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A que Porto leva este Farioli?

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A que Porto leva este Farioli? O treinador italiano chegou à Invicta este verão e o FC Porto, guiado por este farol, tem viajado em velocidade de cruzeiro em mar brando, onde só conheceu a tempestade quando visitou Nottingham.

Desde cedo, o treinador proveniente do Ajax registou a sua identidade: pressão alta, homem a homem a campo inteiro. Apesar de Farioli ter-se vindo a adaptar ao contexto em que se insere ao longo da sua carreira, a base começa aí: recuperação em zonas altas, de forma a promover transições rápidas. Gosta, também, que as suas equipas construam desde a sua própria baliza e encontrem espaços com mecanismos atrair-fixar-soltar, através de automatismos que também tem vindo a implementar nesta equipa do Porto.

Realçar ainda que, apesar de ideias modernas e progressivas, Farioli não descura o conservadorismo quando necessário, basta pensar nas vezes em que o Porto já apresentou uma linha de cinco, de forma a proteger o espaço, como fez contra o Benfica (ocasionalmente), respeitando os movimentos de Lukebakio, principalmente.

Contudo, ainda que o FC Porto tenha passado com alguma destreza no difícil teste de Famalicão, as exibições dos dragões têm vindo a cair de rendimento nos últimos tempos. O que se passa? Será possível que o Porto tenha estagnado mesmo antes de terminar a primeira volta?

Antes de mais, volto a frisar que a equipa do FC Porto já adquiriu a base fundamental das ideias do seu treinador. Já há uma identidade. Não obstante, é uma identidade que depende bastante da capacidade da equipa recuperar bola em zonas altas. Quando o Porto tem bola, dada a rigidez posicional dos seus jogadores, não explora muito o conceito de ataque posicional e recorre a automatismos para encontrar espaços na defesa adversária – nada contra isto, mas as outras equipas também aprendem a combater tais automatismos, o que irá forçar Farioli a inovar regularmente a fim de manter o efeito surpresa na sua equipa, uma vez que o seu sistema não promove a criatividade por si só.

Francesco Farioli FC Porto
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Creio que Francesco Farioli não tem muito mais para ensinar a este FC Porto. As suas ideias já lá estão, o seu sistema já está montado e funciona. Isto não quer dizer que o Porto já tenha chegado  ao seu potencial máximo, mas sim que o ónus da sua evolução tática já não passará tanto pelo coletivo, mas sim pelo individual e, mais que tudo, pelo individual dentro do próprio coletivo – parecendo que não, são duas situações diferentes.

Não acredito que o FC Porto evolua muito mais taticamente, mas sim que apresente nuances táticas adequadas ao contexto e até que Farioli implemente um ou outro automatismo extra com um fim pertinente, como, por exemplo, conquistar um corredor lateral e enquadrar o seu extremo. Aliás, o jogo em Famalicão é exemplo disto mesmo, onde já vimos Francisco Moura a aparecer em zonas interiores, contrariamente ao que acontecia antes, foi até assim que o Porto desenhou o seu golo.

O exemplo de Francisco Moura é pertinente porque abre um precedente para o que poderá ser a evolução do Porto e por onde poderá passar este progresso, que é pela própria interpretação dos jogadores do modelo de jogo, e isto nasce a partir da coligação entre as características do jogador e do contexto em que insere: Francisco Moura é um lateral confortável em zonas de construção e em migrar para o corredor central, então é natural que não tenha problemas em fazer a dobra ao seu extremo por dentro. Parece simples e banal, mas este tipo de movimentos são exatamente o que baralha as referências individuais adversárias e permite a criação de oportunidades de golo.

Rodrigo Mora FC Porto
Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

Rodrigo Mora é talvez o nome mais sonante neste tipo de tese e que também constitui exemplo. Isto é, um jogador jovem perder o seu lugar para um colega da mesma posição cujas características enquadram-se melhor no estilo de jogo do treinador é natural e faz parte da sua evolução. No entanto, acredito que a joia do Olival conquiste o seu lugar ao longo da época por representar a criatividade dentro da rigidez que já existe no sistema. O mesmo poderia escrever sobre William Gomes. Mais ainda, o mesmo posso escrever sobre De Jong e Deniz Gul.

Repare-se, Samu é um bom finalizador, mas tenho dúvidas que seja o ponta de lança mais adequado ao modelo de Farioli, ainda que talvez seja o melhor ponta de lança do plantel portista. Tem evoluído neste capítulo, mas Samu ainda fica aquém das expectativas enquanto pivô. Por outro lado, De Jong dá garantias nesta função por imposição física e Deniz Gul é um jogador-projeto que dará cada vez mais garantias enquanto produto.

Então, num cenário onde o Porto consegue cada vez menos construir de forma apoiada porque os adversários condicionam Alan Varela e já conhecem os automatismos que a equipa usa para desbloquear o jogo, a hipótese de jogar direto é válida e lógica; basta pensar no jogo que De Jong fez contra o Sporting e, por contraste, no jogo que Samu fez contra o Benfica.

Samu Nicolás Otamendi António Silva
Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

Agora pergunto: mesmo sabendo que teria que lidar com Otamendi, quantos passes diretos dos centrais receberia De Jong se tivesse apto para ir a jogo no clássico? Poder saltar a pressão ao jogar numa referência e, de seguida, enquadrar Gabri Veiga ou Mora será um aspeto tático a ter em conta.

Em última análise, acho que, a haver um crescimento do Porto, não passará por grandes mudanças táticas ou que a qualidade de jogo cresça por jogar um jogador em vez do outro. Acredito que, a haver esse crescimento, será pelo enquadramento das características dos jogadores num sistema que já funciona, sem comprometer o mesmo. Atendendo ao que é o modelo de Farioli e as características de jogadores como William Gomes e Rodrigo Mora, não acho que uma coisa seja incompatível com a outra.

Farioli tem aqui também um papel importante a desempenhar: rotatividade. Pela passagem de Roger Schmidt em Portugal, percebemos o que uma equipa mestre no momento da pressão pode fazer em Portugal, mas também vimos o que acontece quando os minutos começam a pesar nas pernas dos jogadores.

Promover duelos um contra um, ter vontade de os ganhar e viver nas transições rápidas são aspetos importantes para o combate ao próprio jogo posicional e uma forma adequada de exercer controlo em todo o campo, mas há que deixar o individual brilhar dentro do coletivo e manter as pernas frescas. Assim, talvez este Farioli chegue a bom Porto.

Rui Gonçalves
Rui Gonçalves
Licenciado em Sociologia, o Rui Gonçalves aborda o futebol dentro e fora das quatro linhas. Através de um olhar crítico, escreve sobre tática, gestão desportiva e os seus impactos individuais e sociais.

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