O (nosso) direito à indignação

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Já procurei na memória e em arquivos exteriores, mas não encontrei, em nenhum dos casos, quaisquer semelhanças com o que tem vindo a ocorrer nas últimas três semanas. O ataque institucional – pois é consumado pela pessoa que é presidente do Sporting Clube de Portugal – de que o Benfica tem sido alvo por parte de Bruno de Carvalho não tem paralelo. Talvez por essa razão – o carácter de novidade do objecto –, são poucos os agentes com responsabilidades no futebol nacional a comentarem (condenando e travando) a enxurrada de absurdos e mentiras diariamente por si promovida, seja na primeira pessoa, seja através da misteriosa e profícua fonte anónima do edifício Visconde de Alvalade.

Seria perda de tempo rebater o que foi dito – era como comentar uma conversa a dois que decorresse numa sala trancada e sem janelas, onde estivesse, apenas e só, um único maluco. A minha opinião sobre a estratégia de Bruno de Carvalho está gravada num texto anterior: o uso falacioso e imoral de situações avulso e sem ligação com o objectivo de ascender e consolidar a sua liderança, beneficiando daquilo que a posição lhe dá, ao abrigo da rivalidade clubística mais primária. Pelos vistos, e por incrível que pareça, a coisa ainda resulta: não se condenem os ingénuos e os fanatizados; a proibição do autoritarismo fascista inscrita na nossa constituição não é mera formalidade.

Este período passará, tal como outros. Bruno de Carvalho, hoje investido como Génio da Revolução do futebol português, cheio de ideias e intenções, deixará, inequivocamente, uma marca. Porém, não serei eu, nem qualquer outro benfiquista, a futuramente ter de lhe pesar as virtudes e os defeitos. Quando sair de cena – tal como quando eu próprio ou o caro leitor sairmos de cena –, o Benfica continuará a ser o Benfica. E nem com recurso a toda a bibliografia ficcional dos Grimm (pese toda a qualidade na forma que se lhes reconhece), incluindo a capuchinho vermelho e um camião a abarrotar de tretas, a verdade se modificará: um clube é um clube, um empresário é um empresário e um bicampeão é um bicampeão.

Luís Filipe Vieira legitimado para defender o nosso clube da forma correcta Fonte: Sport Lisboa e Benfica
Luís Filipe Vieira legitimado para defender o nosso clube da forma correcta
Fonte: Sport Lisboa e Benfica

Na minha última crónica, e com os dados na altura ao dispor, defendi o silêncio para o exterior (tal como fez, horas mais tarde, Luís Filipe Vieira) e, em simultâneo, uma reflexão interna, séria e transparente, sobre algumas das práticas que tanta polémica têm causado. Em democracia, haverá quem discorde: pessoalmente, caracterizo os tais vouchers e kits Eusébio como reveladores da grandeza do clube e do respeito por todos os intervenientes do jogo. Podem piratear a realidade como bem entenderem – Augusto Inácio, ex-glória do FC Porto e Sporting, consegue, por exemplo, comparar, sem se descompor, almoços e jantares com serviços de prostituição – mas esta questão diz apenas respeito ao Sport Lisboa e Benfica, ao seu todo, aos seus sócios e adeptos. Criar uma “caixa dourada” só poderá ser (mais) um contributo precioso para a promoção do produto, que se deve analisar e agradecer; essa cor, de resto, assentaria na perfeição no prestígio e memória universais do maior jogador português de todos os tempos.

Perante este ataque contínuo, o Benfica tem de ser defendido. É isso que sócios e adeptos exigem daquele que é presidente do nosso clube, eleito democrática e conscientemente (dois conceitos tão simples, que, a serem compreendidos, poupariam tempo a tanta gente!). Nos órgãos competentes, sem ruídos supérfluos, e com o devido respeito a que o seu cargo obriga. Todos terão a oportunidades de contestar o direito à indignação que nos assiste.

Um pequeno aparte: no meio do turbilhão acusatório de sentido único – que a vésperas do dérbi muitos insistem em transformar num diálogo que não aconteceu – o Benfica continua igual a si mesmo: as vitórias no voleibol, futsal, judo, basquetebol e hóquei em patins são próprias e naturais da maior potência desportiva e associativa do país. Que, no domingo, a regra se cumpra. Que continue a alegria pelas vitórias dos milhões de benfiquistas espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Foto de Capa: Sport Lisboa e Benfica

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João Amaral Santos
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O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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