O fim (?) da história de amor entre Imanol Alguacil e a Real Sociedad

Imanol Alguacil anunciou à direção da Real Sociedad que não iria prosseguir no comando técnico do plantel principal, algo confirmado em abril de 2025, mês marcado por eventos negativos, como um apagão que afetou a Península Ibérica ou as mortes de Aurélio Pereira e do Papa Francisco.

A saída do treinador da equipa do seu coração gerou poucos sorrisos e a última jornada da presente edição da La Liga contará com lágrimas, independentemente do resultado que a Real Sociedad obtenha contra o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, no dia 25 de maio. Não falamos de um nome qualquer na história do emblema do País Basco, mas sim do melhor técnico do clube na sua era moderna.

Após ter vestido a camisola azul e branca durante grande parte dos anos 90, onde foi considerado um jogador importante, Imanol Aguacil realizou toda a sua carreira de treinador, até ao momento, no Anoeta, começando pelos escalões de formação e merecendo uma oportunidade em definitivo na equipa principal em 2018/19, depois de uma passagem como interino na temporada anterior. São poucos os técnicos que conseguem manter-se tanto tempo num cargo, sempre longe do risco de serem demitidos, ao mesmo tempo em que são amados pelos adeptos. Afinal, Alguacil era e continua a ser um deles. Quem não se recorda do emotivo discurso do antigo defesa após a conquista da Taça do Rei 2019/20, apresentando-se na conferência de imprensa com uma camisola e um cachecol, representando os milhares de aficionados que festejaram a conquista histórica do emblema (e que não puderam estar presentes no estádio)?

Imanol Alguacil representa na perfeição o que é a Real Sociedad enquanto clube e como projeto desportivo, sendo que nos últimos anos foi a base do mesmo. Em termos de resultados, os txuri-urdin conquistaram ‘apenas’ a Taça do Rei, mas passaram a ser um dos principais candidatos à qualificação para os lugares europeus, inclusivamente para os da Champions League. 2024/25 está a ser considerada uma época abaixo do esperado, mas a equipa encontra-se na décima posição da La Liga, com 42 pontos, a apenas dois do oitavo posto, que dá acesso à Conference League, ou a quatro pontos da sétima posição, que oferece uma vaga na Europa League. Em outros tempos, pré-Imanol Alguacil, este décimo lugar seria encarado com relativa satisfação e normalidade.

A Real Sociedad também conseguiu chegar às meias finais da Taça do Rei, onde somente foi eliminado pelo Real Madrid, com uma eliminatória a terminar com um 5-4 que marcou a competição. Com estes resultados, o timoneiro jamais seria demitido por Jokin Aperribay, mas existiram outros fatores que influenciaram a escolha do treinador em colocar um ponto final numa relação tão duradoura.

A verdade é que o futebol dos bascos não foi o mais atraente nos últimos meses, com poucos golos marcados, o que evidenciou por demais um problema ofensivo, que já era recorrente nas últimas épocas. O bom desempenho defensivo não é suficiente para qualquer clube vencer os seus encontros. Possivelmente o plantel também não era o mais adequado para as ideias do treinador. Plantel este que foi vindo a sua qualidade baixar nos últimos anos, refira-se.

A imprensa espanhola aponta ao facto de que a mensagem de Imanol Alguacil já não teria a mesma força de outrora, como uma outra justificação para o término da relação, já que a equipa foi-se alterando com o passar das temporadas e os jogadores que foram desenvolvidos pelo técnico acabavam por sair, dando lugar a novos elementos, que não tinham sido trabalhados pelo próprio numa idade jovem. Não nos podemos esquecer que nomes como Mikel Oyarzabal, Martín Zubimendi, Aritz Elustondo ou Álvaro Odriozola estiveram como Imanol Alguacil na equipa B da Real Sociedad. Outros como Andoni Gorosabel ou Robin Le Normand foram promovidos por esta equipa técnica, com o treinador a dar-lhes a grande oportunidade no conjunto principal. Orri Oskársson, Luka Sucic ou Javi López não passaram por esta experiência, por isso o sentimento não pode ser o mesmo e é algo compreensível. Imanol Alguacil já não é o herói da maioria, mas somente um bom treinador que seguramente lhes ensinará boas práticas a um nível diário. Contudo, isto não chega.

