
O empate do Benfica frente ao Santa Clara voltou a expor problemas que não são novos. A equipa foi previsível, pouco criativa e incapaz de desmontar um adversário que se fechou atrás. E mais do que nos jogadores, é no modelo de Bruno Lage e na sua leitura de jogo que se encontram as maiores responsabilidades.
Logo desde início, a definição das funções em campo levantou dúvidas. Tomás Araújo foi utilizado como lateral-direito, mas sem a profundidade que Dedic costuma oferecer, acabando por prender o corredor e limitar a largura ofensiva. Ao mesmo tempo, Ivanovic recuava demasiadas vezes para receber, quando quem devia vir buscar jogo era Pavlidis, avançado mais associativo e capaz de ligar setores. Esta opção levou o Benfica a sair muitas vezes a quatro, mas com poucos homens disponíveis na frente para desequilibrar.

No meio-campo, a ausência de Enzo na construção foi gritante. Richard Rios foi obrigado a assumir tarefas de criação que não fazem parte do seu perfil, tornando a circulação lenta e previsível. O Benfica passou demasiado tempo a trocar a bola da esquerda para a direita, sem qualquer aceleração ou criatividade pelo corredor central. Sem Dedic, a equipa perdeu ainda mais capacidade de desequilíbrio, ficando refém de cruzamentos sem qualidade e passes laterais fáceis de anular por um Santa Clara bem organizado.
A expulsão de Paulo Vítor aos 37 minutos parecia ser o momento ideal para o Benfica assumir de vez o controlo, mas a equipa não soube aproveitar. Bruno Lage demorou demasiado tempo a mexer, mantendo demasiados homens atrás da linha da bola contra dez adversários. Prestianni entrou ao intervalo, mas a mudança real só chegou aos 73 minutos, quando Sudakov foi finalmente lançado. Demasiado tarde, para um jogo que já há muito pedia um criativo em campo. A sensação é que o treinador demorou a reagir, como se tivesse receio de arriscar.

Os números falam por si: 78% de posse de bola e menos grandes oportunidades do que o Santa Clara. Um domínio estéril, sem progressão nem risco, e que mostrou a dependência excessiva do Benfica de um único jogador – Dedic. Quando o lateral não está, a criatividade desaparece quase por completo.
Há ainda um outro ponto que não pode ser ignorado: a formação. O Benfica orgulha-se de ter uma das melhores academias da Europa, mas continua a utilizá-la de forma tímida. No banco estavam jovens como Henrique Araújo, que acabou por entrar, mas faltaram opções como João Veloso ou Leandro Santos, capazes de oferecer soluções no corredor central e na ala. Jogadores formados no Seixal que poderiam ter dado outra frescura ao jogo simplesmente não são aproveitados, ficando muitas vezes como segundas escolhas ou até fora da convocatória. A pergunta impõe-se: para que serve o investimento na formação se, nos momentos em que a equipa precisa de alternativas, os miúdos não têm espaço?
É por isso difícil não apontar o dedo a Bruno Lage. O plantel tem qualidade individual e um valor de mercado muito superior ao do Santa Clara, mas isso não se traduz em eficácia dentro de campo. O Benfica já mostrou fragilidades semelhantes noutros jogos e o problema não é de nomes, mas sim de ideias. Se não houver mudanças rápidas no modelo, na forma de ler o jogo e numa maior aposta na formação, o campeonato pode ficar hipotecado demasiado cedo.
