
O Benfica não foi além de um empate 1-1 frente ao Rio Ave, num encontro que marcou o regresso de José Mourinho ao Estádio da Luz e acertou as contas do calendário. O emblema encarnado viu o encontro da primeira jornada ser adiado, devido ao jogo contra o Nice, que remonta ao acesso à Champions League. A história da partida é curta, com uma primeira parte aborrecida de parte a parte.
Os vila-condenses desde o primeiro minuto que anunciaram para o que vinham. Sotiris Silaidopoulos apresentou alterações surpreendentes no onze inicial, deixando nomes como Nikos Athanasiou, André Luiz e Clayton Silva no banco. A razão? A poupança física dos atletas. No entanto, o plano funcionou, com o Rio Ave a fechar bem a zona central e a permitir poucas chances ao adversário, a maioria sem perigo, e conseguindo sair em contra-ataque.
No segundo tempo, o domínio do Benfica acentuou-se, com o Rio Ave totalmente encostado às cordas. José Mourinho, a partir das 65’, optou por jogar com extremos de raiz, o que ainda melhorou a prestação da equipa. Dodidi Lukebakio e Andreas Schjelderup procuraram agitar o encontro e conseguiram. O belga fez a assistência para Georgiy Sudakov bater (finalmente) Cezary Miszta, aos 86’. Porém o balde de água fria ainda estaria por chegar. André Luiz, um dos craques que Sotiris Silaidopoulos optou por deixar no banco, colocou a bola para fazer um golaço, sem chances para Anatoliy Trubin, aos 90+1’. O Estádio da Luz, que pouco tempo antes tinha entrado em estado de apoteose e festa, remetia-se ao silêncio e aos assobios, fazendo lembrar o malogrado encontro frente ao Santa Clara.

Quando Sérgio Guelho deu o apito final, havia uma sensação de injustiça. O Benfica fez o suficiente para ganhar, mas o Rio Ave mostrou raça durante os 90’ e uma concentração muito acima da média. Os nortenhos estudaram bem o adversário e conseguiram um ponto. Ainda assim, não sabem o que é ganhar na Primeira Liga em 2025/26.
Já do lado dos da casa, José Mourinho perdeu os seus primeiros pontos, mas conseguiu melhorar o jogo da equipa principalmente na segunda parte, podendo apostar em extremo puros na próxima partida, dado o fraco desempenho nos primeiros 45’.
Dois aspetos chamaram à atenção durante este encontro e é neles que o texto se vai concentrar. O primeiro está relacionado com as nacionalidades em campo. Ao olharmos para a ficha de jogo, vemos apenas um português dentro dos jogadores que integraram os onzes iniciais: António Silva. Dentro de campo estavam três gregos: Vangelis Pavlidis, Andreas Ntoi e Marious Vrousai, que é capitão do Rio Ave, com relativamente pouco tempo de casa.
Na convocatória das duas equipas, existiam apenas seis jogadores lusos, sendo que os nortenhos tinham somente João Graça como opção. De resto, o Rio Ave desde o começo do campeonato não utilizou nenhum português. João Graça e João Tomé são os únicos elementos portugueses que fazem parte do plantel, depois da saída de João Novais. Esta situação é gravíssima e a Liga Portugal deveria realizar mudanças na legislação já para a próxima época.

