O Mirandés e um milagre que esteve a minutos de acontecer

O Mirandés foi um dos protagonistas do futebol espanhol na temporada que terminou recentemente. O emblema de Miranda del Ebro, está longe de ser o mais conhecido ou o conjunto com mais história, mas conseguiu captar a atenção ao longo das semanas que iam passando, transformando o Anduva num dos pontos centrais do desporto rei no nosso país vizinho.

Em 2023/24, os jabatos acabavam uma época algo descredibilizados, depois de apenas conseguirem a manutenção na La Liga 2 na última jornada, numa batalha contra o Amorebieta (que se está a afundar na pirâmide do futebol espanhol). Começaram assim a mais recente temporada com óbvios candidatos à descida, situação à qual já estavam mais do que habituados. Afinal, todas as épocas começam de uma forma semelhante na pequena cidade de Castela e Leão, com uma reconstrução profunda de plantel, que geralmente se atrasa.

Na última pré-temporada, o Mirandés foi obrigado inclusivamente a cancelar um particular que tinha marcado frente ao Mallorca, devido à falta de jogadores para poderem entrar em campo. O clube não é uma entidade formadora e desde há alguns anos que adotou a postura da dependência de emprestados de emblemas da La Liga, ou até mesmo da La Liga 2, mas com objetivos superiores. Pelo Anduva já passaram nomes conhecidos inclusivamente do futebol mundial como Nico Jackson, Dani Vivian, Rodrigo Riquelme, Iván Martín, Sergio Carreira, Jon Guridi, Carlos Martín, Raúl García, Juanlu Sánchez entre muitos outros. Miranda del Ebro é um dos lugares ideais para os clubes cederem as suas jovens promessas, com garantia de minutos.

É uma situação vantajosa para as duas partes já que o Mirandés passa a contar com jogadores de qualidade, sem um grande investimento. Ainda assim, torna-se impossível olhar a longo prazo, embora o orçamento curto da instituição também não o permita.

A época 2024/25 começou com atraso, como já referido, e as expectativas eram baixas. A direção optou por manter Alessio Lisci no comando técnico, premiando o italiano pela manutenção alcançada em 2023/24. O Mirandés trouxe alguns jogadores para o seu plantel como Hugo Rincón, Unai Egiluz, Jon Gorrotxategi, Joel Roca ou Joaquín Panichelli, todos da La Liga, na esperança de crescerem enquanto profissionais. O que aconteceu foi um autêntico milagre. Apesar de estar longe dos orçamentos de equipas poderosas como o Levante, o Elche, o Oviedo ou o Racing Santander, a equipa esteve na disputa pela subida até ao final da fase regular, garantindo o apuramento para o playoff, algo que históricos como o Sporting Gijón ou o Real Zaragoza ficaram longe de alcançar.

É habitual que na La Liga 2 aconteçam algumas surpresas, mas o que o Mirandés fez foi algo raro, com os comentadores semanalmente a questionarem-se quando é que a equipa começava a cair de forma. Falamos de um plantel curto, mas com nomes que provaram ter a capacidade de chegarem à La Liga (Jon Gorrotxategi foi inclusivamente apontado ao FC Porto, mas caber-lhe-á a responsabilidade de suceder a Martín Zubimendi na Real Sociedad), daí a surpresa ser tão grande.

A verdade é que a formação de Alessio Lisci acabou mesmo por cair. Mais precisamente aos pés do Real Oviedo na final do playoff de acesso, num Carlos Tartiere a rebentar pelas costuras, já no prolongamento. Francisco Portillo continua a ser um talismã das subidas e levou a formação das Astúrias de regresso ao primeiro escalão, 24 anos de pois, ainda que o Mirandés tenha vencido a primeira mão, em sua casa.

O Mirandés foi ganhando os corações de todos os adeptos ao longo da época e poucos eram os que não gostariam de ver a equipa, que já está mais do que habituada a militar na La Liga 2, na La Liga. Seria um exercício interessante de assistir e a missão de uma vida para Alfredo Merino. A instituição mostrou-se exemplar em trabalhar no curto prazo, mas a médio e a longo prazo é uma autêntica incógnita.

Já se começaram a ver as consequências da derrota aos pés do Real Oviedo. Alessio Lisci está a caminho do Osasuna e o Mirandés terá que procurar um novo treinador. Com uma eventual promoção, quiçá o técnico se mantivesse por mais uma época no Anduva. A equipa tem apenas um jogador sob contrato para a próxima temporada: Juan Gutiérrez, defesa central. Ainda assim, é credível que outros elementos acabem por renovar como Alberto Reina (está a transformar-se num histórico dos jabatos)ou Raúl Fernández. Contudo, dorso da equipa perdeu-se.

Poucos jogadores não vão ter lugar na La Liga na próxima temporada. O Athletic não quererá perder Hugo Rincón, Unai Egiluz ou Urko Izeta. Joanquín Panichelli será um óbvio titular do Alavés em 2025/26. Outros elementos seguramente vão ter ofertas de equipas com potencial de lutar pela subida como os casos de Julio Alonso ou Pablo Tomeo.

Mesmo ficando perto da subida, o Mirandés não vai contar com um orçamento substancialmente superior ao de 2024/25 e continuará a ser a equipa da sua zona com o orçamento mais baixo (Burgos e especialmente o Real Valladolid estão passos acima), embora Miranda del Ebro se esteja a transformar num local com potencial para cativar empresas, o que pode levar a um investimento das mesmas.

O que joga em sua vantagem? O seu passado. Embora ainda não tenha um treinador anunciado, o Mirandés vai prosseguir com a identidade de ‘clube de desenvolvimento’ e as equipas vão continuar a enviar as suas promessas para o Anduva, especialmente as que não possuem uma equipa B nas divisões profissionais. Athletic e Alavés vão seguramente prosseguir como fornecedores e outros irão seguir o exemplo, dado os resultados francamente positivos. Já a Real Sociedad viu a sua filial ser promovida à La Liga 2 e poderá adotar uma política distinta, o que dificultará um pouco o trabalho a Alfredo Merino.

O Mirandés vai realizar uma melhoria nas suas instalações e atuará no começo da próxima temporada no Medizorroza, em Vitória, a pouco mais de meia hora de automóvel, apesar de serem cidades em Comunidades Autónomas distintas. Terá que se esperar para verificar se a mudança de recinto será um fator diferencial.

Ainda assim, os aficionados não poderão pedir uma temporada semelhante à que terminou. Não existem condições para tal, embora sonhar não seja impossível. O Mirandés teria que trazer um treinador que se adaptasse no imediato e os jogadores estariam obrigados a encaixar na perfeição. No futebol isto é extremamente complicado que ocorra, independentemente do nível da equipa. O objetivo da manutenção é o mais realista, o que não impede de se pensar numa temporada tranquila, com o passar das jornadas.

O Mirandés provou em 2024/25 que é possível fazer muito com pouco, estando passos à frente de emblemas de quem se esperava muito mais. É possível pensar no curto prazo, deixando de lado os resultados a três ou quatro anos, ainda que ao nível pessoal não concorde de todo com esta política. Afinal, a ideia inicial passava pela sobrevivência, já que o panorama apresentado anteriormente não era o mais favorável. Contudo, ficará sempre na imaginação como é que o clube montaria um plantel para disputar a La Liga com todos estes fatores.

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