Primeira Liga, 4.ª jornada: Sexta-feira, 12 de Setembro de 2025, 20h15.
A ANTEVISÃO: ÁGUIAS INSULARES QUEREM RETOMAR VOOS MAIS ALTOS, ÁGUIAS DA CAPITAL TENTAM COMEÇAR NOVO CICLO IRREPREENSÍVEL
Regressa o rebuliço clubístico dum atarefado calendário que vai deixando adeptos do Benfica e sobretudo jogadores sem fôlego. Dedíc aterrou na Portela a cambalear, Sudakov andou a competir mesmo depois de lidar com as atrocidades da guerra, Otamendi despediu-se, junto de Messi, dos jogos caseiros da Albiceleste, e Ríos, depois de ser figura num louco 3-6 na Venezuela, chegou ao lado de Luis Suárez num jacto pago a meias pelos rivais da capital – numa ternurenta inversão do amigos amigos negócios à parte.
Ao todo, foram 18 os jogadores do Benfica que Bruno Lage viu a irem embora para os compromissos FIFA, o que com certeza lhe permitiu o tão desejado tempo para repensar abordagens e ajustar as ideias – ou talvez perceber que a decisão de tornar o Benfica, primeiro que tudo, sólido e extremamente pragmático é a melhor base para uma época bem-sucedida. O plano é que o virtuosismo e a electricidade apareçam mais tarde.
«Temos de ter paciência com essa fase do jogo no terço ofensivo, do bloco baixo. A bola tem de circular de pé para pé com qualidade, temos de conquistar espaço, enfim, há tanta coisa para fazer nesse momento. Isso só lá vai com tempo. Mas sinto que estamos num bom caminho. Estamos satisfeitos com o que fizemos no primeiro mês. Com a qualidade individual que temos, temos muito para crescer enquanto equipa».
Enquanto se entretia nesses raciocínios, o colega Vasco Matos aproveitava a pausa para a reposição de calendário. O ajuste deu em vitória no relvado do Estoril, a primeira no campeonato, mas não sem antes se andar a lutar por gabinetes e corredores – porque os da linha, comandados por Helena Costa e Ian Cathro e depois João Carvalho, não se coibiram de «manifestar o seu profundo desagrado» pelo caricato da situação, por se disputar Primeira Liga enquanto se jogava a qualificação para o Mundial; Os dos Açores, para não darem parte fraca, foram incisivos ao ponto de dizer que a atitude estorilista revelava «uma total falta de noção, ao não entender que o sucesso de qualquer outro clube português na Europa é também o sucesso dos restantes»; e a bulha de palavras lá se fez, discutindo-se a bom nível, para no fim lá acontecer na mesma, em mais um episódio para as entrelinhas da futebolice portuguesa.
Falhada a Liga Conferência, tentará Vasco Matos retomar a boa rota dos resultados. Sabe-o, naturalmente, da oportunidade perdida de experimentar futebol europeu e da desilusão que é, para o País, só por uma vez ter tido um representante na fase de grupos da nova (cinco edições) competição – mas talvez, lá, no fundo dos seus pensamentos, tudo culmine em… alívio: sabendo nós da dificuldade que é para as equipas portuguesas de nível médio lidar com uma sobreposição de jogos caseiros e continentais, que a coisa normalmente até resulta em luta acérrima pela manutenção, deve ter respirado fundo Vasco Matos. O conjunto mantém grande base do plantel anterior, mas só lhe adicionou dois valores de inegável contribuição: Paulo Victor, vindo do Farense, e Brenner, um dos destaques do Alverca que subiu. Há matéria-prima de qualidade, sim, ficando no éter teorético se seria suficiente para combater em várias frentes.
À Luz vão eles na máxima força, com a única nota de registo a ser o regresso mais tardio de Diogo Calila, que andou em missão por Moçambique (participando numa vitória frente ao Botswana).
Já o Benfica, com estreia milionária daqui a quatro dias, quererá tentar ver no Santa Clara um holograma do Qarabag, um ensaio do que poderá ser; mas tem para isso que se pôr fino e resolver alguns problemas: por exemplo, quem joga do lado direito da defesa, sabendo que deslocar para lá Aursnes provoca outro problema na intermediária, e se Otamendi e Ríos, a malta das viagens intercontinentais, chega com os índices físicos adequados.
O árbitro é João Pinheiro.
