Um camaleão maduro encontrou uma Jacinto na Costa | Portugal 3-2 Noruega

    A seleção feminina de Portugal é cada vez mais adulta. As jogadoras são cada vez mais experientes, mas o que mais impressiona é a maturidade do coletivo. Na gestão das emoções, na gestão da posse de bola, na gestão do jogo próprio e do jogo adversário. Em todos os momentos a maturidade lusitana é crescentemente notória. Com e sem bola, a seleção faz o que sabe e sabe o que faz. E sabe cada vez mais.

    Tática e estrategicamente é igualmente notório e notável o estágio de maturação das navegadoras, patente na exibição – e no resultado – frente à duas vezes campeã da Europa e uma vez campeã do Mundo Noruega. A seleção portuguesa optou, nos momentos iniciais, por um ataque posicional que parecia não ser capaz de derrubar o bloco coeso escandinavo, fechado num 4-5-1 em que escasseava o espaço para as criativas portuguesas expressarem o seu futebol. Portugal tentou colocar Andreia Jacinto e Tatiana Pinto junto a Kika Nazareth entre as linhas defensiva e média da Noruega, mas a bola não alcançava essa zona em condições de ser trabalhada.

    Exigia-se outra pele. Exigia-se um plano B. Uma seleção imatura não conseguiria, porventura, encontrar uma nova pele durante o jogo nem muito menos sentir-se confortável nela. Portugal conseguiu encontrar uma nova pele, sentir-se confortável e até ferir com letalidade a seleção adversária. Perante a incapacidade de desmontar o bloco norueguês em ataque posicional, a seleção lusitana apostou nas transições ofensivas e conseguiu, dessa forma, fazer dois golos em cinco minutos e mudar por completo o paradigma da partida.

    Os tentos de Andreia Jacinto e Carole Costa foram o epítome da mudança de pele de uma seleção cada vez mais capaz de ser camaleónica dentro de um mesmo jogo, fruto de uma maturidade individual coletiva que não existia há não muito tempo atrás. Não foi apenas uma, todavia, a mudança de pele das navegadoras. Depois do 3-2, apontado de novo por Carole Costa, Portugal vestiu a pele de uma equipa mais posicional (menos transitiva e vertiginosa), capaz de gerir o jogo e o resultado com e sem bola.

    Num só encontro, Portugal apresentou, pelo menos, três peles distintas. Todas elas tinham, no entanto, um fator comum: a maturidade e naturalidade com que a seleção as vestia e despia em resposta aos estímulos da partida. Não há dúvidas: estamos perante um camaleão bastante maduro.

    BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

    BnR: A seleção portuguesa parecia não encontrar o que pretendia em ataque posicional, perante o 4-5-1 bem coeso da Noruega, ainda que tentasse colocar três jogadoras entre as linhas defensiva e média contrárias. Começou a sair mais em transição e passou a criar mais perigo e mesmo golos. Na segunda parte, sobretudo após o 3-2, vimos menos transições e um jogo posicional mais paciente e uma gestão com bola muito grande. Esta capacidade camaleónica da seleção é um sinal de maturidade?

    Francisco Neto: Nós, os selecionadores, estamos sempre a queixar-nos que temos pouco tempo de trabalho. A grande vantagem de ir às fases finais é que nos dá tempo para trabalhar com as jogadoras. E isso permite trabalhar as nossas dinâmicas, permite-nos adaptar, permite ter esta pele mais camaleónica, como disse. O Euro 2022 e o Mundial 23 deu-nos tempo de trabalho com as jogadoras. E isso permitiu-nos aumentar e melhorar a nossa ideia de jogo, melhorar a forma como conseguimos encarar os nossos adversários. Depois, quando chegamos a estas competições é mais fácil as jogadoras irem buscar estas dinâmicas. Apesar de termos estado com alguma dificuldade quando a Noruega se ajustou para o 4-5-1, estávamos a preparar algo para mexer, mas entretanto conseguimos fazer os dois golos e já não houve essa necessidade. Mas esta equipa tem essa capacidade.

    Outras declarações: “Queremos não descer de divisão e chegar a dezembro ao jogo com a França ainda dentro da luta”.

    “Às vezes fico um bocado emocionado no banco, espero ter sido um bom exemplo”.

    “É incrível ver o número de crianças nas bancadas que se identificam com as jogadoras, que as reconhecem na rua. Isto é o criar de referências e isso cria responsabilidade”.

    “Felizmente, estamos numa instituição que nos permite crescer e até errar de forma sustentável”.

    BnR: Esta foi a terceira vez que Portugal esteve em vantagem numa partida em competições desta magnitude (vs Escócia, 2017, e vs Vietname, 2023), em 11 partidas nestes grandes palcos. E venceu os três jogos em questão, hoje perante um adversário de ainda maior peso. Este é também um sinal da maturidade que este grupo cada vez mais parece apresentar?

    Francisco Neto: Eu até vejo ao contrário, estarmos a perder e conseguirmos dar a volta. Esta equipa tem crescido imenso na forma como encara os jogos e tem crescido imenso em competição. Hoje, sofremos o golo e continuámos a querer e a fazer acontecer as coisas. Claro que os adversários do outro lado são diferentes e colocam outro tipo de problemas. Mas eu acho que o maior crescimento é a forma como as equipas hoje olham para Portugal. A França nunca tinha jogado em 4-3-3, jogou em 4-3-3 nitidamente para se encaixar no nosso losango. A Noruega é uma equipa dominadora e mesmo quando estava a perder baixou as linhas, não nos pressionou alto, deixou-nos na nossa primeira fase de construção estar mais livres.

    BnR: Foi importante para si ter feito o primeiro golo de Portugal nesta competição – e o golo que começa a reviravolta? Além disso, como sente uma jogadora este crescimento da seleção, que consegue, depois do Mundial e de perder com a França, reagir desta maneira frente à Noruega?

    Andreia Jacinto: Uma das nossas grandes fortalezas é a união. Temos isso bastante claro, somos um grupo bastante unido e nos momentos mais difíceis vamos atrás do resultado, como aconteceu hoje. Marcar o meu primeiro golo pela seleção e o primeiro golo da seleção nesta prova foi muito especial para mim, até porque, ainda por cima, foi num momento em que a equipa precisava e o sentimento de poder ajudar a nossa seleção é, sem dúvida, muito bom. Eu acho que a jogadora portuguesa tem cada vez mais confiança e acredita cada vez mais no seu valor, porque estamos ao nível ou cada vez mais perto das melhores. Creio que é muito isso, a confiança que temos em nós de que podemos fazer frente a estes adversários.

    BnR: Ao intervalo mudou a ala direita da sua equipa, mas foi a partir do lado esquerdo que a Noruega começou a criar perigo e foi mesmo pela esquerda que fez o segundo golo (o único da Noruega no segundo tempo). O que sentiu que não estava a correr bem no lado direito na primeira parte? Sente que as mudanças nesse lado funcionaram como pretendia ou continuou a faltar algo?

    Leif Gunnar Smerud: Esta equipa sempre foi mais perigosa pela esquerda, mesmo antes de ser selecionador. Queríamos criar mais perigo pela direita e foi por isso que mudámos.

    Outras declarações: Estou muito desiludido com os nossos dois primeiros resultados da Liga das Nações.

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    Márcio Francisco Paiva
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