Chegou ao fim a 137.ª edição do torneio de ténis masculino de Wimbledon. A final opôs o jovem prodígio espanhol Carlos Alcaraz (que procurava defender o título conquistado no ano passado) ao “campeoníssimo” sérvio Novak Djokovic (vencedor de 24 Grand Slams e procurando igualar o recorde de oito torneios de Wimbledon, na posse do mítico Roger Federer).
O percurso dos dois jogadores até à grande final de domingo foi radicalmente distinto.
Enquanto Alcaraz teve que ultrapassar duras batalhas (logo numa terceira ronda dificílima contra o talentoso Frances Tiafoe onde esteve a perder por dois sets a um e onde só ganhou o quarto set num tie-break, uns quartos-de-final duríssimos contra Tommy Paul ou uma meia-final diante do sempre perigoso Daniil Medvedev na qual perdeu o primeiro set, por exemplo), Djokovic teve um caminho relativamente tranquilo até à final, não tendo defrontado nenhum jogador do Top 10 mundial e onde inclusive não teve de jogar a sua partida dos quartos-de-final por desistência do australiano Alex de Minaur, por lesão.
O jogador mais cotado que Djokovic teve que enfrentar foi o dinamarquês Holger Rune, um jovem que demora a confirmar todo o seu potencial, mas Rune não é de todo um especialista em relva e foi banalizado pelo sérvio, mesmo estando longe da sua melhor forma.
Apesar da falta de competição do sérvio e de não ter sido realmente testado, previa-se que a final masculina fosse ser mais uma vez uma maratona de mais de quatro horas (como a do ano passado) e discutida num quinto set.
Pois, o que se viu na relva do All England Club foi precisamente o oposto.
Um domínio absoluto de Carlos Alcaraz nos dois primeiros sets a servir de forma imperial perante um Novak Djokovic que parecia perdido em court e sem soluções para travar o manancial de recursos do tenista espanhol.
Mas apesar das suas limitações físicas (foi operado a um joelho há sensivelmente um mês), o tenista sérvio é daqueles que nunca desiste e força sempre o seu adversário a ganhar os respectivos jogos.
Os jogos de ténis só terminam quando o árbitro diz “Game, set and match” e na final de domingo quase se deu uma improvável mudança de momentum.
Esse momento de incerteza foi criado pelo próprio Alcaraz, que com dois sets ganhos e a servir com 40-0 a 5-4 do terceiro set, deixou que os nervos tomassem conta de si, precipitou-se num ou dois pontos e isso foi o suficiente para perder o controlo dum jogo de serviço no qual chegou a ter três match points e viu o seu serviço quebrado pela primeira vez em toda a partida.
Djokovic (perito em façanhas histórias ao longo da sua carreira), tinha conseguido entrar na cabeça do seu adversário e tudo poderia acontecer a partir desse momento.
Contudo, Alcaraz soube recompor-se e levou o set a um tie-break jogado quase de forma perfeita, concluindo uma vitória em menos de 2h30 com os parciais de 6-2, 6-2 e 7-6 (4).
Por fim, Alcaraz podia respirar de alívio e celebrar o seu quarto título do Grand Slam em 4 finais jogadas, um dado absolutamente impressionante.
Ganhar Roland Garros e Wimbledon no mesmo ano está ao alcance de muito poucos (só nove tenistas o tinham conseguido até agora), pois costuma ser das transições mais difíceis de se fazer no ténis, uma vez que Roland Garros é jogado em terra batida e Wimbledon em relva, sendo as duas superfícies totalmente diferentes, assim como as respectivas condições de jogo.
Com apenas 21 anos, se as lesões o respeitarem e mantiver a sua humildade (evidente no seu discurso de vitória no qual afirmou de forma graciosa ainda não se sentir um campeão ao nível do Djokovic), o céu será o limite para o tenista murciano e certamente que se tornará ainda mais uma lenda do ténis.