste ano, Louis Van Gaal, num registo surpreendente, disse que seria preciso um milagre para que isso se verificasse.

Uma afirmação, no mínimo, polémica. Não só pelo passado recente da competição, que se pauta pela hegemonia dos red devils (venceram 13 ligas inglesas nas últimas 21 edições) e pelo peso histórico da camisola do Manchester United, mas também pelo dinheiro gasto nas contratações até então feitas – Luke Shaw chegou por 30 milhões de euros, Ander Herrera por 36 e Marcos Rojo por 16 –, pelo “desafogo” que constitui a ausência de jogos relativos às competições europeias (emocional e fisicamente sempre desgastantes), pela qualidade que já habitava em Old Trafford antes de o holandês assumir o comando técnico (Rooney, Van Persie e Juan Mata são os exemplos maiores) e por uma pré-época que fez sonhar os adeptos (o United venceu a International Champions Cup, onde se destacou a derrota imposta por 3-1 ao Real Madrid), que fazia antever um United em ruptura completa com aquele que se apresentou no ano passado.

É certo que o jogo inaugural, com o Swansea, tinha deixado péssimas indicações, com a equipa a apresentar-se completamente desprovida de personalidade, cometendo inúmeros erros, sobretudo nas transições ofensivas. Mas esse foi um problema que também assistiu, por exemplo, a Arsenal e Liverpool e que normalmente assola as equipas grandes, mormente aquelas que são submetidas a alterações tácticas significativas. O United encaixa-se neste padrão, e caso não se vencesse os compromissos seguintes, isso deveria ser encarado com relativa tranquilidade, até porque certamente os processos, semana após semana, deveriam ser adquiridos com maior ou menor dificuldade.

Para além disto, Van Gaal sabe como se pode relativizar os maus inícios de campeonato, porque ele próprio, enquanto comandante do Bayern Munique rumo ao topo da hierarquia do futebol europeu, teve dois começos de época desastrosos. O último originou o seu despedimento por divergências com Rummenigge, mas o primeiro foi apenas a tempestade antes de uma bonança generosíssima: uma Bundesliga e a final da Champions, perdida para o Inter de Mourinho.

O United ainda não melhorou os processos de jogo relativamente ao encontro com o Swansea e continua a praticar um futebol arrastado, desprovido de alegria e que parece sobreviver dos rasgos de genialidade de Wayne Rooney, ao mesmo tempo que grita por outro agitador. Não o teve em Di María (que chegou, entretanto, por 70 milhões) no jogo com o Burnley…

…ainda. Porque o argentino tem um poder: o de criar o caos na tranquilidade táctica imposta pelos contrários, de virar qualquer jogo “amorfo” num festival de bom futebol, arrastando a equipa consigo, sobretudo se partir do meio, lugar que Van Gaal aparentemente lhe reservou.

Se não for ele, será Juan Mata, vindo do meio ou da ala, a trazer consigo o meio-campo ao encontro de uma frente de ataque que terá dois dos melhores avançados do mundo, Wayne Rooney e… Radamel Falcao.

Falcao poderá ser o ‘milagre’ de Van Gaal Fonte: Getty Images
Será Falcao o ‘milagre’ de Van Gaal?
Fonte: Getty Images

Assim, num 3x1x4x2, com Mata e Dí Maria a transportar e a agitar o jogo (poderão perfeitamente “furar” pelo meio, ou dirigir-se às alas procurando o jogo aéreo dos seus companheiros), para aquela que será, teoricamente, uma das melhores duplas de ataque deste século (Rooney atrás de Falcao) e com o auxílio de alas rápidos (Ashley Young e talvez Luke Shaw possam desempenhar esse papel), não será preciso um milagre para que o United marque muitos golos de forma regular.

Ora, o objectivo do futebol é esse mesmo. E quantos mais se marcarem mais hipóteses se tem de ganhar. Posto isto, teoricamente é facilmente concebível que o United possa vir a vencer muitos encontros. Vencendo-os, torna-se possível, de facto, vencer a Premier League… sem ser preciso milagres.

Poderá alegar-se falta de sinergia e entrosamento, tal como se verificou com o Chelsea no ano passado (conforme afirmei no meu espaço de opinião do Bola na Rede, em Maio último), completamente sem critério no seu processo ofensivo, mas os blues não tinham a qualidade de que dispõe o United.

Entendo que Van Gaal queria sacudir a pressão que tem sobre os seus ombros para os dos colegas, mas, perante uma declaração tão descabida, não creio que tenha saído a ganhar no pontapé de saída dos mind games 2014/2015 da Premier League e acredito que, se lhe perguntarem sobre as hipóteses dos red devils, a sua resposta será diferente (Falcao ou Angel Di Maria podem ser os seus “milagres”. O United só não será candidato ao título por incompetência técnica – do treinador ou de dois ou mais jogadores decisivos).

Vencê-lo é outra história, mas o treinador de um candidato a um título jamais conceberá como miraculosa a sua conquista… a menos que queira ter a legitimidade (no seu estranho mundo) de se auto-proclamar “santo”.

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Pedro Machado
Pedro Machado
Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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