O Rio Ave é detido por Evangelis Marinakis e faz parte de um grupo de multi-propriedade, o que faz com que seja normal a existência de várias nacionalidades no plantel, já que o objetivo é a valorização de jogadores. Contudo, é básica a presença do atleta português (ainda que o mesmo esteja cada vez mais caro). São 16 os países presentes nesta Sociedade das Nações, com Grécia (seis jogadores), Brasil (cinco jogadores) e Inglaterra (três jogadores) a contarem com uma maior representação que Portugal. O clube está numa zona que é um viveiro de talento e já foi certamente ultrapassado por todos os seus vizinhos no que diz respeito à retenção dos mesmos. Afinal, que jovem deseja ir para Vila do Conde perante esta situação? Com isto, não se quer dizer que o plantel do Rio Ave não tenha qualidade. Bem pelo contrário, seguramente há jogadores que vão acabar por dar o salto (Brandon Aguilera, Nikos Athanasiou, Andreas Ntoi ou Cayton Silva podem inclusivamente piscar o olho a um dos grandes do futebol português). A equipa está a cumprir as normas e a aproveitar-se delas, de acordo com o seu projeto. Quem terá que se mexer é a Liga Portugal, já que a mesma corre o risco de ver o seu próprio talento rumar a outros países, caso não aperte com as regras. A aposta no jogador estrangeiro não é incorreta, mas há que haver um balanceamento, algo que faz parte da própria gestão. A tendência, com os grupos de multi-propriedade a chegarem em força a Portugal, é este fenómeno aumentar.
O Benfica também não é ‘inocente’. Todos os jogadores que estavam presentes na convocatória para a partida da segunda-feira passada eram da formação e a maioria soma poucos minutos na Primeira Liga. A dupla Rui Pedro Braz/Rui Costa optou por apostar nos mercados externos, ignorando o futebol nacional. É uma política e a mesma tem que ser respeitada, mas dados os resultados não seria de estranhar uma mudança radical a partir de janeiro. Afinal, José Mourinho conquistou a Europa com o FC Porto apostando em elementos da Primeira Liga.

Outro ponto que chamou a atenção durante o Benfica x Rio Ave foram as perdas de tempo de Cezary Miszta. O polaco é um dos melhores guarda-redes do campeonato e um titular absoluto do Rio Ave. Porém, a sua atitude mereceu críticas de José Mourinho e assobios praticamente desde o começo do encontro. Sérgio Guelho esteve francamente mal neste aspeto (foi uma arbitragem aquém), alimentando a má atitude do guardião, quando poderia ter-lhe mostrado o cartão amarelo ainda na primeira parte. Os adeptos querem ver um futebol positivo, com um bom tempo útil de jogo e a Primeira Liga está na cauda da Europa devido a estas atitudes. Outrora estávamos habituados a que os guarda-redes começassem a tardar a repor a bola mais perto do final dos encontros, algo que ainda acontece hoje em dia. Gostando-se ou não é normal. Todos o fazem. Porém, arrancar com esta má atitude ainda nos primeiros 45’, tem que ser punível. José Mourinho comentou o tema e a razão tem que lhe ser dada:
«É o futebol atual, que eu não sou obrigado a gostar. Não gosto deste tipo de golo anulado, seja para um lado ou para o outro. Não quer dizer que eu esteja a ser crítico. Honestamente, não acho que seja golo para ser anulado. Um jogador que eventualmente simula fora da área, aos 5 minutos de jogo, leva cartão amarelo? Nem sei se simulou. Mas há jogadores que passam o jogo todo a retardar, mas lá está, são critérios. Não gosto de ir por aí, não foi por aí, não foi pelo árbitro que não ganhámos. Responsável o Rio Ave pela estratégia que utilizou ao nível emocional, de parar o jogo e retardar o jogo. Responsabilidade do árbitro e disse-lhe ao intervalo: por que razão não dá um cartão amarelo a um guarda-redes ao minuto 15 ou 20? Porque se isso acontece, o jogo é completamente diferente. Árbitros também têm responsabilidade de melhorar o futebol, como nós. Eu também já fiz o mesmo e talvez vá fazer outra vez».
O Benfica 1-1 Rio Ave ficará para a história como a primeira perda de pontos de José Mourinho no seu regresso à Luz. Contudo, se as suas críticas forem apontadas e existirem alterações, todo o futebol português ficará a ganhar.

Bola na Rede na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: Realizou algumas alterações para esta partida, deixando certos jogadores no banco. Um deles foi o Nikos Athanasiou, que tem sido titular na esquerda. Por que razão colocou neste encontro o Omar Richards?
Sotiris Silaidopoulos: Primeiro que tudo, foi gestão. O Nikos jogou todos os encontros desde o começo da temporada. Ele jogou contra o FC Porto muitos minutos e temos que de começar a adaptar os novos jogadores à equipa e aos seus costumes. Foi uma boa oportunidade para utilizar o Omar neste jogo, dando-lhe minutos contra o FC Porto e colocá-lo contra o Benfica como titular. Necessitamos que toda a gente esteja em forma. É muito importante ter o Omar, o Nikos e todos os rapazes em forma para que possam ser utilizados em todos os jogos.