Quando as individualidades resolvem jogos (e campeonatos) | Benfica

O Benfica venceu por 0-3 em casa do Vitória SC, num jogo em que o resultado não espelha o equilíbrio e a entrega dos minhotos. Vangelis Pavlidis bisou, Álvaro Carreras também marcou, mas foi Anatoliy Trubin quem manteve a baliza a zeros em noite de inspiração vimaranense… e de eficácia encarnada.

O futebol tem destas injustiças com ares de lógica. O Vitória SC fez talvez uma das melhores exibições da época, mas saiu do relvado do D. Afonso Henriques com uma derrota pesada, por números que castigam sobretudo a sua ineficácia. O Benfica, com menos bola e menos oportunidades, levou os três pontos graças a três fatores simples: Pavlidis, Carreras e Trubin.

Ora, a fechar a jornada, eis o jogo de maior destaque da mesma. Numa espécie de repetição do duelo da temporada passada, Guimarães recebeu os encarnados com uma intempérie gigante, proporcional à importância da partida para as duas equipas.

Tiago Silva Vitória SC
Fonte: Paulo Ladeira/Bola na Rede

O Benfica com a necessidade de vencer para se colar ao Sporting no topo da tabela, o Vitória SC para descolar do Santa Clara no quinto lugar.

Neste contexto, no D. Afonso Henriques e debaixo de uma autêntica tempestade que obrigou a que as linhas fossem remarcadas antes do apito inicial, Bruno Lage não fazia qualquer alteração ao onze inicial que empatou com o Arouca e mantinha Di María e Akturkoglu no apoio a Pavlidis, com Aursnes, Florentino e Kokçu no setor intermédio.

Do outro lado, Luís Freire tinha Nélson Oliveira como referência ofensiva, com Telmo Arcanjo e Gustavo Silva a caírem nos corredores e João Mendes a aparecer nas costas do avançado.

Assim que Gustavo Correia apitou para o início da partida, foi o Vitória SC quem demonstrou mais vontade de ir à procura do golo. Mais pressionantes, os conquistadores tiveram tudo para fazer golo logo no segundo minuto, mas Telmo Arcanjo desperdiçou diante de Trubin.

Anatoliy Trubin Nicolás Otamendi Fredrik Aursnes Benfica
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

O Vitória assumia, então, um 4-4-2 no momento sem bola, com João Mendes a ser o elemento diferenciador nesse quesito, uma vez que era ele quem subia para ajudar Nélson Oliveira na pressão ao portador da bola, ficando, assim, Tiago Silva e Tomás Handel no miolo.

Com bola, a equipa vimaranense procurava muito os seus extremos, tentando aproveitar as subidas dos laterais adversários e as situações de um contra um, onde tanto Telmo Arcanjo como Gustavo Silva são muito fortes, nomeadamente o primeiro mencionado, tanto, também, na procura da linha final como a fletir para o meio, até porque Carreras teve sempre muitas dificuldades para o travar. Gustavo Silva também foi bastante solicitado na procura da profundidade.

Aliás, é uma pena que uma rotura do ligamento cruzado anterior no joelho direito tenha tirado da nossa Liga o pé esquerdo de Telmo Arcanjo durante tanto tempo (44 jogos!). Calibrado de bola corrida ou parada, conduz sempre junto ou muito próximo ao pé, com um 1vs1 muito forte e com sentido de baliza. Sem a lesão, acho que já poderíamos estar a falar de um jogador de outro tipo de patamares.

Já o Benfica, sem bola, também num 4-4-2, com Fredrik Aursnes a assumir a primeira linha de pressão, juntamente com Vangelis Pavlidis, e Orkun Kokçu a baixar para a linha de quatro no meio-campo, ao lado de Florentino, pressionando o portador da bola ora um, ora outro, mediante, também, a localização do esférico.

Com bola, e mais precisamente no momento de construção, os centrais encarnados pretendiam atrair os extremos vitorianos para, depois, com bolas longas, tentarem colocar os seus extremos, Ángel Di María e Kerem Akturkoglu, em situações de um contra um com os laterais contrários, Miguel Maga e João Miguel Mendes.

Todavia, num lance quase solitário, aos 21 minutos, os encarnados desenharam a jogada que viria a fazer toda a diferença até ao intervalo. Florentino saiu bem da pressão, abriu espaço, e de repente, Kokçu apareceu a rasgar como uma faca quente em manteiga.

O remate foi travado por Varela, mas a recarga caiu nos pés de Pavlidis, que com a frieza de um cirurgião empurrou para o fundo das redes. O Vitória protestava, mas o marcador não perdoava: 0-1.

É verdade que o Benfica foi superado taticamente nos primeiros minutos, mas o lance do golo é a melhor saída de pressão da temporada encarnada. Resiste à bola direta, consegue ligar por baixo e rodar o flanco, conclui a jogada.

Pavlidis tem a movimentação perfeita em apoio e a acompanhar. Recebe de costas, segura e vira. Recebe com um pé, vira com o outro. Aparece para finalizar. Está num momento brutal!

