Já não é novidade, nos dias de hoje, vermos os nossos jogadores de eleição rumar a destinos mais remotos no que toca ao desporto rei. Quase todos em final de carreira, optam pelo cifrão e o estatuto de lenda, pela despedida emocionada e as ovações das claques.
Os clubes americanos LA Galaxy e New York City FC são os campeões destas transferências de valores transcendentais. Este último conta com nomes como Andrea Pirlo, Frank Lampard e David Villa. Já por Los Angeles, as estrelas são o veterano irlandês Robbie Keane e o recém-chegado Steven Gerrard. Mas, então, o que faz estes futebolistas de sucesso enveredar por clubes quase desconhecidos?
Na minha opinião, o dinheiro não é a única razão. O denominador comum de todos estes atletas é que estão, todos eles, em final de carreira. Na barreira dos late thirties, procuram um término suave, sem grandes alaridos; fazem as últimas épocas em países cujo futebol é ainda pouco noticiado, pouco relevante, e não sentem a pressão de corresponder à carreira que carregam nas costas. As homenagens, os agradecimentos, as lágrimas na última conferência de imprensa são assim pautadas por um mútuo sentimento de nostalgia; sem a eventualidade de que essas últimas épocas, já marcadas pelo peso da idade, tenham afectado de alguma maneira a imagem do jogador.
O derradeiro exemplo é Alessandro Del Piero. O histórico atleta, recordista da azurra bem como da Juventus, rumou ao Sydney FC em 2012, depois de 19 anos ao serviço do emblema bianconero. Já depois disso, representou o Delhi Dynamos FC, da Liga Indiana. Entretanto, Del Piero terminou a carreira. Raramente foi falado na comunicação social, o fim da sua carreira quase passou em branco, e assim um histórico foi praticamente eclipsado. Mas, como já referi, talvez tenha sido essa a sua principal intenção.

Fonte: Facebook de David Beckham
Esta época, pelo mesmo motivo, Xavi fez capas de jornais. O mágico do meio-campo blaugrana rumou ao Al Sadd, do Qatar, depois de 18 anos no Barcelona. Profetizo que o fim da sua longa e fabulosa carreira não se adie por mais que uma ou duas épocas. Mas, como sempre, existem excepções à regra. E é aqui que entra David Beckham. O internacional inglês foi para os LA Galaxy em 2007, depois da era galáctica em Madrid. Ainda assim, foi emprestado por duas vezes ao Milan e, já depois do fim do contrato com os americanos, esteve uma época no PSG. É verdade que a forma não era a mesma, o nível de futebol havia decrescido e os 90 minutos já eram uma eternidade, mas Beckham terminou a carreira homenageado em Paris, em Madrid, em Manchester, e em todos os clubes que tão bem representou.
Parece, então, que esta é uma tendência cada vez mais vulgar no futebol internacional. O último caso é Didier Drogba, que, segundo a imprensa, estará também a caminho do american dream. Mas recordemos: também Eusébio, na longínqua década de 70, fechou o seu ciclo maravilhoso nos New Jersey Americans. Em 40 anos, o futebol não mudou assim tanto.
Foto de Capa: Facebook de Alessandro Del Piero