

Os San Antonio Spurs arrancaram a temporada da NBA com quatro vitórias consecutivas e são das únicas equipas que vão mantendo a invencibilidade em 2025-26. A equipa texana, com sucessor de Popovich, Mitch Johnson no comando, está perto de conseguir cinco vitórias consecutivas pela primeira vez esta década e vai-se colocando entre os favoritos a erguer o troféu Larry O’Brien.
O projeto dos Spurs vai muito para lá do “Alien”, Victor Wembanyama, jogador francês de 2,24 metros que teve um arranque de temporada ao nível de MVP. Após falhar a reta final da temporada passada, o poste de 21 voltou com “fome” de desbloquear todo o seu potencial e está na sua melhor forma desde que chegou à liga. Com quatro jogos, Wembanyama tem médias de 31 pontos, 13.8 ressaltos e 4.8 desarmes de lançamento por jogo, tendo sido nomeado “Jogador da Semana” na conferência Oeste. Ao francês junta-se jovens talentos emergentes, como o “Rookie do Ano” da temporada passada, Stephon Castle e Dylan Harper, segunda escolha do último draft. Um plano de futuro que promete bastante em San Antonio, mas terá sido sorte ou competência?
O caminho da franquia texana, que foi símbolo de consistência durante décadas, de volta ao topo da NBA não foi tão longo como o de outras equipas – tenha sido isso por sorte na lotaria ou por competência da direção – e a verdade é que, passados apenas seis anos de falharem os playoffs pela primeira vez em 22 épocas, os Spurs estão embalados para voltar à fase mais importante da temporada – e não parece que será apenas para marcar presença.
Um fenómeno que acelerou o relógio da reconstrução
Nem todas as equipas têm a sorte de ver a sua “rebuild” dar frutos em tão pouco tempo, no caso dos Spurs, a lotaria sorriu aos texanos em 2023, quando um gigante fenómeno francês se preparava para entrar na liga. Victor Wembanyama foi a razão pela qual várias equipas exerceram o apelidado “tanking” na temporada 2022-23 – Detroit Pistons, Houston Rockets e San Antonio Spurs entre os principais derrotados dessa temporada. As “bolas de pingue-pongue” que definem a cada ano o futuro da NBA decidiram sorrir pela terceira vez na história aos Spurs e os texanos não inventaram, escolhendo Wembanyama com a primeira escolha do draft. O gaulês juntou-se a dois grandes nomes na história dos Spurs a serem escolhidos com a primeira escolha – David Robinson e Tim Duncan – elevando ainda mais a fasquia e as expetativas para o que poderia vir a ser a sua carreira. Mas muitos se enganam aqueles que acreditam que a sorte não foi trabalhada e, quem sabe, os Spurs poderão ainda ter frutos a colher derivados do plano que semearam para o futuro.
A verdade é que a corrida da equipa de San Antonio pelo sucesso na lotaria começou logo no verão de 2022: troca de Dejounte Murray para os Atlanta Hawks por três escolhas de primeira ronda e uma “pick swap” em 2026 – o que significa que os Spurs terão a escolha dos Hawks (recorde 1-3) no próximo draft. Além de condenar a equipa à falta de competitividade em 2022-23, esta troca serviu para reforçar o futuro dos Spurs nos próximos anos e fornecer ativos que colocam a franquia como uma das mais promissoras da liga.
Mas o front office texano deu provas que nem tudo é sorte e fez jus à competência que normalmente é atribuída ao scouting da equipa. Com escolhas como Devin Vasell e Jeremy Sochan em drafts anteriores, os Spurs conseguiram “roubar” o “Rookie do Ano” da temporada passada na quarta escolha do draft de 2024. Stephon Castle é um jogador que se enquadra na cultura defensiva da equipa, com um sentido de jogo que em nada se assemelha aos 20 anos que apresenta no cartão de cidadão. A maturidade e destreza que apresenta em campo, também pela influência que teve de Chris Paul logo no primeiro ano de carreira, são provas dadas que Castle é uma peça fidedigna para ser figura numa equipa que lute por campeonatos.
A sorte voltou a sorrir aos Spurs ainda este ano, deixando a equipa muito perto de conseguir o cobiçado Cooper Flagg no draft de 2025. Com um pouco “menos de sorte”, os Spurs mesmo assim terminaram com a segunda escolha da lotaria – quando tinham abaixo de 14% de chances desse desfecho – e adquiriram outro base promissor que já tem dado “ar de sua graça” nos primeiros jogos na liga, Dylan Harper, filho de Ron Harper.
Apenas o começo…
Sorte ou competência, os San Antonio Spurs têm todas as peças para marcar uma era na NBA, depois de anos de sucesso com a tríade Duncan – Parker – Ginobili. A verdade é que nos dias que correm, o potencial existente no plantel dos Spurs é muito superior ao que existia há duas décadas, quando a equipa conquistava o terceiro título da história e batia de frente com Kobe Bryant e Lebron James.
Como referido anteriormente, o poderio dominante de Wembanyama como face principal do projeto é conjugado com muito talento jovem como Stephon Castle e Dylan Harper. Nomes importantes e mais experientes como Keldon Johnson, Devin Vassell e o experientíssimo Harrison Barnes complementam um sistema que aposta no jogo de três pontos durante grande parte do jogo, deixando a dominância no interior para o seu fenómeno de 2,24 metros.
Os Spurs garantiram ainda a aquisição de DeAaron Fox na temporada passada, num movimento de mercado brilhante em que não tiveram de abdicar de nenhum ativo valioso. O base de 27 anos ainda não se estreou esta temporada devido a lesão, à semelhança de Jeremy Sochan, um ativo importante no eixo defensivo de San Antonio – que por si só já tem o melhor rating da temporada.
Durante o verão, a equipa priorizou a aquisição de postes experientes para complementar o trabalho de Wembanyama e não atolar o francês de tarefas defensivas, poupando-o e facilitando-lhe o trabalho no eixo ofensivo – caso de Luke Kornet e Kelly Olynyk. O “trabalho de casa” foi bem feito pelo executivo texano, agora liderado pelo próprio Gregg Popovich.
Com todos estes fatores e sem lesões ao barulho, os San Antonio Spurs têm tudo para chocar a liga e assumir uma posição de candidato ao título ao longo do ano. Verdade seja dita que os duelos que a equipa teve até ao momento em nada se assemelham a verdadeiros “contenders” como Oklahoma City Thunder, Denver Nuggets ou Cleveland Cavaliers, mas um arranque invicto na primeira semana da temporada é um excelente presságio para uma equipa que tem sede de voltar aos playoffs e um plantel jovem que quer estar à altura do passado glorioso da franquia.
A beleza cíclica da NBA é o florescer de um projeto promissor que foi reconstruído da forma certa: em San Antonio, a história está a reescrever-se e uma nova dinastia está a surgir.