Vangelis Pavlidis Benfica
Fonte: Paulo Ladeira/Bola na Rede

Com efeito, ter um avançado que sabe segurar, usar o corpo na proteção da bola, permitir saídas rápidas usando os dois pés e ainda aparecer a finalizar é um luxo. Pavlidis demorou a “carburar” em termos de golos, mas sempre deu muito mais ao jogo benfiquista que isso. É um ponta de lança bastante completo.

A equipa minhota sentiu o golpe durante alguns minutos, num ligeiro eclipse que permitiu ao Benfica respirar e equilibrar o jogo. Mas a alma vitoriana não se resignou. Arcanjo voltou à carga num livre traiçoeiro, desviado “in extremis” por Trubin (provavelmente a melhor defesa do guardião ucraniano desde que está no Benfica), e Nélson Oliveira tentou também a sua sorte de fora da área.

Assim sendo, Luís Freire mexeu logo ao intervalo e trocou a referência ofensiva, lançando Chucho Ramírez no lugar de Nélson Oliveira, e Bruno Lage foi forçado a mexer ainda nos primeiros minutos da segunda parte, com Di María a pedir para ser substituído após sentir uma dor na coxa e Schjelderup a entrar. 

De notar que desde a lesão que Di Maria não está ao nível que já esteve esta temporada. É normal, falta ritmo, faltam índices competitivos.  De facto, nem com bola, nem sem ela. O extremo argentino passou completamente ao lado do jogo.

Não conseguiu ligar, arriscou constantemente na construção longa e foi pouco agressivo a pressionar. Destacar, contudo, o posicionamento defensivo, num par de tentativas de ajuda a Tomás Araújo, antes de sair por lesão.

Jogadores do Benfica celebram
Fonte: Paulo Ladeira/Bola na Rede

Por outro lado, o Vitória regressou dos balneários com uma intensidade semelhante àquela com que tinha ido para o intervalo e os minutos deixavam perceber que o Benfica não iria ter qualquer problema em oferecer a iniciativa ao adversário para depois explorar um eventual contra-ataque.

Os vimaranenses beneficiaram de uma boa oportunidade para empatar, com Nuno Santos a cabecear por cima depois de um cruzamento de João Miguel Mendes na esquerda, e Bruno Lage sofreu mais uma contrariedade por nova lesão de Tomás Araújo, que foi substituído por Leandro Barreiro e motivou a ida de Aursnes para a direita da defesa.

Os encarnados mantinham o bloco baixo, sem qualquer interesse na posse de bola, apenas nas transições rápidas e na exploração do espaço que poderia aparecer nas costas da defesa contrária, enquanto os vitorianos iam insistindo.

No entanto, até foi o Benfica quem ficou muito perto de aumentar a vantagem numa dessas transições, com Schjelderup a rematar em jeito para uma boa defesa de Bruno Varela, tendo mesmo acabado mesmo por mostrar que a eficácia seria a característica mais importante do jogo.

E, aos 77 minutos, Álvaro Carreras recebeu na esquerda, passou por Miguel Maga e atirou cruzado, já com pouco ângulo, para bater Bruno Varela e tranquilizar os encarnados, num lance em que o guardião da equipa da casa podia e devia ter “fechado” melhor o poste.

Há Akturkoglu, não há Carreras. Há Carreras, não há Akturkoglu. Mas parece e tem mesmo havido sempre o lado esquerdo do Benfica, a fonte de virtude que correu com mais regularidade ao longo da época.

Benfica Bruno Lage e Carreras
Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

Continuando, Chucho Ramírez ficou perto de reduzir logo depois, com Trubin a ser novamente crucial com uma enorme intervenção, mas Pavlidis sentenciou a partida ao bisar numa recarga a um novo erro de Bruno Varela, após livre direto de Kokçu, à passagem do minuto 84.

No fundo, o jogo decidiu-se pelos pináculos das duas formações. De um lado, Trubin agigantou-se e, do outro, Bruno Varela esteve lastimável. O Vitória tem um problema na baliza que não é de hoje. Há uma variada panóplia de golos sofridos por Bruno Varela nas últimas temporadas que deixam muito a desejar.

Também na frente, enquanto Pavlidis esteve com frieza e eficácia máxima, Chucho Ramirez não deu nada equipa que Nélson Oliveira também não tenha dado, comprovando a falta de um verdadeiro “número 9”.

Isto diz muito daquilo que jogou o Vitória e daquilo que o Benfica/Bruno Lage quiseram do jogo. A vitória surge por eficácia máxima das individualidades, nada mais.

 A história do jogo resume-se assim, com um marcador que não conta tudo, mas conta o que importa e o essencial: os golos.

O Benfica venceu, assim, o Vitória SC, no D. Afonso Henriques, por 0-3, voltou aos triunfos e igualou novamente o Sporting na liderança do Campeonato, ambos com 72 pontos.

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Raul Saraiva
Raul Saraiva
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