José Mourinho regressou ao futebol português pela porta grande e com o peso do seu nome a arrastar consigo expectativas, memórias e polémicas. O Benfica escolheu-o numa altura de divisão entre adeptos e de descrença no projeto desportivo. A grande questão é simples: será José Mourinho o homem certo para devolver estabilidade e vitórias ao clube da luz?
O experiente treinador de 62 anos continua a ser um pensador profundo do futebol, um dos maiores de sempre, mas já não é o mesmo treinador que encantou a Europa. As suas ideias de treino parecem menos adaptadas à evolução do jogo, sobretudo no plano ofensivo, onde privilegia o resultado acima do espetáculo. Ele próprio admitiu, numa entrevista ao Canal 11, que hoje é um técnico mais talhado para jogos a eliminar do que para gerir longos campeonatos.
Essa é uma das suas fragilidades, a dificuldade em manter consistência em provas de regularidade. Nem Roma, nem Tottenham, nem Fenerbahçe eram candidatos naturais ao título, mas também é verdade que José Mourinho não conseguiu transformar essas equipas em forças dominadoras.
Por outro lado, há aspetos que jogam claramente a seu favor. O primeiro é a comunicação. Mourinho, logo na sua apresentação, conseguiu unir mais os benfiquistas do que Bruno Lage num ano inteiro. É um líder nato, carismático, com uma inteligência rara no discurso e uma leitura de jogo que ainda hoje se mantém de topo. Quando fala, conquista. Quando lidera, impõe respeito.

Taticamente, nos últimos anos recorreu com frequência ao sistema de três centrais, algo pouco visto no Benfica recente. É um modelo que pode funcionar com jogadores como António Silva (pela esquerda), Otamendi (no centro) e Tomás Araújo (pela direita), mas que exigirá alguns ajustes de plantel. Ainda assim, não parece provável que o treinador radicalize a sua ação inicial em termos de escolhas da equipa, de sistema ou de dinâmicas. O Benfica vinha de jogos com um claro défice de criatividade e, antes de mudar estruturas de forma profunda, o técnico terá de encontrar soluções que devolvam fluidez ofensiva e qualidade no último terço.
O Seixal, no entanto, pode não estar tão em destaque sob a sua liderança. José Mourinho não é conhecido por apostar de forma consistente nos jovens da formação, preferindo muitas vezes jogadores experientes e prontos para render no imediato.
No fim de contas, José Mourinho é ou não o treinador certo para o Benfica? A resposta depende do que o Benfica procura. Se o objetivo for ter uma equipa dominadora, criativa e espetacular, dificilmente será a escolha perfeita, mas as se a prioridade for unir o balneário, dar solidez competitiva e devolver resultados de forma pragmática, então não há, em Portugal, treinador mais preparado para o desafio.