Os New Orleans Pelicans arrancaram a nova temporada da NBA com um registo de duas vitórias e seis derrotas. A equipa encontra-se no fundo da tabela da conferência Oeste, uma posição que parece difícil de contrariar para uma equipa sem um plano para o futuro.
Se em 2019, quando venceram a lotaria do draft que valia o fenómeno universitário Zion Williamson, dissessem a qualquer adepto da NBA que em 2025 (e tudo indica que em 2026) o jogador não teria jogado playoffs uma única vez nesse período, talvez muitos não acreditariam. A verdade é que a equipa de Nova Orleães tem colecionado temporadas desoladoras para o potencial que existia no plantel de 2019 e vai a caminho de um “beco sem saída” que pode custar ainda mais anos sem sucesso e saídas dos principais jogadores.
É precisamente até à temporada 2019-20 que vamos recuar para entender como é que o front office da equipa tinha em mãos uma das equipas mais promissoras da liga e acabou por operar uma das piores gestões da história recente da liga. Os Pelicans tinham acabado de trocar Anthony Davis para os Los Angeles Lakers e saía a “sorte grande” à equipa, vencendo a lotaria para um dos prospetos mais aguardados do século – Zion Williamson, que aos 18 anos apresentava um poderio físico aliado ao seu estilo de jogo dominante que deixava “água na boca” de qualquer adepto da NBA.
A juntar a este “diamante”, os Pelicans tinham um ‘core’ fresco de muitas promessas oriundas de LA, Brandon Ingram, Josh Hart e Lonzo Ball, que serviram de moeda de troca para que Anthony Davis se juntasse a Lebron na Califórnia. Junta-se ainda aqui um já experiente Jrue Holiday, que já tinha provas dadas de ser um dos melhores bases defensivos da liga.
Os Pelicans tinham tudo para elaborar um projeto de reconstrução a curto-médio prazo que pudesse ter sucesso numa NBA que mudava drasticamente depois do verão de 2019. A equipa retinha ainda algumas escolhas de draft de primeira ronda que podia ir elencando com a evolução dos seus jogadores, conseguindo assim sonhar com uma ‘rebuild’ sustentável. A equipa era indiscutivelmente quem possuía o melhor núcleo jovem da liga e em quem vários analistas depositavam confiança para um futuro risonho.
As lesões de Zion e os primeiros erros da gestão dos Pelicans
No ano de estreia de Zion Williamson, o jogador comprovou de imediato as “más línguas” que rogavam sobre o estilo de jogo do próprio não ser compatível com o seu peso – lesão no menisco lateral do joelho direito que adiou a sua estreia apenas para Janeiro de 2020. Na sua ausência, Brandon Ingram mostrava que podia ter sido muito mais para os Los Angeles Lakers e justificava o facto de ter sido a 2.ª escolha do draft de 2016. Ingram terminou a temporada com 23 pontos por jogo e venceu o prémio de “Most Improved Player”.
Os Pelicans viriam a terminar a temporada com 30 vitórias e 42 derrotas, na atribulada “bolha” que se instalou em período de pandemia. Um começo interessante para uma equipa que se tinha visto privada do seu principal ativo durante boa parte da temporada, deixando assim alguma expetativa para 2020-21.
O primeiro “tiro no pé” não demorou a chegar. Em novembro de 2020, os Pelicans trocavam Jrue Holiday, que tinha sido o segundo melhor jogador da equipa na época anterior, para os Milwaukee Bucks por um escasso pacote de Eric Bledsoe e Steven Adams.
Seguiu-se uma temporada mediana por parte da equipa, mesmo com Zion saudável até contrair nova lesão nos jogos finais da época, a equipa terminou com apenas mais uma vitória que na temporada transata – 31-41 e 11º lugar no Oeste.
O problema persistia mais no setor defensivo do que propriamente no ataque. Em ordem de fazer “melhor figura” na temporada seguinte, os Pelicans adquiriram experiência durante a ‘free agency’ e tinham agora reunida uma equipa mais compacta com estrelas jovens emergentes e uma boa base de ativos experientes para garantir equilíbrio. Tudo poderia correr bem em 2021-22, certo? Até que Zion Williamson parte o pé direito e é baixa para a temporada inteira.
Um pouco de sorte no meio do azar
Esta lesão foi talvez o início do desespero do front office dos Pelicans. A tentativa de ser menos dependente de um lesionado crónico como Zion ia demonstrando ser foi também o início do fim para aquilo que poderia ter sido um projeto bem diferente na NBA. Em fevereiro de 2022, a equipa troca Josh Hart, Nickeil Alexander-Walker e a sua escolha de draft para os Portland Trail Blazers por CJ McCollum. A troca deu frutos imediatos e a equipa, que na altura estava com registo de 22-32 e estava no 12º lugar do Oeste, conseguiu equilibrar a temporada e garantir vaga no torneio play-in após uma sequência de 13-13 nos últimos jogos da temporada.
