Há algo profundamente errado com o FC Porto de 2024/25. Um clube que já foi sinónimo de garra, ambição e hegemonia nacional, tornou-se um reflexo cansado de glórias passadas, preso num labirinto de decisões erradas, treinadores interinos e uma política desportiva sem rumo.
Ser portista, esta época, foi questionar o amor ao clube, mas, acima de tudo, ao futebol. Foi questionar a vontade de vencer, sentir-se triste pela partida do que fez tanto por se tornar um dos três grandes, e desejar, quase religiosamente, por dias melhores que nunca vieram.
A restruturação é dura. Que o digam os dois primeiros lugares, que por lá já andaram também. Mas perder a essência? Isso é algo que dificilmente se esquecerá, tatuado na alma de quem viu o seu clube suar, por quase nada.
Comecemos pelos números, que raramente mentem. Em 34 jogos disputados, foram 22 vitórias, cinco empates e sete derrotas. Cada uma a doer mais do que a outra. 71 pontos e um terceiro lugar disputado quase até à última jornada. Ficou para trás dos rivais que em anos anteriores seriam vistos como meros obstáculos.
As vitórias souberam a pouco, de quem está tão habituado à glória. Mas a esperança foi a última a morrer.
O ataque, que outrora fazia tremer defesas por toda a Europa, limitou-se a 65 golos – pouco menos de dois por jogo, um registo mediano para um clube com aspirações claras ao título.
E a defesa? Sofreu 30 golos, o que nem é catastrófico, mas também não compensa a anemia ofensiva.

Mas se os números são frios, a realidade em campo é ainda mais gélida. A saída de figuras carismáticas como Pepe, que encerrou a carreira (e que se voltasse em janeiro, toda a gente agradecia), e Taremi, transferido para o Inter, não foi compensada por nenhuma contratação de peso.
O clube virou-se para dentro, “contratando” na formação como se o Olival fosse uma mina de ouro infindável. E embora nomes como Martim Fernandes, Rodrigo Mora e Vasco Sousa revelem bastante talento, não se pode esperar que adolescentes carreguem o peso de um dragão adormecido.
A ideia era boa. A concretização nem tanto. O comando técnico foi um autêntico carrossel. Vítor Bruno, promovido por lealdade e não por mérito, apostou numa construção curta desde trás. Escusado será dizer que mais pareceu um suicídio futebolístico em jogos de alta intensidade.
E, quando a adesão ao estádio se revelou fatídica, Martín Anselmi chegou como um salvador, num discurso de esperança e luz para os dias cinzentos que os azuis e brancos viviam.

Perdoem-me a transparência e crueldade, mas ainda não mostrou muito mais do que discursos motivacionais e repetitivos, que tentam atingir um adepto furioso e apaziguar a mágoa, mas que nada mais fazem do que atiçar o fogo.
O único farol num mar de desespero foi Samu Aghehowa, autor de 25 golos. Mas num plantel do FC Porto, depender tanto de um único nome roça o amadorismo de que nunca foi detentor.
Ah! Também temos o Rodrigo Mora, que tem mais jogos que idade. E não vamos fingir que Francisco Moura, o melhor assistente com nove passes decisivos, é suficiente para mascarar a falta de ideias no meio-campo.
Fora da Liga, a história é a mesma. Eliminados precocemente da Taça de Portugal. Taça da Liga? Pararam nas meias. Na Europa, nem se fala: caíram no playoff da Liga Europa, algo que há dez anos teria sido motivo de crise institucional.
A verdade nua e crua? O FC Porto está em coma futebolístico e o dragão foi descamado. Vive de recordações e títulos antigos, enquanto a atual direção parece acreditar que basta vestir de azul e branco para intimidar os adversários.
Mas o futebol moderno exige mais, exige planeamento, ideias e coragem.
O dragão não está apenas a dormir. Está a agonizar sob o peso da sua própria história. E se nada mudar rapidamente, o futuro será cada vez mais parecido com este presente: frustrante, sem brilho e profundamente indigno da camisola que transporta, e este não é o FC Porto.