Crise do Rio Ave FC: Surpresa ou temporada expectável?

O Rio Ave FC ocupa a décima sétima posição do campeonato, com somente cinco pontos em novo partidas disputadas.

O Rio Ave FC está a ser considerada uma das desilusões da temporada de 2023/24, em Portugal. A turma orientada por Luís Freire ocupa a penúltima posição da Primeira Liga, com somente cinco pontos, em nove partidas realizadas. Pior, somente o GD Estoril-Praia, que já trocou de técnico.

Ainda assim, já era um pouco expectável que a equipa de Vila do Conde não fosse a grande surpresa deste campeonato. As más notícias chegaram ao emblema ainda em janeiro de 2023. A FIFA proibiu a instituição de inscrever novos atletas, devido ao Caso Fabrice Olinga, decisão confirmada pelo TAD em julho de 2023. Esta sentença afetou totalmente o planeamento da época, já que Luís Freire somente poderia contar com os jogadores que estavam à disposição no momento, além de alguns cedidos.

Daí o mercado ter sido tão fraco para o lado dos Arcos, com algumas saídas, mas nenhuma de relevo. Geralmente é no verão que ficamos a conhecer os novos craques das equipas de “meio de tabela” da Liga Portugal, como Cristo González ou Maxime Dominguez. Do lado do Rio Ave não ocorreu nenhuma entrada, o que facilitou inclusivamente a tarefa dos seus adversários, porque Luís Freire não iria (nem poderia) mudar radicalmente o seu estilo e os protagonistas seriam os mesmos, nomeadamente Guga e Costinha.

Ao não poder conceber entradas no seu plantel, a direção liderada por Alexandrina Cruz viu-se obrigada a renovar contrato com jogadores em clara quebra de rendimento, como Ukra, Vítor Gomes ou Zé Manuel. Este último, até esteve cedido ao CD Nacional em 2022/23, mas com as poucas opções que Luís Freire tem, foi compreensível a sua manutenção.

O plantel é claramente o principal culpado da situação do Rio Ave. O onze base tem qualidade, mas as alternativas são curtas. A equipa tem somente 25 jogadores, o mais pequeno da Liga, a par do SL Benfica, além de em termos de valor de mercado ser muito baixo: 14,3 milhões de euros, 15º. na tabela classificativa. Ao verificarmos a média de valor de mercado dos atletas, o Rio Ave até sobe uma posição, com os seus jogadores avaliados em média em 572 mil euros, que é igualmente curto. Na média de idades, o emblema de Vila do Conde está no pódio, com um valor de 27,3 anos, somente atrás do recém-promovido SC Farense. Este número é justificado pelas renovações de elementos com mais experiência, mas que ficam curtos para uma realidade de Primeira Liga, até mesmo para a luta pela manutenção.

Dados de equipas da Liga Portugal
Dados do Rio Ave e de outras equipas da Liga Portugal. Fonte: Transfermarkt

A fraca qualidade dos elementos à disposição de Luís Freire reflete-se na perfeição no momento ofensivo. São somente nove golos marcados em nove partidas disputadas. Os melhores marcadores da equipa levam apenas dois: Costinha (que é lateral direito) e Leonardo Ruiz (este sim, ponta de lança). De resto, somente outros três jogadores conseguiram marcar golo pelo Rio Ave: Joca, Zé Manuel e André Pereira (o outro tento da equipa veio de um auto-golo). Nenhum adepto vila-condense pode ficar feliz por apenas cinco jogadores de todo o seu plantel conseguirem ter chegado ao principal objetivo de uma partida de futebol.

Uma outra razão apontada para os fracos resultados do Rio Ave é o seu treinador, que vive a sua terceira temporada no clube, podendo ser acusado de uma certa saturação. Luís Freire tem 37 anos e é considerado um elemento bastante promissor, mas praticamente nunca o vimos a cumprir três épocas no mesmo sítio, meramente no GDU Ericeirense, numa realidade completamente distinta. Duas vitórias em 12 partidas é manifestamente curto e tem sido demonstrada pouca vontade de mudar o rumo da situação.

A não existência de uma “chicotada psicológica” é estranha, porque geralmente é a primeira solução a ser tentada, muitas vezes erradamente. Para quem gosta de ver um bom futebol, é positiva a notícia de que Luís Freire está seguro, porque não pode fazer omeletes sem ovos, mas é plenamente compreensível quem não tenha esta opinião. Os adeptos não assistem a uma vitória do Rio Ave desde a primeira jornada e a paciência começa a esgotar-se.

Por fim, há que admitir que o Rio Ave tem pouca sorte. Num total, já sofreu 18 golos para o campeonato, mas oito deles foram a partir dos 80’. Enquanto os golos marcados estão dispersos pelo tempo, neste caso 44% dos tentos das turmas adversárias são no final do encontro. Isto faz-nos voltar ao plantel (porque a sorte/azar não justifica tudo), provando-se que as alternativas que entram do banco são de baixo calibre e que os titulares incapazes de aguentar os 90 minutos ao mais alto nível, algo plenamente normal, quando poucas vezes são substituídos.

Minutos em que Rio Ave sofre golos
Fonte: Footy Stats

No fundo, era impossível imaginar este Rio Ave vivendo o seu “ano zero”, porque não pode mexer no mercado. Teve que se agarrar à continuidade do que se estava a fazer, mas era facilmente conjeturável que iria correr mal: jogadores mais velhos, tática “gasta”, falta de sangue novo (algo necessário mesmo em processos a médio e longo prazo), banco de curto nível. O Rio Ave transformou-se em algo previsível, que vive uma maré de derrotas (cinco consecutivas), com a tendência a ser a manutenção deste quadro, pelo menos até janeiro.

No próximo mercado, Alexandrina Cruz e Nuno de Almeida têm a obrigação de não falhar uma peça, de modo a poder preencher o plantel com elementos que possam dividir o protagonismo da equipa, que neste momento está com Costinha e Guga, além de atletas para fazer crescer nos sub-23, algo que o Rio Ave já provou que sabe aproveitar. Há que assumir que a luta será a da manutenção, mas agir com otimismo, pois existe tempo para remediar a situação. O Rio Ave é um histórico com todas as capacidades de lutar por um top 10 na Liga Portugal, mas essa ideia transformou-se numa impossibilidade para 2023/24, logo a partir do dia 18 de janeiro de 2023.

Scouting Report de Costinha
Dados Costinha. Fonte: FBREF
Scouting Report Guga
Dados Guga. Fonte: FBREF
Ricardo João Lopes
Ricardo João Lopeshttp://www.bolanarede.pt
O Ricardo João Lopes realizou a sua formação na área da História, mas é um apaixonado pelo desporto (especialmente pelo futebol) desde criança, procurando estar sempre a par da atualidade.

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