Meu querido mister e amigo Fernando
Nunca fui, na vida ou no mundo do futebol, alguém que se escondesse do que quer que fosse. Sempre me pautei por valores como a integridade, a honestidade e o enfrentar de cada situação sempre de frente e assumindo sempre uma postura de veracidade e realismo.
Assim, não entenda que me estou a esconder nestas palavras, até porque de escrita percebo muito pouco. Estou sim simplesmente a ceder ao realismo que não me larga as pernas quando corro e o coração quando repouso.
Não, não o quero fintar em cada uma destas letras, nem quero fazer uma trivela em cada vírgula deste texto que prometo ser curto. Quero somente comunicar-lhe aquilo que já ambos sabemos: o meu tempo de selecção, de vestir esta maravilhosa camisola, de dar pelo meu país e por este grupo cada gota de suor com a alegria de quem ama este maravilhoso mundo da bola e este maravilhoso país, está, infelizmente, a chegar ao fim.
Os anos também passam por mim. É uma verdade à qual o Quaresma não pode fechar os olhos. Mesmo que o Ricardo esteja novo e fresquinho que nem uma alface. Mesmo sentindo em mim a capacidade de poder dar algo de diferente ao meus país, entendo também que chegou a hora dos mais novos: do Gonçalo, do Gelson, do Bruma ou do Ronny, ou mesmo de ‘meninos’ que estão agora a ‘nascer’ para este mundo que pode ser tão cruel quanto mágico e encantado.
Não entenda estas linhas como a minha ‘carta de rescisão’. Porque eu nunca conseguiria rescindir consigo e com o meu país. Veja-a como uma ‘carta de intenções’. Consigo e com o meu amado Portugal, o contrato é vitalício. Para sempre! Como para sempre ficarão cada uma das memórias e das emoções vividas com esta camisola e em especial consigo à frente desta nau digna dos nossos antepassados.
Por si faria mil e uma trivelas até que uma delas fosse bafejada pela sua fé, pelo seu optimismo e confiança. Para e por si procuraria o passe mágico digno do Harry Potter (onde isto já vai?). Por si o Mustang comeria alcatrão mais rápido que o Ronaldo chega aos 40 golos todos os anos.
Prometo que em breve estaremos juntos. Será curto esse pedaço de tempo, porque na sua presença todo o tempo passa demasiado rápido. Ensinou-me e influenciou a minha vida de uma forma que eu jamais pensava ser possível por um ‘mero’ treinador. Mas no fundo eu, e todos os que consigo colaboram, sabem que o simples mister é, afinal, o nosso amigo Fernando. Obrigado também por isso, e por estes anos dourados do Futebol Português, mas, acima de tudo, por este dourado ter sido pintado pela sua sabedoria, bom senso, humildade e realismo.
Termino assim estas breves linhas, como termino em breve esta longa caminhada, não evitando que toda a nostalgia percorra cada gota do meu sangue, mesmo sabendo que o futuro deste pais que amo está de forma excepcional entregue a maravilhosos atletas e pessoas e a um timoneiro que ficará na história deste país.
Um abraço do tamanho do país que nos une.
Ricardo Quaresma
Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência
Foto de Capa: FPF