
João Diogo Manteigas foi o primeiro candidato a anunciar a sua intenção de liderar o Benfica a partir de outubro de 2025. Aos 42 anos terá aqui a sua primeira oportunidade de chegar ao seu lugar de sonho e de retribuir ao emblema do coração, tudo o que o mesmo lhe proporcionou. Com um projeto realista e abrangedor, promete colocar a instituição no lugar que merece, como explicou em longa entrevista ao Bola na Rede.
Bola na Rede: O João Diogo Manteigas tem 42 anos, é um advogado de sucesso no ramo do direito desportivo. É igualmente um comentador conhecido da nossa praça. O que o levou a candidatar-se às eleições do Benfica?
João Diogo Manteigas: Agradeço a palavra do sucesso, mas não (risos). Quem indica esse sucesso são os clientes e mais tarde os benfiquistas, se tudo correr bem. É uma pergunta que tem que ser feita a todos os candidatos assumidos. Há razões pessoais e profissionais. Ao nível pessoal, como não me canso de repetir, quer retribuir ao Benfica tudo aquilo que o Benfica me deu e me dá, independentemente do sucesso ou insucesso desportivo e institucional. Tenho esse sentimento de gratidão por aquilo que o Benfica me faz sentir, à minha família e aos mais próximos. Quero retribuir profissionalmente aquilo que o Benfica me deu. Fazendo um link para a parte mais profissional, eu sempre me quis ligar à área desportiva. Formei-me em direito, a partir do momento em que chego ao último ano do curso, já trabalhava na área desportiva, fruto de conhecer várias pessoas ligadas ao desporto. Também conhecia jogadores e treinadores, fruto do meu pai. Ele era jornalista desportivo. Por via dele consegui muito o Benfica por dentro e também conheci muito stakeholders ao longo da nossa vida, até ele ter falecido no ano passado. Tudo isto nos PALOP, tenho uma ligação muito vincada com estes países. O meu pai era um dos da RDP África e até morrer foi sempre uma cara conhecida do que é o desporto para África. Quando comecei a trabalhar foi totalmente intencional dedicar-me ao desporto, através da área do direito e da gestão. Tenho muitas formações na área, desde 2007. Comecei a trabalhar muitos anos pro bono, é assim que é no nosso país, mas ganhei muita experiência e contactos. É uma questão de trabalho e de sorte. Quanto mais nos dedicarmos ao trabalho, mais sorte temos. Estive sempre ligado ao Benfica. Entrei no clube através da BTV. Comecei a ir a alguns programas de opinião e depois tornei-me residente. Tinha um programa que era “As Regras dos Jogos”, tenho mesmo muitas saudades de fazer aquilo. Mas consegui ter a oportunidade de começar a dar-me a conhecer aos benfiquistas. Na parte profissional, tendo em vista a minha visão, há pressupostos que eu entendo que são essenciais. Eu tive que esperar para poder ser candidato à presidência do Benfica. O clube tinham os estatutos que somente me permitiam candidatar este ano. Vou fazer 43 anos em outubro. Já nem falo dos novos estatutos, já que reduziu a idade. Tínhamos que ter 25 anos de sócio efetivo. Agora já não é assim, o que é ótimo. Eu não gozei dessa prerrogativa, mas fico contente que no futuro isso possa acontecer. Preparei-me durante 18 anos para este efeito. Tenho muita energia e vontade. Recuso-me a aceitar o estado atual do Benfica em determinados pontos de vista. Um deles é que se instale a cultura de derrota. O Benfica não pode continuar a gastar milhões e não ser campeão. Nos últimos quatro anos temos uma Supertaça, uma Taça da Liga e um campeonato. Isto é manifestamente insuficiente para o dinheiro que tem sido investido. Vou provar a todos os benfiquistas que é perfeitamente possível fazer mais e melhor com ilustres benfiquistas desconhecidos.
Bola na Rede: Vamos tocar em vários pontos nesta entrevista. Essa cultura de derrota que o João referiu, acredita que foi alimentada no último mandato?
João Diogo Manteigas: Repare, exponenciou-se. Na minha opinião nós temos que segmentar essa possibilidade que é efetiva. É um facto que infelizmente existe esta cultura. Instalou-se um sentimento ainda mais profundo de insatisfação porquê? Em 2021, quando Rui Costa se apresentou como candidato, tinha algo que eu considero que é único na história do Benfica. Era alguém que tem um benfiquismo inquestionável e um perfil inquestionável. Era benfiquista e era puro. Era e é, naquilo que é a sua emoção pelo Benfica. Não estou a passar a mão pelo Rui Costa, isto é reconhecido publicamente. Foi dada uma hipótese a alguém de poder fazer muito mais e melhor. A experiência dele no setor desportivo era uma mais valia, ele não tinha experiência de gestão, mas poderia rodear-se de pessoas que tivessem tal experiência, o que não foi o caso. Quando você me pergunta se esta insatisfação se aprofundou nestes quatro anos eu tenho que lhe responder que sim. Em 2021 a expectativa subiu muito, fruto de quem era Rui Costa. Se não tivesse sido o Rui Costa a fazer este mandato de quatro anos eventualmente essa sensação de ter que ganhar tudo não existiria tanto. Essa exigência não seria tão grande. Viemos de alguém que tinha acabado de ser detido e as expectativas e o sentimento benfiquista estava de rastos. Também temos de falar da factualidade da situação. O Benfica desportivamente e institucionalmente não conseguiu bons resultados. Rui Costa provou que não está à altura do cargo.
