Não conheço ninguém com tanto medo de um animal que subsiste apenas na psique humana como os sportinguistas. Perdoem-me a sinceridade, mas restava uma espinha a arranhar a minha garganta e pretendia, ao máximo, expulsá-la. A sensação, como bem devem saber, é de puro desespero. Refiro-me, claro está, à efígie de um dragão. Não conheço os contornos de toda este processo de bater o dente – que creio ter início aquando da eleição de Jorge Nuno Pinto da Costa – mas considero-o disparatado.
Em pouco mais de duas dezenas de anos, sempre que recordo as visitas do Sporting CP ao Estádio do Dragão, duas locuções assombram, de imediato, o meu pensamento: o pânico sentido aquando do pisar do relvado e o semblante de intranquilidade erigido pela maioria dos jogadores que envergaram a listada verde e branca. As razões variam consoante os múltiplos intervenientes no espetáculo. Rememorar as principais peripécias ocorridas quer no Estádio das Antas quer no reduto atual do FC Porto seria monótono, não concordam?
Contudo, na temporada transata, atestei a veracidade da expressão “mudança de chip”. Apesar da divisão de pontos, a equipa do Sporting CP portou-se como isso mesmo: um grupo transformado numa individualidade, uma extensão corporal do apoio oriundo das bancadas, uma família que quer assegurar as melhores condições vitais para os seus. Onde ia um, iam todos. Para onde quer que fosse. E, embora participasse numa das páginas mais negras do futebol português, saiu como já não saía há algum tempo: de cabeça erguida.
O Clássico sinaliza o terceiro assalto dos 34 que compõem a prova. Por essa razão, trago cinco histórias já conhecidas e exemplos sintomáticos daquilo que um Sporting CP unido e combativo pode urdir no reduto de um dos maiores rivais.