
Se restavam dúvidas quanto à transferência de Luis Suárez e ao valor envolvido (cerca de 22 milhões de euros), o avançado colombiano tem vindo a dissipá-las com exibições à altura de um titular do Sporting.
O ponta-de-lança de 27 anos já soma três golos e duas assistências em seis jogos pelos leões. Ainda assim, os números (apesar de interessantes) não refletem na totalidade o impacto que Suárez tem no jogo da equipa. Há um mês e meio, a saída de Viktor Gyokeres parecia um cenário preocupante, dadas as suas contribuições decisivas na conquista do bicampeonato. No entanto, a chegada do internacional colombiano trouxe segurança e tranquilidade a Alvalade. Mais adiante, voltaremos às inevitáveis comparações entre os dois avançados.
No duelo frente ao Famalicão, Suárez voltou a deixar marca. A tarefa não era fácil: tratava-se da única equipa que ainda não tinha sofrido golos no campeonato, com Justin De Haas em grande plano na linha defensiva. Mesmo assim, o colombiano foi um autêntico tormento para os adversários. Foi o primeiro a iniciar a pressão alta do Sporting, condicionando as saídas de bola do conjunto famalicense. Além da intensidade sem bola, mostrou-se perigoso em ruturas e ataques ao espaço, chegando mesmo a marcar, embora o golo tenha sido anulado por fora de jogo.

Para além da agressividade e da constante procura de espaços, Suárez acrescenta algo fundamental ao jogo coletivo leonino: a capacidade de associação. Pedro Gonçalves e Francisco Trincão têm sido os principais beneficiados, encontrando mais liberdade entre linhas graças às desmarcações, desvios e movimentos de arrasto do colombiano. Muitas vezes, sem sequer tocar na bola, consegue criar espaço para os colegas desequilibrarem ofensivamente. Já na segunda parte do encontro frente ao Famalicão, Suárez voltou a mostrar-se presente e, depois de um passe de Pote, o avançado colombiano não tremeu no frente a frente com Carevic.
Comparando com Viktor Gyokeres, a diferença torna-se evidente. O sueco destacou-se, sobretudo, pela capacidade de explorar a profundidade e resolver individualmente, fosse com golos ou assistências. O jogo do Sporting, nas últimas duas épocas, dependia muito da sua explosão e finalização, o que acabou por tornar a equipa previsível em alguns momentos. Ainda assim, isso não lhe retira mérito: no meio dessa previsibilidade coletiva, Gyokeres era a grande luz da equipa no plano ofensivo. Sem dúvida, o melhor avançado a atuar na Liga Portuguesa nos últimos 15 anos, decisivo na conquista de dois títulos consecutivos.
Com Suárez, o Sporting apresenta hoje maior variabilidade ofensiva, sem que isso ofusque o talento de Trincão e Pedro Gonçalves. Pelo contrário: o colombiano potencia o protagonismo dos dois internacionais portugueses, reforçando a ideia de um ataque mais coletivo e imprevisível. O arranque desta temporada mostra, portanto, que o trio leonino está a ganhar cada vez mais importância na afirmação do bicampeão nacional para esta época 2025/26.

Se tivesse de adivinhar, diria que Rui Borges prefere as dinâmicas atuais do Sporting em comparação com a época passada. O treinador já falou dessa variabilidade em resposta ao Bola na Rede e parece empenhado em implementar diferentes cenários ofensivos. Além disso, retirou também o peso do ‘fantasma’ Gyokeres, contrariando a ideia de que sem o sueco o Sporting iria cair de rendimento. Nada disso aconteceu, e as primeiras exibições da temporada comprovam-no. Mesmo com a derrota diante do FC Porto, a equipa não perdeu identidade.
Coletivamente, o Sporting apresenta-se mais forte esta época e Luis Suárez tem sido peça fulcral nessa evolução, ao mesmo tempo que dá protagonismo a outros jogadores. Em suma, a chegada de Luis Suárez não serviu apenas para colmatar a saída de Viktor Gyokeres, trouxe também uma nova dimensão ao jogo do Sporting. Se o sueco ficará para sempre marcado como um dos melhores jogadores da história do Sporting, o colombiano começa a construir o seu próprio caminho em Alvalade com também muita qualidade nas suas ações. Mais do que substituir, Suárez veio transformar: ao potenciar Pedro Gonçalves, Trincão e todo o coletivo, elevou a variabilidade ofensiva do bicampeão nacional. O colombiano reúne todas as condições para se afirmar neste plantel e ser considerado um dos dois ou três melhores avançados da Primeira Liga.
BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: O Famalicão sofreu os primeiros dois golos no campeonato mas vimos, mais uma vez, boas exibições de jogadores como Justin de Haas na linha defensiva. Em termos táticos, Gostaria de lhe perguntar o que retira de positivo deste jogo no que toca à linha defensiva.
Hugo Oliveira: Perante um adversário com muita variabilidade, só uma equipa muito competente é que consegue parar estes momentos de uma equipa assim. E depois ainda há a variabilidade individual, mas é assim que crescemos. É bom ver como se batem jogadores tão jovens nestes jogos. Não vivemos de vitórias morais, eu não vou feliz para casa e queremos no próximo jogo ganhar para ficarmos mais felizes.
Bola na Rede: Vimos hoje uma ala direita do Sporting totalmente renovada, com a entrada de Geovany Quenda e Georgios Vagiannidis, em detrimento de Geny Catamo e Iván Fresneda. Gostaria de lhe perguntar o que é que mudou no aspeto ofensivo com a entrada destes dois jogadores no onze.
Rui Borges: Em termos táticos não muda nada. Nas dinâmicas da equipa e nos princípios de jogo, os jogadores estão bem identificados com eles. A realidade é que o Vagiannidis deu uma grande resposta hoje, mesmo tendo feito 90 minutos nos dois jogos da seleção. Deu uma grande resposta física, técnica e tática, sempre muito ligado ao jogo. Está também a perceber melhor as dinâmicas ofensivas e defensivas da equipa, e era esse tempo que queríamos que ele crescesse. Já era um jogador que tínhamos identificado há muito tempo e hoje deu uma resposta fantástica. No que é tático, não muda nada. Depois, as qualidades individuais dos jogadores é que acrescentam coisas diferentes à equipa e isso, muitas vezes, não tem a ver com a ideia de jogo, porque essa é a mesma. Pelas suas características, o Vagiannidis vai dar-nos, em termos ofensivos, mais cruzamentos do que o Iván Fresneda, porque o Iván procura mais os espaços interiores e tem mais chegada à área em cruzamentos do lado contrário. O Quenda não é tão vertical como o Geny, procura mais jogo interior, e felizmente tenho essa variabilidade na minha equipa. Depois, claro, de forma estratégica, decidimos qual é a melhor solução para cada jogo. O que me importa perceber é que estão todos ligados, e isso deixa-me muito feliz.