O balanço do mercado de transferências do Benfica

Benfica

Na preparação para a época 2024/25 do Benfica, uma temporada verdadeiramente crucial para o futuro do clube, da direção e do treinador (que não chegou sequer até ao fecho do mercado no comando técnico da equipa), esperava-se um mercado de transferências que surja como indicador de saúde financeira, desportiva e que possa simbolizar a esperança de sucesso para o restante da época. Olhando para esse facto, é importante perceber em que situação se encontra o clube encarnado depois de fechado o mercado de verão. Poderá fazer-se um balanço positivo, ou nem por isso? Analisemos.

Na ressaca de uma época algo conturbada a nível desportivo, e de grande contestação por parte da massa adepta, a temporada 24/25 surge como um ano completamente crítico para o futuro do clube e para aqueles que fazem parte do mesmo. Com um treinador em linha e uma direção a lutar pelo bom parecer até às eleições de outubro de 2025, qualquer passo em falso pode ditar o fim de uma história, e as movimentações no mercado têm muito impacto nessa questão.

Roger Schmidt Benfica
Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

No que diz respeito ao lado financeiro, é seguro dizer que o Benfica teve neste verão um conjunto de meses ótimos para o balanço das contas do clube. As saídas em definitivo  de João Neves (60M+10M), David Neres (28M), Morato (11M+6M), Marcos Leonardo (40M), Paulo Bernardo (4M) e João Mário (5M) trouxeram à Luz um encaixe de cerca de 148 milhões de euros, uma verba considerável.

Como se não bastassem as receitas provenientes das vendas, os encarnados conseguiram também destacar-se positivamente no nível financeiro através das próprias contratações. Entre Leandro Barreiro (custo zero), Pavlidis (18M+2M), Jan-Niklas Beste (8M) e Akturkoglu (12M), os atletas comprados em definitivo pelas águias, avaliados num total de 72 milhões de euros, o Benfica gastou prontamente apenas 38 milhões de euros. Ao aproveitar as situações contratuais de cada um dos atletas foi possível negociar os mesmos por preços significativamente mais baixos e garantir assim as suas contratações com custos menores. Para além disso os encarnados garantiram também os empréstimos de Renato Sanches, Amdouni e Issa Kaboré, que inicialmente não representam qualquer tipo de custo, deixando as posteriores opções de compra a cargo do rendimento que poderão apresentar.

Nesse sentido, o Benfica acabou o mercado de transferências de verão com um saldo de cerca de 110 milhões de euros, no que diz respeito às movimentações efetuadas. No entanto, a positividade económica pode trazer algumas questões não tão positivas, nomeadamente a questão desportiva adjacente às movimentações e à planificação do plantel. Para além das saídas de João Neves, David Neres, Marcos Leonardo, Morato e João Mário, as águias perderam também outro dos principais protagonistas da equipa- Rafa Silva, a custo zero. Ou seja, numa questão de meses o Benfica perde assim seis atletas de grande valor que, titulares ou não, contribuíam e muito para o funcionamento do plantel.

Se por um lado foram colmatadas várias lacunas no plantel, como a posição de ponta-de-lança e as laterais, abriu-se espaço para outras potenciais lacunas. Isto porque a mudança sistemática de jogadores, época atrás de época, coloca o clube numa espécie de ciclo infindável onde o rendimento desportivo se torna um cenário longínquo para os jogadores face às constantes alterações de planeamento do clube.

É sempre estranho, e talvez preocupante, pensar na quantidade de jogadores que o clube da Luz troca ano atrás de ano, deteriorando o planeamento e rendimento desportivo em prol do rendimento financeiro. Isto porque é difícil para os jogadores a nível individual, e para a equipa a nível coletivo, lidarem com diferentes realidades a cada par de meses. Não se pode esperar o mesmo sucesso de uma equipa que troque uma quantia considerável de jogadores de uma época para a outra comparativamente a uma equipa que consegue seguir e manter-se fiel a um projeto de maior duração.

Kerem Akturcoglu Benfica Rui Costa
Fonte: Benfica

A impressão que foi sendo dada ao longo do mercado é que não existia um plano claro por parte do Benfica para o mesmo. É certo e sabido que o próprio mercado também é inconstante e surpreendente mas, ainda assim, as tardias e algo aleatórias movimentações do clube já no fecho do mercado mostram que não existe uma linha de pensamento continua a seguir propriamente. Jogadores como Pavlidis, Leandro Barreiro e Beste enquadram-se claramente num perfil e numa tipologia distinta de atletas como Renato Sanches, Amdouni ou até Akturkoglu, que se caracterizam mais pela incógnita do que pela certeza.

Essa incógnita pode revelar-se surpreendentemente positiva no futuro mas a verdade é que numa altura de instabilidade como aquela que o Benfica vai vivendo é muito arriscado apostar nessas hipóteses e não em dados aparentemente mais adquiridos.

No que diz respeito às vendas aparentou registar-se  a mesma falta de planeamento. Se o plano do clube era fazer uma grande venda com João Neves ou António Silva, como revelou Roger Schmidt, não se percebe o porquê então do clube fazer praticamente o mesmo valor, ou mais, em vendas com David Neres, Marcos Leonardo, Morato, João Mário e Paulo Bernardo, já depois de ter vendido João Neves- a esperada grande venda.

Se os casos de João Mário e David Neres podem representar uma renovação de ativos face à idade e ao salário que auferiam, os casos de Marcos Leonardo ou Morato vão contra qualquer fundamento planeável.

Marcos Leonardo que tinha sido comprado no início do ano, e perspectivado como uma aposta para o futuro, foi vendido para o Al Hilal, seis meses depois. ignorando qualquer tipo de projeto de desenvolvimento associado à sua figura. Um dado que até pode prejudicar o clube no futuro visto que o rendimento que vinha a apresentar colocavam-no num patamar cada vez mais superior, valorizando-o cada vez mais consecutivamente.

Dito isto, é difícil de perceber nesta altura se o plantel realmente mudou para melhor ou não. À primeira vista fica a impressão que se perdeu alguma qualidade ou, pelo menos, a familiaridade com ela. Só daqui a uns meses em diante é que vai ser possível tirar uma verdadeira conclusão sobre a qualidade superior ou inferior do plantel que o Benfica tem à disposição neste momento.

Ou seja, tendo tudo isto em conta, é difícil fazer um balanço totalmente positivo do mercado do Benfica. Ainda que o nível financeiro seja extremamente otimista, a vertente desportiva coloca a situação num ponto questionável e de verdadeira incógnita.

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Guilherme Terras Marques
Guilherme Terras Marques
Orgulhoso estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vê no futebol e na sua cultura uma paixão. É apenas mais um jovem ambicioso que sonha fazer do jornalismo desportivo a sua vida. Escreve com o novo acordo ortográfico

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