McCollum veio assumir-se como principal criador de jogo e foi determinante para os Pelicans conseguiram regressar aos playoffs pela primeira vez desde 2018, mesmo sem Zion Williamson. A equipa viria a ser eliminada na primeira ronda por 4-2 frente aos Phoenix Suns, que surpreendentemente foram vencedores da conferência Oeste nesse ano.
Assim sendo, 2022-23 foi talvez a melhor temporada de maior expetativa no projeto dos Pelicans. Uma equipa robusta e competitiva que contava com o regresso de Zion. Os Pelicans abriram a temporada com 23 vitórias e 12 derrotas nos primeiros 35 jogos. O trio Zion-Ingram-McCollum demonstrava um equilíbrio notório em campo que ia valendo várias vitórias ao conjunto de Nova Orleães.
Até janeiro, Zion tinha uma média de 26 pontos por jogo, enquanto McCollum de 21 e Ingram de 20, uma tríade interessante e que se demonstrava difícil de bater num Oeste cada vez mais competitivo. Mas nem tudo foram rosas e os Pelicans voltaram a ser amaldiçoados por lesões na segunda metade da temporada.
Zion voltou a contrair nova lesão, desta feita a 2 de janeiro de 2023 e não jogou mais na restante temporada. Também Brandon Ingram perdeu vários jogos devido a lesão e a equipa desceu do 2º lugar da conferência para o 10º numa questão de poucas semanas. A equipa segurou ainda o 8º lugar no final da temporada com um registo de 42-40 (o melhor desde 2017-18), mas acabou afastada no segundo jogo do play-in, frente aos Thunder.
A dependência de Zion continuava a ser notória e apesar de demonstrar competitividade, o plantel era frágil fisicamente. Em 2023-24, mesmo com todas as adversidades, a equipa demonstrou novo progresso e terminou com um registo de 49 vitórias e 33 derrotas e segurou novo lugar nos playoffs, novamente através do play-in depois de um 7º lugar na fase regular.
As três principais estrelas da equipa tinham estado saudáveis durante a grande maioria da temporada, mas adivinhe-se, Zion lesionou-se mesmo à porta dos playoffs em Abril e não voltou mais. A equipa foi eliminada por 4-0 na primeira ronda, novamente com os OKC Thunder como “carrascos”. A mesma conclusão de sempre, temporada após temporada.
O desespero do front office e tudo “água abaixo”
A época 2024-25 foi, mais uma vez, uma desilusão para os adeptos de New Orleans. Novamente assombrados por lesões, a direção da equipa desistiu do projeto e tentou em desespero continuar a cultivar competitividade num plantel que parece assombrado. A equipa tinha até adquirido Dejounte Murray no início da época, na esperança que colmatar a ineficácia da defesa, mas 24-25 foi mesmo o descalabro no projeto.
Em fevereiro de 2025, Ingram é trocado para Toronto por Bruce Brown, Kelly Olynyk (ambos saíram 4 meses depois) e uma escolha de primeira ronda dos Pacers. Em Junho, já depois de uma péssima temporada com registo 21-61 e uma nova ausência prolongada de Zion.
No draft de 2025, a gestão da equipa voltou a deixar vários adeptos incógnitos ao trocar a escolha de primeira ronda da equipa em 2026 para os Atlanta Hawks pela escolha n.º 13, que viria a ser Derik Queen, que tem somado já alguns minutos esta temporada. O problema? A equipa não tem a própria escolha no próximo draft – um cenário nada favorável para uma equipa que habita no fundo da tabela.
Ainda antes do draft também há que destacar a aquisição de Jordan Poole, numa troca que enviou CJ McCollum para os Washington Wizards. O base de 26 anos teve um começo discreto nesta temporada, mas pode vir a ganhar confiança para fazer mais (17 pontos por jogo).
Em 2025-26, os Pelicans continuam a tentar ter sucesso num projeto que foi amaldiçoado por várias lesões em momentos cruciais. No entanto, o tempo de a equipa brilhar já vai bem longe e a conferência Oeste é atualmente um lugar de titãs como há muito não se via. Sem futuro garantido, o front office dos Pelicans pode ser forçado a abdicar dos ativos que ainda possui e trocar alguns jogadores, sendo que uma troca de Zion seria mesmo o ponto final neste processo que nunca alcançou aquilo que muitos esperavam.