Imanol Alguacil desejou cortar esta relação antes que a mesma se começasse a esgotar, já que a possibilidade dar a volta a esta situação na próxima época seria algo complicado e os assobios oriundos da bancada seguramente começariam a aparecer, já que qualquer adepto quer vencer todos os jogos. O técnico não queria passar pela angústia de ver os próprios aficionados do clube do coração a criticarem ferozmente o seu trabalho. Daí a decisão ser algo compreensível. O treinador sentiu o final de ciclo a chegar e teve a hombridade de não querer ser um problema, evitando uma renovação de contrato que não fazia grande sentido aos seus olhos (por muito que fosse demitido a meio do vínculo, não é credível que o mesmo pedisse qualquer tipo de indeminização).

A Real Sociedad prepara-se assim para viver um novo ciclo. Roberto Olabe, diretor desportivo, também vai deixar a equipa no final da temporada, depois de vários anos de sucesso, com a sua famosa política 60/40. Os espanhóis acautelaram-se rapidamente das duas saídas. Erik Bretos foi anunciado como novo líder do projeto ainda em novembro de 2024, deixando a liderança da equipa de scouting.

Para o lugar de treinador, a Real Sociedad seguiu a mesma receita e apostou num nome interno. Sergio Francisco foi o eleito, deixando a equipa B (quarto classificado do Grupo A da Primera RFEF), para finalizar a La Liga ao lado de Imanol Alguacil, de maneira a que os jogadores se habituem ao novo rosto que os vai liderar nas próximas temporadas (idealmente). Jokin Aperribay e Erik Bretos não se poderão esquecer que Sergio Francisco, por muito potencial e conhecimento da estrutura que tenha, não é Imanol Alguacil e tem ainda um trajeto a percorrer, podendo acabar por ganhar a confiança do balneário e ser o herói dos futuros craques que passarão pelo Anoeta. No entanto, este cenário é algo que terá que ser visto a longo prazo.

Imanol Alguacil tampouco conquistou o coração de toda a gente na sua primeira época. Foi uma questão de tempo, de personalidade e de atitude. O que é certo é que construiu uma relação como poucas no mundo do futebol e isso ficará marcado como um exemplo para muitos. Tal como a sua forma de sair será igualmente recordada.

O futuro do técnico é uma incógnita. Poucos o conseguem ver com outro fato de treino vestido e é possível que Imanol Alguacil fique de fora durante um tempo, embora esta semana já tenha sido associado ao Bayer Leverkusen. No ano passado assistimos a um caso com tremendas semelhanças (mas igualmente com diferenças de destaque) como o de Jagoba Arrasate, que não contou com qualquer problema em assumir o Mallorca em 2025/26, após deixar o Osasuna em lágrimas.

Menos complicado é prever um regresso de Imanol Alguacil ao Anoeta no futuro, seja como treinador ou mesmo para integrar a estrutura. A história moderna dos txuri-urdin confunde-se com o seu nome e o sentimento de gratidão estará sempre presente. Certo é que num momento em que a Real Sociedad estiver a necessitar de ajuda, o treinador vai ser o primeiro soldado a alistar-se para poder ajudar no que for preciso. E esta atitude no futebol, é cada vez mais rara.

Após a última jornada da presente edição da La Liga, Imanol Alguacil já vai poder ser como os outros adeptos e sentar-se nas bancadas do Anoeta a entoar cânticos de apoio à equipa, sem a responsabilidade de a ter que orientar, nem o sentimento de culpa de que não a está a conseguir guiar ao caminho correto.

Ricardo João Lopes
Ricardo João Lopeshttp://www.bolanarede.pt
O Ricardo João Lopes realizou a sua formação na área da História, mas é um apaixonado pelo desporto (especialmente pelo futebol) desde criança, procurando estar sempre a par da atualidade.

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