«É-me indiferente o objetivo do jogador, mas tem que ser condizente com as minhas necessidades, intenções e projeto. Se o objetivo dele for ir para o City ou United, mas para isso ter que marcar 50 golos por época, perfeito. Porém, não vai ser tão fácil negociar com o Benfica como tem sido até agora».
Bola na Rede: Caso vença as eleições em outubro, terá um plantel que não foi feito nem por si, nem pela direção desportiva. Qual a sua avaliação do plantel do Benfica?
João Diogo Manteigas: O plantel não foi constituído pela nossa direção, pela gestão de quem está de fora e ou por quem ganhe as eleições. É um plantel que me satisfaz q.b.. Considero que em determinados casos houve a contratação de jogadores caros. O Benfica teria um problema financeiro caso não chegasse à fase de liga da Champions League, mas alcançaram tal meta. Vi com alguma estupefação a saída do Tiago Gouveia. Ele esteve perto de sair no último mercado, tudo o que digo é com conhecimento de causa. Acabou por ficar, e bem, mas lesionou-se. Acho que nos reforços, houve pagamentos excessivos. Estou sob avaliação com o Rafael Obrador. Até agora a indicação é boa. O Dedic também, o Bah está lesionado. Gostaria de ver o Leandro Santos jogar mais, mas o Dedic parece-me bem. O Samuel Dahl não tem tanta propensão defensiva, mas a nível ofensivo e físico acrescenta. Ainda assim, acho que o preço negociado foi esticado porque eventualmente o Benfica se colocou a jeito. Depois existem duas contratações que saem fora daquilo que devem ser a razoabilidade financeira que tem que existir: Richard Ríos e Franjo Ivanovic. São os dois bons jogadores, não questiono. Quando digo que são bons, significa que para a realidade portuguesa têm tudo para vingar. Aqui o que falamos é de valores. Quando vou contratar o Rios ao Palmeiras, e com experiência própria, com a Leila do Palmeiras, eles têm uma tendência negocial a não facilitar. A mim pareceu-me que foi facilitada demais. Parecia-me que não era um jogador essencial para o Abel e para a Leila. O Palmeiras tem dinheiro, está bem financeiramente. Assim sendo, vai para a mesa negocial de outra maneira. Ainda assim, é cedo para falar. Porém, uma contratação elevada, tem que mostrar logo qualquer coisa e o Rios ainda não o fez. Acho que está lá, mas ainda não o fez. Temos o exemplo do Orkun Kokçu. Teria que ter acrescentado muito mais. É tudo importante: cultura, religião, etc.. O caso do Ivanovic também é curioso. É pago a peso de ouro a um clube que se tem vindo a impor na sua liga, mas não é um clube historicamente importante. Eu gosto muito do Ivanovic, mas não gostei da falta de controlo da comunicação do Benfica, quando ele disse que eramos uma espécie de trampolim. Eu quero acabar com isto. Os jogadores até podem pensar isso, mas quando estamos a negociar diretamente temos que sentir que o jogador tem que se entrosar completamente com aquilo que é a história e os valores do Benfica. Eu por mais que eu aceite que Portugal é um ponto de partida para outros voos, eu percebo pelo modelo da necessidade dos clubes terem que vender. Eu percebo isso. Outra coisa é a minha missão. Eu para ganhar tenho que ter a certeza que por mais que o jogador queira dar o salto para fora, tem que estar completamente entrosado e faz tudo o que necessário para ganhar. Se o jogador quer ir para a Premier League em dois anos, tem que dar o litro, tem que dar muito mais do que os jogadores têm dado. É-me indiferente o objetivo do jogador, mas tem que ser condizente com as minhas necessidades, intenções e projeto. Se o objetivo dele for ir para o City ou United, mas para isso ter que marcar 50 golos por época, perfeito. Porém, não vai ser tão fácil negociar com o Benfica como tem sido até agora.
Bola na Rede: Falando em termos financeiros, sendo que até podemos colocar o Sporting e o FC Porto na equação, acredita que o Benfica não necessita de fazer uma grande venda por ano?
