Com a chegada de Luis Suárez, ex-jogador do Almería, da segunda divisão do campeonato espanhol, ao campeonato português para tentar substituir as proezas de Gyokeres como ponta de lança do Sporting, é importante fazer um balanço que analise o passado e as janelas mais recentes quanto à estratégia das várias formações que compõem a primeira divisão portuguesa.
Suárez não é o primeiro, nem será o último avançado vindo do mercado espanhol a entrar na Liga para colmatar as lacunas de finalização e de crescimento da sintonia do coletivo de uma equipa. O avançado colombiano, de 27 anos, marcou 31 golos e fez oito assistências ao serviço do Almería na época passada, ajudando o clube a chegar aos play-offs de promoção para a La Liga, onde foram derrotados pelo Real Oviedo no conjunto das duas mãos, nas meias-finais.
Com experiência no futebol espanhol, Suárez é descrito como um jogador que reúne muitas das características de um número 9 associativo, capaz de desorganizar a linha defensiva dos adversários, e com um perfil de jogo direto e agressivo semelhante ao de Gyokeres. Ainda assim, a particularidade de ter avançados do mercado espanhol é o tempo que os jogadores estrangeiros demoram a reter muitas das características. É seguro dizer que Suárez é um ponta de lança clássico, que não é conhecido pelo seu jogo coletivo.

Se olharmos para a aquisição de Samu, do FC Porto, é impossível não falar do seu estatuto físico e da sua grande capacidade aérea, que constituem uma vantagem imediata na construção rápida de ataques dos dragões. Em termos de criação de oportunidades no ataque, mesmo nos primeiros jogos desta temporada (apesar dos 28 minutos contra o Gil Vicente), Samu está ao nível do rendimento proporcionado por Pepe, o que diz muito da contribuição técnica do jogador de 21 anos, proveniente do Atlético Madrid, num negócio avaliado em 32 milhões de euros.
A versatilidade que Samu oferece é também crucial, tendo em conta os aspetos do seu jogo sem e com posse de bola, desde o seu tempo no Alavés. Seja no Porto de Vítor Bruno, seja no Porto de Francesco Farioli, ele consegue segurar a jogada, usar o corpo para proteger a bola e dar tempo aos companheiros para chegarem, prender a bola e passar rapidamente para os flancos ou atacar a linha defensiva nos contra-ataques (Farioli). Estas mesmas qualidades encaixam-se também no plano de Luis de la Fuente para a seleção espanhola, com Samu e Morata a complementarem os movimentos de Lamine Yamal e Nico Williams.

Falando de atacantes dos dragões, é importante mencionar que Fran Navarro também veio do mercado espanhol. Atualmente emprestado ao Braga, o jogador deu os primeiros passos na Primeira Liga com o Gil Vicente. Vindo da formação do Valência, o espanhol surpreendeu ao marcar 33 golos nas duas primeiras épocas com a equipa de Barcelos.
Navarro é um exemplo de como o mercado espanhol pode ser uma alternativa menos dispendiosa para os clubes fora dos três grandes conseguirem o sucesso. Na época de 2022/2023, Navarro marcou 17 dos 32 golos do Gil Vicente, garantindo confortavelmente a permanência dos galos na Liga. Tal como todos os jogadores mencionados, o seu estilo de jogo tem algumas semelhanças com o espanhol. A consciência espacial e o movimento inteligente de Navarro compensaram duas das suas limitações mais evidentes: a falta de fisicalidade e de oportunidades.
Abel Ruiz tem um percurso que combina os dois últimos exemplos: o atual avançado do Girona, com 25 anos, também demonstra o sucesso na transição de jogadores da formação para titulares indiscutíveis e jogadores experientes.

Ruiz começou a carreira no Barcelona B, após passagens pela La Masia e pelas camadas jovens do Valência. Chegou à região do Minho como a transferência mais cara da história do clube (oito milhões de euros) e foi determinante nas campanhas europeias do Braga, tendo marcado na vitória contra o Mónaco, nos oitavos de final da Liga Europa.
Agora, com a contratação de Pau Víctor, que, ao contrário de Ruiz, tem mais experiência (21 jogos e cerca de 307 minutos na La Liga na época passada) e mais titularidades no Barcelona, ao cobrir a posição normalmente ocupada por Robert Lewandowski, o Braga pretende repetir esta fórmula com, que se tem revelado cada vez mais bem-sucedida.
No setor defensivo, destaque para a aposta do Benfica nesta época em Rafa Obrador, que veio da equipa de reservas do Real Madrid para competir com Samuel Dahl, pela lacuna deixada por Álvaro Carreras, que rumou à equipa principal dos merengues. A posição de lateral esquerdo do Benfica já é, historicamente, reconhecida pelos grandes talentos espanhóis que por lá passaram.

Grimaldo, mais um habilidoso estudante da La Masia, redefiniu a função, demonstrando consistência tanto na defesa como no ataque, podendo alargar o seu jogo como médio central ou extremo esquerdo. Tal como Navarro, o negócio dificilmente excedeu a marca dos dois milhões de euros. Apesar de não ter rendido o lucro aproximado ao seu talento e valor de mercado (numa temporada em que realizou 13 assistências, igualando a temporada de 2018/2019, em que o Benfica de Lage venceu o campeonato), esta aquisição é mais um sinal da confiança que os clubes portugueses depositam na contratação de jogadores jovens que necessitam de tempo de jogo.
Portugal acaba por ser um destino fértil para estas chegadas, onde o preço razoável e a ênfase nos aspetos técnicos de alto nível durante a sua passagem pelas melhores academias espanholas tornam estes jogadores propícios ao futebol português e à sua constante evolução e capacidade de adaptação.