10 DADOS RÁPIDOS
- 20 jogos entre os dois: 17 vitórias encarnadas e apenas uma dos açorianos, curiosamente na Luz – o 3-4 de 2019/20, marco na derrocada de Bruno Lage.
- Mas Lage até tem boa estatística contra o Santa Clara, com seis vitórias nos seis confrontos restantes. No ano passado, recebeu Vasco Matos duas vezes, uma para a Taça da Liga: 4-1 e 3-0, respectivamente.
- Os principais atiradores do conjunto insular em 2024-25 foram Vinícius Lopes (8 golos) e Gabriel Silva (7) e continuam os dois no plantel, mas só o segundo consolidou a dinâmica: leva quatro dos oito golos marcados!
- Vasco Matos não tem mãos a medir na recuperação emocional da equipa perante calendário tão exaustivo fora das ilhas: a seguir à Luz, segue-se deslocação a Guimarães e depois Braga, para a Taça da Liga.
- Pode antes aproveitar o factor casa para recuperar na tabela, tão importante que foi na época passada (só cinco derrotas em 17 jogos): depois da Luz há recepção Alverca, seguindo-se Tondela e AFS.
- Algum jogador do actual plantel do Santa Clara já venceu o Benfica? Sim! Frederico Venâncio, uma vez em dezasseis tentativas. Aconteceu numa noite fria no Bonfim, em Janeiro de 2017. 1-0 para o Vitória setubalense.
- E Vasco Matos, enquanto jogador? Também, e foi logo ao primeiro de três confrontos: em Março de 2001, o Sporting B, treinado por Vítor Damas e com Vasco e Quaresma nas alas, recebeu e bateu o rival por 4-0 – e Vasco bisou!
- A derrota pesada frente ao Famalicão na primeira jornada estragou o registo defensivo imaculado do reinado de Vasco Matos: além de só ter perdido 21 dos 87 jogos (e sofrido 68), derrotas por três golos… só mesmo os dois resultados frente ao Benfica em 2024-25!
- Jogos do Benfica com João Pinheiro: 35, com 23 vitórias encarnadas.
- E o Santa Clara? Só ganhou um terço dos jogos com o árbitro escolhido (7 em 21 jogos). A última vez que se encontraram foi na jornada 13 da época passada…
JOGADORES A TER EM CONTA
Andreas Schjelderup – As circunstâncias do mercado e da enfermaria abriram-lhe as portas da já tão merecida titularidade. Para demonstrar que o bom início clubístico não foi fruto do acaso, ora aí está uma belíssima exibição em contexto internacional, destacando-se ao lado de Oscar Bobb e Haaland frente à Finlândia. Solbakken optou pelo Nusa da sua confiança para massacrar a Moldávia e atirar a Itália para o fundo do poço do goal average, mas Andreas ainda foi a tempo de participar e chega ao clube com confiança e estatuto reforçados.
Gabriel Silva – O jogador mais rápido do mundo (ou supostamente assim foi classificado por atingir 40km/h em Maio último) é talvez o único a manter o nível esta temporada – três golos na Conferência garantem que a desilusão europeia não foi culpa sua, e o único golo marcado pela equipa no campeonato dão-lhe um merecido protagonismo. Safaram-se os açorianos que algum galifão viesse caçar o brasileiro no Verão, mas mantê-lo para lá de Janeiro será tarefa ainda mais hercúlea.
XI´s PROVÁVEIS
Benfica: Anatoliy Trubin; Tomás Araújo, António Silva, Otamendi e Dahl; Aursnes, Barrenechea, Ríos e Schjelderup; Ivanovic e Pavlidis
Treinador: Bruno Lage
«O Santa Clara é uma equipa muito bem organizada, que defrontámos três vezes no ano passado e mantém-se essa organização da equipa. Sabem muito bem o que fazer com bola, a forma como gostam de defender e pressionar. Vai ser um jogo muito exigente».
Santa Clara: Gabriel Batista; Sidney Lima, Venâncio e Matheus Nunes (MT); Lucas Soares, Adriano Firmino, Serginho e Paulo Victor; Gabriel Silva, Vinicius Lopes e Brenner
Treinador: Vasco Matos
«Vamos ser uma equipa com uma identidade muito forte, bem vincada, muito competitiva, a olhar para o nosso processo e para aquilo que é nossa estratégia para o jogo. Todos sabemos o tipo de equipa que é o Benfica».
PREVISÃO DE RESULTADO: Benfica 2-0 Santa Clara
