42,195 quilómetros, foi esta a extensão que homens e mulheres tiveram de percorrer na maratona dos Jogos Olímpicos de Paris 2024! A Etiópia levou a melhor de forma assertiva na prova masculina, através de Tamirat Tola e na feminina, foram os Países Baixos a conquistar a medalha de ouro, com Sifan Hassan a ganhar uma corrida que só se decidiu dentro do último quilómetro
A PERSISTÊNCIA VALEU O OURO A TAMIRAT TOLA
Com 7,5 km percorrido, Shaohi Yang (China) foi o primeiro a tentar sair do grupo principal, mas a iniciativa do chinês foi inócua. Quem conseguiu ganhar alguma margem para o pelotão foi Eyob Faniel, de Itália, já com mais de 10 km percorridos e atrás eram Yang e Tebello Ramakongoana (Lesoto) quem mais se destacava, sem conseguir criar uma diferença para os demais corredores.
O pelotão sofreu um corte significativo aos 18,7 km, com um grupo de 12 fundistas a aumentar o ritmo para chegar a Faniel. Na frente do pelotão, sobressaíam Tamirat Tola (Etiópia) e Bashir Abdi (Bélgica). Nomes como Eliud Kipchoge começavam a perder o contacto, pelo que a corrida começava a ficar mesmo muito dura.
E foi nesse momento que Tola se lançou ao ataque. Abdi não teve pernas para responder à aceleração do etíope que rapidamente chegou a Eyob Faniel. No grupo dos favoritos, era Conner Mantz, dos Estados Unidos, a assumir as rédeas do grupo e seguidamente a escapar também, fazendo a ponte para o duo da frente. Na marca da meia maratona, o grupo da frente levava uma vantagem de 7 segundos para o grupo perseguidor.
O ataque de Tola não resolveu a corrida, mas, com 2 minutos de vantagem, garantiu que a vitória ia sair do grupo de 14 homens na frente. A cerca de 15 km do final, nova subida e era Akira Akasaki quem entrava na cabeça do grupo, mas o número 5 do mundo voltou a atacar e a abrir uma margem para o grupo principal. A perseguição era encabeçada por Emile Cairess, da Grã-Bretanha. Percorridos 30 km, e o homem de 32 anos que celebra 33 este domingo parecia reunir todas as condições para se sagrar campeão olímpico.
Na perseguição, Cairess estava a 15 segundos do líder e começava a destacar-se com Deresa Geleta pouco atrás a tentar garantir duas medalhas para a Europa. Mas nesse grupo ainda não existiam diferenças que garantissem medalhas e pouco depois foi mesmo Geleta a abrir um espaço para o britânico, na tentativa de garantir uma dobradinha etíope. A ele juntou-se Alphonce Simbu, da Tanzânia e o duo começou mesmo a abrir um bom espaço para os demais, mas também não conseguiram capitalizar.
Com 35 km percorridos, Tola levava 18 segundos de vantagem com Bashir Abdi, Deresa Geleta, Benson Kipruto e Akira Akasaki na perseguição direta. O japonês acabou por ficar para trás e a menos de 3 km do final, o belga lançou o seu ataque. Geleta quebrou completamente e só o queniano, número 1 mundial, conseguia dar uma resposta à distância, antes de abrir dentro do quilómetro final.
Desta forma, a Etiópia levou o ouro para casa, com Tamirat Tola a sagrar-se campeão olímpico e a conseguir um novo recorde olímpico (2 horas, 6 minutos e 26 segundos) à frente de Bashir Abdi, por 21 segundos e Benson Kipruto completa o pódio a 34 segundos. Samuel Barata foi o único português em competição, ficou no 48º lugar.
SIRAF HASSAN LEVA A MELHOR EM CORRIDA ELETRIZANTE
A maratona feminina foi uma corrida bem mais emocionante. Vomeçou de forma semelhante à masculina, com muita tranquilidade. Algumas fundistas perdiam o contacto com o pelotão e outras até já sentiam dores musculares. Foi o caso de Sinead Diver, da Austrália. Com 6,4 km percorridos, Khishigsaikhan Galbadrakh, da Mongólia, foi a primeira corredora a conseguir destacar-se do grupo principal. Á atleta mongol, juntaram-se a compatriota Munkhzaya Bayartsogt, Sardana Trofimova (do Quirguistão) e Mélody Julien (França).
A francesa acabou mesmo por ficar isolada na frente, com Trofimova em posição intermédia. Nesse momento, foi Peres Jepchirchir, campeã olímpica em Tóquio, a atacar. A queniana chegou muito rapidamente a Julien e depois foi a vez das restantes favoritas, nomeadamente as três representantes da Etiópia, Hellen Obiri ( Quénia) e Stella Chesang (Uganda). Com 13 km percorridos, a corrida estava lançada e na frente estava um grupo de 14 mulheres.
Na primeira subida do dia, Mélody Julien não baixava os braços, apesar de ser a número 237 do Mundo e destacava-se novamente. Contudo, Jessica Stenson recolou no pelotão durante a subida, passou imediatamente para a frente da francesa, foi alcançada pelo pelotão e ainda passou na frente a meia-maratona.
Dakotah Lindwurm, dos Estados Unidos, lançou-se depois ao ataque e Lonah Chemtai Salpeter, de Israel, fez a ponte para a frente, assim como Sardana Trofimova. O grupo das favoritas voltava a subir e várias mulheres começaram a sofrer, nomeadamente Sifan Hassan (Países Baixos) e Megertu Alemu (Etiópia) e a própria Salpater.
Ficavam cinco fundistas na frente. A japonesa Yoka Suzuki perdia o contacto com o grupo da frente, que passava a ser constituído por Tigst Assefa, Amane Beriso Shankule, Peres Jepchirchir e Sharon Lokedi, duas etíopes e duas quenianas, respetivamente. O ritmo baixou e várias atletas recolaram, nomeadamente Hassan e Owibi e a menos de 10 km do final, Jepchirchir perdeu o contacto e ficava praticamente certo que iríamos coroar uma nova campeã olímpica.
A 6 km do fim, Lokedi, Owibi, Shankule, Assefa e Hassan lideravam com Suzuki por perto e um sprint a cinco tornava-se uma hipótese cada vez mais realista. A menos de 2 km para o fim, Helen Owibi acelerou e Amane Shankule perdeu o contacto, pelo que Tigst Assefa era a única esperança de medalha para a Etiópia na maratona feminina. A 400 metros do fim, era Sharon Lokedi a ceder e as medalhas ficavam atribuídas, faltava saber por que ordem.
Assefa lançou o sprint, com a neerlandesa a ser a única capaz de responder e as duas quase colidiram quando Hassan ia a passar a corredora etíope pelo interior da curva. Mas Tigst Assefa não conseguiu impedir a medalha de ouro e um novo recorde olímpico (2 horas, 22 minutos e 55 segundos) para Sifan Hassan, dos Países Baixos. Helen Owibi, do Quénia, ficou com a medalha de bronze. Hassan junta, desta forma, o título olímpico na maratona aos de 5000 e 10000 metros, ganhos em Tóquio. Susana Santos foi a única portuguesa em competição e terminou no 57º lugar.