Depois de estalar a polémica entre Tiquinho Soares e Sérgio Conceição o FC Porto decidiu proceder ao resgate de Gonçalo Paciência, que se encontrava cedido a título de empréstimo ao Vitória FC. Não é possível ter a certeza dessa relação causa/efeito mas o que é facto é que o timing desta operação em tudo o indica.
Independentemente da razão que levou ao regresso de Gonçalo, importa perceber que benefícios isso poderá trazer ao clube e, principalmente, a um jovem jogador que parecia estar finalmente a afirmar-se na Primeira Liga. Aos 23 anos de idade e após empréstimos fracassados à A Académica de Coimbra, Olympiacos FC e Rio Ave FC, o filho de Domingos, antiga glória do clube, parecia condenado a ficar na sombra do pai e a não confirmar todos os créditos e expetativas criadas depois dos seus desempenhos nos escalões de formação do clube. O próprio André Silva, mais novo que Gonçalo, conseguiu um lugar ao sol primeiro que o segundo rebento do clã Paciência. O que é certo é que pela mão de José Couceiro, Gonçalo estava a realizar uma época de altíssimo nível, com o apogeu a dar-se na Taça da Liga onde quase levava o Vitória FC à vitória final com várias belíssimas exibições.
Chega agora ao FC Porto mais maduro mas com uma tarefa substancialmente mais espinhosa. Aboubakar e Marega estão de pedra e cal, Waris foi contratado, e há ainda Tiquinho, que a julgar pela convocatória para o jogo com o SC Braga é, agora, a última opção.
No que toca às qualidades individuais, Gonçalo parece ter tudo para se vir a afirmar como um ponta de lança de nomeada. Com o espírito de sacrifício e dedicação certos poderá mesmo vir a ser um caso sério no nosso futebol. Em termos de talento individual Gonçalo parece-me, até, bastante superior ao já aqui mencionado André Silva. É muito completo. Forte a jogar de costas para a baliza, é dotado de uma técnica apurada e tem velocidade quanto baste para explorar a profundidade. É móvel mas fisicamente possante e é, igualmente, forte no jogo aéreo. Faltar-lhe-á o faro de golo e instinto matador mas essa não parece ser, de facto, caraterística abundante nos avançados com passaporte português.
No entanto, aos 23 anos é essencial que possa explorar o seu talento com regularidade e que tenha os minutos suficientes para provar o seu valor e a margem de manobra para errar antes de se afirmar. Custa-me a crer que o FC Porto seja, por esta altura, a melhor solução para a carreira do jogador e parece-me que seria benéfico para todas as partes que Gonçalo pudesse terminar a época em Setúbal e fazer a transição para a casa-mãe apenas no final da temporada. Por paradoxal que possa parecer, considero que a incorporação num grande como o FC Porto acaba por diminuir as suas chances de estar presente no Mundial (já não eram muitas, diga-se) já que, em principio, terá um tempo de jogo infinitamente inferior ao que vinha tendo no Sado.
Ainda assim, a esperança de ver Gonçalo Paciência a brilhar vestido de azul e branco é muita e cabe ao jogador conquistar o seu espaço nas opções do treinador e mostrar que é uma alternativa válida aos dois africanos que moram, atualmente, na frente de ataque do FC Porto.
Foto de Capa: Facebook do FC Porto
artigo revisto por: Ana Ferreira