Inglaterra como exemplo, mais uma vez

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Entre a amostra total de adeptos do futebol nacional, são uma minoria aqueles que privilegiam as cores dos clubes da sua terra sobre as de qualquer um dos chamados três grandes. Em Coimbra encontrar-se-ão vários “sofredores” da Académica ou do União de Coimbra, em Barcelos com certeza se encontra gente exclusivamente afecta ao Gil Vicente, e em Penafiel não faltará gente com o coração exclusivamente vermelho e preto. Porém, infelizmente, não há muita gente assim, e os clubes ressentem-se, porque as assistências ao Domingo à tarde são ridiculamente baixas, principalmente para clubes como a Académica ou o Beira-Mar, que são representativos de cidades com relativo dinamismo económico, têm à volta de uma centena de milhar de habitantes (143 mil em Coimbra e 78 mil em Aveiro, segundo os Census de 2011) e dispõem de boas e abundantes (30 mil lugares disponíveis) condições de acomodação dos seus adeptos.

Na corrente temporada, ao Municipal de Coimbra foram 75 mil adeptos, metade da população da cidade (aliás, menos, porque, obviamente, há adeptos que repetem a sua presença), fazendo a taxa média de ocupação ficar-se pelos 15,94%, dados os 4741 adeptos, em média, por jogo, que acompanham os jogos da Briosa. No Municipal de Aveiro, o caso é mais grave – o estádio tem disponibilidade para acolher 30 mil adeptos mas, em média, por jogo disputado, só lá vão 661 (!!). 2,38% de taxa média de ocupação. Números, todos eles, retirados do site da Liga, organismo que, por ser fornecedor dos mesmos, terá conhecimento deles e que, apesar de ser competente para alterar esta tendência, ainda nada de efectivo fez para a alterar.

Não me conformo em ver o futebol português assim. Muito tem que mudar. E não só a Liga, com a longa batalha dos direitos televisivos, mas também os próprios clubes. Os departamentos de marketing e comunicação têm de deixar de servir de tachos para o compadrio, de forma a promover-se o futebol como fonte de emoções que mais nenhum espectáculo pode proporcionar, o preço dos bilhetes tem de baixar e as iniciativas de ida ao estádio têm de aumentar, não é difícil implementar o modelo básico da “amostra grátis” para que o consumidor experimente, primeiro, todo o ambiente e toda a adrenalina que um jogo de futebol pode proporcionar, para ficar “agarrado” e repetir a presença, mesmo tendo de pagar por essa experiência. As tesourarias, estou certo, sem ter de encomendar grandes estudos sobre o assunto, não se ressentiriam de forma grave no curto prazo, e a tendência de crescimento, com o contágio próprio que um desporto ou um clube pode ter numa localidade, seria evidente no longo prazo.

BnR Coimbra
Sexta-feira passada, no Municipal de Coimbra, 3928 pessoas assistiram ao Académica – Rio Ave. Ficaram 26072 lugares por ocupar

Assim dar-se-ia um passo rumo àquilo que se toma como exemplo e se vê nos jogos da Bundesliga ou da Premier League, com taxas de ocupação quase sempre acima dos 90% em todos os jogos da competição. Assim, a Liga e os clubes teriam margem de negociação quer perante o monopólio dos direitos televisivos detido em Portugal quer perante o emergente mercado asiático, que tão bem paga, para negociar direitos televisivos dos jogos da competição.

As mentalidades mudam-se, mesmo em povos teimosos e fiéis às preferências e à rotina estabelecida como é o português, e acredito que essa seja a via para o sucesso (quer a nível local, com a aproximação ao clube da cidade, como já se verifica, por exemplo, em Braga e, sobretudo, em Guimarães; quer a nível corporativo, com a introdução do profissionalismo nas decisões relacionadas com departamentos de marketing e comunicação e com a destruição definitiva do monopólio dos direitos das transmissões de jogos), para que daqui a uns anos haja um grupo de amigos, em Inglaterra, tão entusiasmado por assistir a um derby da Linha entre Belenenses e Estoril quanto eu estava, neste Domingo de Páscoa, para assistir ao Tyne-Wear derby entre Sunderland e Newcastle. Inglaterra como exemplo, mais uma vez.

Foto de Capa: Facebook do Sunderland

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Pedro Machado
Pedro Machado
Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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