Gonçalo Pereira está na Tribuna VIP do Bola na Rede. É treinador de futebol inicia o seu espaço de opinião no nosso site em pleno Euro 2024. O técnico de 34 anos orienta o KPV da Finlândia.
Euro 2024. Haverá competição de futebol maior do que uma fase final de Seleções (seja Europeu ou Mundial), capaz de mover nações inteiras unidas pela paixão a este desporto?
Escrevo este artigo durante a final do Euro 2024, entre Espanha e Inglaterra. E faço-o porque, como Pep Guardiola referiu, “o maior erro é julgar o trabalho de um treinador pelo resultado”. O que a equipa de Luis de la Fuente apresenta em campo é um regalo para qualquer amante deste desporto e, ainda mais para mim, que faço vida como treinador de futebol. A simplicidade das ações da seleção espanhola, assentes naquilo que é o Juego de Posición, que marca a metodologia de treino espanhola, constituem aquilo que de melhor se pode ter numa equipa de futebol: identidade!
Numa altura em que se fala de um jogo de futebol com uma grande complexidade tática, tendemos a esquecer-nos daquilo que é a base do jogo de futebol: a bola. Neste sentido, a seleção do país vizinho é exímia no tratamento da mesma, não só do ponto de vista ofensivo, mas também do ponto de vista defensivo. Fiéis defensores de que quem tem mais tempo a bola está mais perto de ganhar o jogo, têm encantado o mundo do futebol neste último mês pela forma como dominam o adversário, controlando o jogo do ponto de vista ofensivo, construindo jogadas ofensivas que nos enchem o olho, testemunhadas pela estatística como melhor ataque da prova. Contudo, confesso que o que mais me fascina é o momento da transição defensiva. A alegria que demonstram no processo ofensivo, transformam-na em agressividade no momento em que perdem a bola, com uma rápida pressão sobre o portador da bola e zonas próximas, para a recuperar o mais rápido possível. Esta tem sido a melhor característica da identidade espanhola nesta competição, sendo fácil de entender que quem tem a bola está mais perto de criar oportunidades de golo, impedindo o adversário de o fazer.
Apontada por muitos como uma não favorita à vitória do Euro, tem conquistado esse estatuto por direito próprio. Relembramos, com certeza, as gloriosas seleções espanholas que já conquistaram grandes competições neste século. Assentes no desenvolvimento de um modelo de um clube (tiki taka do FC Barcelona), esta seleção parece ser mais um produto da Federação Espanhola. Composta por jogadores de diversos clubes de diversos países, onde se destacam Rodri e Lamine Yamal, tem no jogador do Manchester City um dominador dos diversos momentos do jogo de futebol, fazendo-o hoje em dia como nenhum outro jogador no mundo. Yamal esse, tem sido provavelmente o melhor jogador deste Europeu, contando inúmeras ações que nos enchem a nós, amantes deste jogo, de alegria.
A forma como mete o seu talento individual ao serviço da equipa é uma lição para todos os jogadores de futebol. Recordemos que este “menino” (completou 17 anos no dia anterior à final), tem materializado o seu talento em golos e assistências nesta competição (que golaço frente à França), carregando às costas a equipa espanhola nesta competição.
Numa competição cheia de desilusões individuais, como Mbappé de quem se esperava muito mais, e coletivos, como a seleção italiana (vencedora do último europeu), espero que a “lição” que a Espanha tem dado nesta competição seja seguida por outras seleções carregadas de talento individual, que parecem sempre esquecer-se daquilo que mais importante é numa equipa de futebol: identidade e o sacrifício do individual pelo coletivo. É possível ganhar, jogando bem!