A nova época arrancou com o barómetro em alta para os três grandes. O Sporting iniciou a defesa do título com vitória segura em Rio Maior frente ao Casa Pia por 0-2, o Benfica começou a temporada a erguer a Supertaça e somou um resultado europeu encorajador perante o Nice, enquanto o FC Porto abriu um ciclo com Francesco Farioli e um plano mais claro para estabilizar a equipa. O arranque trouxe sinais distintos, mas suficientes para perceber que o campeonato volta a prometer equilíbrio. Também nas casas de apostas os três clubes se mostram como favoritos. Isso não significa que não possamos ter surpresas, ou que o campeonato seja renhido até ao último jogo.
Sporting em modo tricampeão, agora sem Gyokeres
Bicampeão em título, o Sporting parte para a época com a ambição declarada de completar o tri. A vitória inaugural fora, com golos de Trincão e Hjulmand, mostrou continuidade de processos e uma estrutura que, mesmo sem o seu goleador de referência, se mantém reconhecível. A saída de Viktor Gyökeres para o Arsenal obrigou a repensar dinâmicas no último terço, mas a equipa conservou o núcleo competitivo no meio-campo, a agressividade na recuperação e a versatilidade dos alas.
O desafio, agora, é transformar a produção coletiva em números constantes na frente. O calendário vai colocar à prova soluções de finalização e a rotação entre avançados e extremos. A consistência defensiva e a maturidade em jogos fora continuarão a ser trunfos, sobretudo em noites em que o golo teima em não aparecer.
Benfica: novo ciclo com Mourinho
O Benfica vive um arranque de época marcado por mudanças de fundo. Depois da saída de Bruno Lage, José Mourinho assumiu o comando e começou por somar um troféu logo no primeiro jogo oficial, a Supertaça. Seguiu-se um triunfo por 2–0 frente ao Nice na primeira mão da terceira pré-eliminatória europeia, um passo importante para a presença na fase de grupos. Pelo caminho, houve um tropeço na Liga com o empate em casa diante do Santa Clara, num jogo em que a equipa não conseguiu capitalizar a superioridade numérica e viu um erro individual ditar o resultado final. A chegada de Mourinho eleva a exigência competitiva e traz identidade imediata: bloco compacto, critério com bola, agressividade nas segundas bolas e grande foco nas bolas paradas. O onze base parece forte, mas a época longa vai testar a profundidade do plantel. Se o Benfica crescer na consistência entre jogos grandes e duelos com equipas de bloco baixo, mantém-se plenamente dentro da luta pelo título ao lado de Sporting e FC Porto.
FC Porto versão Farioli: solidez atrás, afiação à frente
Com Farioli, o FC Porto inicia uma fase em que se espera maior rigor sem bola e estrutura mais estável na saída desde trás. Os trabalhos anteriores do treinador sugerem equipas compactas, difíceis de desmontar e preparadas para os duelos grandes. O Dragão pede, além disso, uma evolução clara na produção ofensiva depois de duas épocas com números de golo abaixo do que o clube habituou os adeptos.
A época nasce, ainda, marcada por emoções fortes fora das quatro linhas, que podem servir de cimento para o balneário. No plano tático, a recuperação de um corredor forte, extremos a dar largura e um meio-campo com critério na primeira construção são pistas para devolver ao Porto uma equipa competitiva jogo após jogo. Se a finalização acompanhar, os azuis e brancos entram na luta de pleno direito.
O retrato deste arranque e o que pode mudar
As primeiras jornadas deixam um esboço: Sporting confortável nos seus automatismos, Benfica com indicadores de crescimento e um Porto a procurar identidade com o novo treinador. O passado recente ajuda a ler o presente. Os leões chegam com o embalo de dois títulos seguidos e um bloco consolidado. As águias querem transformar arranques fortes em regularidade até maio. Os dragões, historicamente competitivos em ambientes de pressão, procuram a combinação entre organização e eficácia.
Em anos de campeonato renhido, os confrontos diretos e os pontos deixados em estádios teoricamente acessíveis costumam pesar tanto como a performance nos clássicos. A gestão do pós-jogo europeu, a resposta a baixas por lesão e a capacidade de encontrar golos vindos do banco são fatores que podem virar tendências a meio da época. Do lado das sensações, nota para a qualidade crescente de vários médios em chegar à área e para laterais mais influentes nas duas fases, algo que pode alterar mapas de remate e distribuição de golos.
Linha de meta à vista? Ainda não, mas a pista já conta uma história
É cedo para declarações definitivas, porém o campeonato já nos mostrou pilares: o Sporting tem a base competitiva de quem sabe o caminho, o Benfica procura consolidar uma versão mais sólida e o FC Porto trabalha para somar limpeza defensiva a mordacidade ofensiva. Entre calendários, estados de forma e crescimento tático, os meses até ao inverno vão depurar candidatos.
Se os leões mantiverem a bitola e resolverem o capítulo da finalização, continuam fortíssimos. Se o Benfica subir o nível de concentração nos momentos-chave e ampliar a rotação sem perder qualidade, entra no último terço da época com argumentos para atacar o topo. Se o Porto traduzir a estabilidade atrás em vantagem no marcador com maior frequência, volta a estar no trilho do título.
O mais provável é chegarmos à primavera com a corrida em aberto, decidida nos detalhes e na frieza dos jogos grandes. Para os adeptos, isso é a melhor notícia. Para os três candidatos, é a certeza de que cada ponto vale ouro desde já.