Há empates a zero que enganam. Grandes jogos, plenos de oportunidade, mas marcados pela completa ausência de eficácia. Com, até, momentos de brilhantismo. O nulo entre Estoril Praia e Gil Vicente – o primeiro jogo sem golos da Primeira Liga 24/25 – não foi um desses casos. A primeira parte foi soporífera e a segunda, com domínio acentuado dos canarinhos, mas com melhores oportunidades para os gilistas, não foi exatamente espetacular.
João Carvalho mexeu com o jogo estorilista, mas sem grande produtividade final. Guitane empolgou os adeptos da casa e puxou a equipa para a frente, mas a sua entrada deu-se nos dez minutos finais (cheira claramente a saída). Do lado gilista, houve pouco Fujimoto – como apontou Bruno Pinheiro após o jogo, teve de procurar ganhar bolas nos duelos e teve pouca bola no pé, o que não é a praia do japonês.
Na segunda parte, contra o vento, a construção do Gil Vicente a partir de Andrew – já algo deficitária no primeiro tempo – foi uma quase nulidade. A bola travava no ar e obrigava os homens de Barcelos a recuar, não conseguindo esticar na frente. A bola teria de ser jogada de pé para pé, mas faltou capacidade para jogar dentro do bloco do Estoril Praia, que esteve sempre bem compacto.
As dificuldades de uns e as dificuldades de outros levaram a uma anulação de forças e ao respetivo e natural nulo. Faltou quem desbloqueasse a partida e acordasse as bancadas do António Coimbra da Mota. No final de contas, houve mais bocejos do que sorrisos. Sinceramente, é até difícil determinar quem conquistou um ponto e quem perdeu dois. E, no fundo, pouco importa: na tabela, entra um ponto na conta do Estoril Praia e um na conta do Gil Vicente. Mas há qualidade para fazer mais e melhor.
BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
Estoril
BnR: Sobretudo na primeira parte, vimos uma alternância na pressão da sua equipa. Tanto vimos o Estoril Praia a pressionar alto e a causar erros na construção do Gil Vicente, como vimos a sua equipa a esperar pelo adversário num bloco médio. Faz parte da sua estratégia ter esta pressão alternada?
Ian Cathro: Isso faz parte do nosso processo. Temos de ter soluções diferentes para problemas diferentes. O adversário usa linhas de construção diferentes e temos sempre coisas para ajustar. Vamos continuar com a nossa ideia, mas dentro disso temos de ter alguma flexibilidade.
Gil Vicente
BnR: Hoje o Fujimoto teve um papel quase híbrido. Sem bola, era quase um segundo avançado, logo na primeira linha de pressão, com bola recuava para pegar no jogo. Acaba por sair na segunda parte para entrar o Castillo. O que pretendeu com esta mexida? Foi por aquilo que o Fujimoto não estava a dar ao jogo ou por aquilo que queria que o Castillo desse à equipa?
Bruno Pinheiro: Deveu-se ao facto de este ser um campo muito difícil. O Fujimoto não estava a conseguir ter as melhores condições para jogar. Ele para conseguir jogar tinha de disputar as bolas primeiro, tinha de ganhá-las nos duelos. Não é, de todo, o forte do Fujimoto. O forte dele é, claramente, ter espaço para ter a bola e ele aí é fantástico. O jogo não estava propício a isso, estávamos a jogar contra o vento e as bolas não chegavam lá. Entendi que com o Castillo e com o Maxime íamos estar mais altos e mais ganhadores e, se reparar, a equipa cresceu imenso com as substituições. Os jogadores que entraram trouxeram muita disputa de bola e deram-nos condições para transições ofensivas. O nosso melhor período no jogo coincide com essas entradas.
BnR: Cauê estreou-se hoje e esteve bem de costas para a baliza. O que dá Cauê à equipa que Aguirre não dá?
Bruno Pinheiro: O Cauê vai dar-nos mais profundidade e mais capacidade de choque. O Aguirre, à partida, dá-nos mais capacidade de ligação e é também um jogador muito forte na finalização, na bola parada. São jogadores que apesar de jogarem na mesma posição acabam por ter algumas semelhanças, mas têm aspetos bem diferentes um do outro.