Rodrigo Mora é, para muitos, um dos maiores talentos a sair da formação do Futebol Clube do Porto nos últimos anos. Desde os escalões de base, destacou-se pela técnica apurada, pela visão de jogo e por uma maturidade rara para a idade. É daqueles jogadores que parecem ver o jogo em câmara lenta, antecipando o que vai acontecer antes dos outros. Hoje, porém, o nome de Mora surge rodeado de surpresa e até em alguma frustração, o jovem perdeu espaço num Porto sob o comando de Francesco Farioli.
A história recente explica parte desta situação. Rodrigo Mora surgiu na equipa principal quase por necessidade, numa altura em que o clube atravessava dificuldades financeiras e o plantel tinha falta de soluções. Vítor Bruno, o treinador eleito por André Villas-Boas para comandar a equipa azul e branca na época 2024/25, apostou num 4-2-3-1 com Mora a atuar como “10”, nas costas do avançado Samu. Essa configuração libertava o jovem criativo, permitindo-lhe jogar entre linhas e aparecer em zonas de finalização.


A palavra “necessidade” pode ser interpretada de várias formas, mas esta necessidade é com base na falta de qualidade e profundidade que o plantel do Porto tinha na época passada. Mora, mais cedo ou mais tarde, iria chegar, naturalmente, à equipa principal, não é isso que está em causa. A questão é que a oportunidade surgiu num contexto difícil, e mesmo assim o jovem mostrou ser capaz de responder com maturidade e rendimento imediato.
A resposta foi, de facto, impressionante, Mora agarrou o lugar com personalidade, inteligência e qualidade. Foi, sem grande margem para dúvidas, uma das revelações da época.
Com a saída de Vítor Bruno e a chegada de Martín Anselmi, o Porto passou a jogar num sistema de três centrais, uma mudança estrutural que exigiu adaptação de praticamente todo o plantel. O modelo, que se revelou desajustado, acabou por expor ainda mais as fragilidades da equipa, o Porto passou muito mal nesse sistema, sem conseguir encontrar estabilidade nem conforto tático. Ainda assim, e querendo ou não, esse modelo acabou por favorecer o estilo de jogo de Rodrigo Mora. Mesmo perante as dificuldades coletivas, o jovem médio destacou-se pela capacidade de interpretar o jogo. Manteve-se como uma das poucas luzes num período irregular da equipa. Num sistema que parecia aprisionar a criatividade, Mora foi o elemento que mais conseguiu romper essa rigidez e dar vida ao ataque portista.


No verão de 2025, antes do Mundial de Clubes, ainda com Anselmi, chegou Gabri Veiga, um reforço de peso, vindo com a missão de ser o “10” da nova era portista. Uma aposta ambiciosa, mas que acabou por criar uma sombra inesperada sobre Mora.
Francesco Farioli chegou no verão de 2025 com ideias próprias. O treinador italiano trouxe consigo uma filosofia muito particular, baseada na posse, pressão, e em princípios de construção desde trás. Reestruturou o modelo e o Porto passou a jogar em 4-3-3, abandonando o sistema de três centrais que nunca ofereceu verdadeiro conforto à equipa. O problema é que, nessa redefinição, Mora acabou por ser o grande sacrificado.
Compreende-se que Farioli valorize a disciplina tática, e que Borja Sainz, por exemplo, ofereça aquilo que o treinador tanto preza, pressão alta, intensidade e compromisso defensivo. Mas o futebol não vive apenas disso. Vive de talento, criatividade e inspiração. E é precisamente aí que entra Rodrigo Mora. Seja a jogar como “10”, onde o jogo passa por ele, ou descaído para uma das alas, o jovem portista mostra sempre tendência para pisar terrenos interiores, procurar entrelinhas e ligar setores. Não é um extremo. Mas é um construtor de dentro, alguém que transforma a posse em progressão. Além disso, pela inteligência e capacidade de movimentação que tem, Mora poderia até ser explorado como falso 9, um papel que se ajusta ao futebol associativo e fluido de Farioli. O técnico italiano, conhecido por potenciar médios criativos em zonas mais adiantadas, poderia encontrar aí uma solução diferente e moderna para integrar Mora sem abdicar da sua estrutura base.
A verdade é que Gabri Veiga, embora seja um bom jogador, ainda não conseguiu justificar o investimento. É evidente que não estamos a falar do mesmo médio que brilhou em Espanha antes da passagem pela Arábia. Falta-lhe ritmo, intensidade e continuidade. Já Mora, sempre que entra, mostra vontade, criatividade e capacidade de desequilibrar. A diferença é notória, um joga pelo instinto, o outro parece ainda à procura de si próprio.
É por isso que alguns adeptos, e até o próprio Rodrigo Mora, começam a perder alguma paciência com as decisões de Farioli e procuram perceber o porquê desta gestão. Jogadores com o talento de Mora têm de ser bem geridos, não podem ser apenas “mais um” no plantel. Ou joga Mora, ou joga Gabri. A coexistência dos dois na mesma posição é um desafio que o treinador italiano ainda não conseguiu resolver.
Rodrigo Mora é, acima de tudo, um símbolo do futuro portista. Tem o talento, a mentalidade e o caráter para marcar uma era. Ignorá-lo seria um erro.

