Durante a época de 90 habituei-me a ouvir a expressão de que o Sporting nunca chegava ao Natal. Nessa altura, por demérito próprio ou por culpa “dourada”, o clube de Alvalade chegava a esta altura arredado da luta pelo campeonato, muitas vezes eliminado da Taça e também fora da Europa.
É certo e sabido que esta época não está a correr de acordo com os objectivos predefinidos por Bruno de Carvalho e equipa técnica; a diferença para o líder do campeonato é substancial e, pior ainda, o futebol apresentando é de uma irregularidade gritante.
O jovem presidente do Sporting encontra-se talvez a viver o pior período da sua ainda curta estada à frente do seu clube do coração. No entanto, muitos destes problemas são criados fora da esfera leonina, na cabeça de alguns jornalistas e de pseudo-bloggers que se julgam o supra-sumo da sapiência.
Como disse no início deste texto, cresci numa altura de enorme jejum, de 18 anos sem qualquer título de campeão, e ainda assim todos os dias o meu amor por este clube cresceu, se tornou mais forte e diferente da maioria dos meus amigos e colegas de escola. E é este amor que me faz acreditar que esta fase são apenas “dores de crescimento”.
Sou apoiante de Marco Silva, acho que é um treinador acima da média e que o seu talento aproxima-se do topo europeu. Acima de tudo, admiro a sua convicção em jogar aberto e ao ataque, ainda que sofra dissabores criados por esta mesma filosofia. A capacidade para potenciar os talentos de Carrillo ou João Mário também deve ser aclamada, sendo que o peruano poderá render num futuro próximo muito dinheiro aos necessitados cofres do Sporting.
Carrillo tem tido a sua melhor época desde que chegou a Alvaldade em 2011.
Foto: Facebook Oficial do Sporting Clube de Portugal.
No reverso da medalha existem jogadores que estão numa forma paupérrima e cujo fraco desempenho condiciona a equipa. O exemplo mais flagrante será o de William Carvalho. O jovem teve uma época de estreia a roçar a perfeição, no entanto, nesta época tem vindo a oscilar entre o bom e o péssimo. Posto isto, não se entende a parca aposta em Uri Rosell. O médio, formado no Barcelona, tem uma boa visão de jogo e qualidade de passe, devendo por isso ser aposta em jogos contra adversários mais acessíveis.
O esquema de 4-4-2, utilizado em alguns jogos, não está a ser potencializado ao máximo pelo treinador português. Creio que para usar esta táctica, Marco Silva deveria usar Rosell e João Mário, em detrimento de William e Adrien. Desta forma ganhava maior criatividade na zona central do terreno e não dependeria tanto do jogo pelas linhas e dos seus extremos.
Ainda assim, há que ressalvar o facto de que o Sporting é o único clube que ainda se encontra a disputar todas as provas dentro e fora de portas. Nem tudo o que se tem passado é mau ou merece ser criticado, e há mesmo muito a valorizar.
Quem cresceu nos anos 90 habituou-se a um Sporting com pouco rumo, sem um líder, em que o clube se parecia mais com uma empresa endividada do que aquilo que um clube de futebol deveria ser. Perdeu-se em parte a chama, o amor e algum orgulho em ser diferente, em ser Sporting. A verdade é que esta direcção conseguiu trazer tudo isto de volta ao clube e o clube de volta aos seus adeptos. Nota-se que há esperança, que se compreende e se apoia a maioria das decisões, decisões essas que são debatidas por todos e não apenas por esfera reduzida de pseudo-Sportinguistas.
Os Sportinguistas precisam de dar valor ao que têm neste momento: um clube que ruma de novo para um ecletismo a larga escala, com projectos definidos e com bases sólidas. Não devemos ser os primeiros a criticar tudo e todos, não podemos deitar abaixo algo que apenas depende de nós, leões.
Neste momento, apenas peço a Marco Silva duas coisas: o apuramento para a Liga dos Campeões e a Taça de Portugal. Acho que são dois objectivos realistas, pelos quais temos de saber lutar.
Ah, e que o Pai Natal nos traga um relvado novo…
Foto de Capa: Facebook Oficial do Sporting Clube de Portugal