João Diogo Manteigas: Não se trata de ser uma grande venda ou duas grandes vendas ou três. O Benfica tem que vender. Isso é assumido, não é uma questão de ser um número de jogadores, isso tem a ver com quem gere e decide. Podemos colocar isto em dois pontos. Em Portugal, há este modelo de negócio, que são as vendas extraordinárias, que são as receitas extraordinárias que as SAD’s têm para dar um boost. As receitas ordinárias, num mercado tão pequeno como o nosso, são bilhética, patrocínios, merchandising, falamos também de direitos televisivos, que são essenciais. O objetivo económico-financeiramente falando é termos as receitas ordinárias necessárias para alcançarmos o sucesso do projeto. As receitas extraordinárias deverão servir para complementar, para quando queremos excecionalmente preparar qualquer coisa. Um exemplo prático: as receitas ordinárias do Benfica deveriam servir para sustentar o projeto desportivo. Mas seu eu quisesse apostar na Champions League eu faria algo extraordinário. Ainda assim, há aqui vários problemas, podemos até chamar de nuances. Eu entendo que no futebol é exatamente ao contrário. O sucesso desportivo é o que alavanca o sucesso financeiro. Eu tenho que ganhar dentro de campo para poder ganhar mais dinheiro. Porque é que eu digo isto? O Ferran Soriano, antes de ir para o Manchester City, quando ainda estava no Barcelona, disse algo muito interessante: o futebol tem determinadas condições que são completamente excecionais daquilo que é o mercado socio global e até económico mundial. Tem um modelo em que o que interessa é ganhar. A matriz é que um ganha e o outro perde, o empate não conta. Segundo, são sociedades desportivas que não existem para dar lucro, mas também não podem ter prejuízo. O modelo implementado em Portugal foi profissionalizado obrigatoriamente pelo governo português. Os clubes não podiam continuar a vender da dívida, o célebre totonegócio, em que a Federação também teve que bancar e apoiar os clubes para pagarem as dívidas ao estado. Terceiro, a maioria dos nossos jogadores são jovens, não estão preparados para a vida no seu período mais essencial, de estabilização. Agora existem as redes sociais que dão uma visibilidade incomum e ganham dinheiro. Os jogadores têm salários muito elevados. Quarto, todos os treinadores de bancada estão no estádio. Todos de origem diferentes, com trabalho diferentes e entendem que têm tanto ou mais competência que as pessoas que estão a gerir o clube. Quinto, o sucesso desportivo é que alavanca o sucesso financeiro. O sucesso de uma sociedade desportiva é determinado se se ganha ou não ganha. Se chegar ao pé dos acionistas da SAD do Benfica e garantir dividendos, o acionista não quer saber disso. O acionista não compra as ações para ganhar dinheiro, mas sim por emoção ou ligação. Se falarmos em empréstimos obrigacionistas é diferente, são investidores que querem ganhar o seu dinheiro. Quando me pergunta se o Benfica tem que vender jogador eu digo que sim, porque o modelo implementado em Portugal é de compra e venda de jogadores, que está cada vez mais a passar a ser uma receita ordinária. O Fernando Gomes defendia isto, até deu espaço na Segunda Liga às equipas B para formarem e venderem jogadores. Isto é assumido pela Federação e pela Liga. É alimentado por estes órgãos. Depois tem tudo a ver com a gestão de cada clube. O Benfica tem um défice anual à volta dos 71 milhões de euros. Isto significa que tem que estar constantemente a vender. Não está relacionado com a mais valia. Sabemos que quando vendemos jogadores da formação passamos a ter uma mais valia maior, não existe um valor de custo. Porém a questão é que o Benfica é deficitário na tesouraria em 71 milhões de euros. O Benfica tem que encontrar uma forma de superar esse valor em rendimentos. Isto é um problema. Enquanto não alterar o processo que eu tenho a ideia que está relacionado com o modelo desportivo e financeiro, nada vai mudar. O Benfica é um entreposto de jogadores, uma trading. Nos últimos quatro anos, o Benfica contratou muito e vendeu muito. São mais de 400 milhões de euros em contratações.
«Acho que o Benfica tem equipa para se bater com qualquer clube de França, até mesmo com o PSG. Já provou isso. É possível lutar pela Champions com condições que nos são completamente alheias, como a sorte, o sorteio. Acho que é possível mais perto do final do mandato, com a estabilização do projeto económico, financeiro e desportivo o mais depressa possível».
Bola na Rede: Em 2025, é irrealista pensarmos no Benfica com um sonho europeu, ou seja, que as águias podem conquistar uma Champions League?
João Diogo Manteigas: Eu acho que é realista, mas não no imediato. Temos mandatos de quatro anos no Benfica. Eu foco-me nos quatro anos, não consigo pensar nem a oito, nem a 12. Não faz sentido, eu tenho que preocupar-me com a atualidade do Benfica. A projetar para o futuro, mas com a realidade do clube na mente. Eu sei como funciona o clube, sei o que tenho que fazer para dar a volta. Reuni as pessoas à minha volta que me dão as garantias necessárias para dar a volta no problema que temos que assumir quando entrarmos. Quando me pergunta sobre o sucesso desportivo ao nível europeu, não lhe posso mentir. Tenho o sentimento e a emoção que está sempre conectada com isso. Quando estou a competir na Champions, por mais que tenha um plantel de grande qualidade, embora abaixo dos emblemas de topo das Big 5, é futebol. O Benfica pode sempre fazer uma brincadeira, chamemos-lhe assim. E no futebol também é preciso ter sorte. Fomos aos quartos de final frente ao Inter Milão, acho que tínhamos equipa, caso passássemos essa fase, tínhamos equipa para chegar à final contra o City. O futebol dá-nos essa experiência passada. Um underdog pode ganhar. Eu não gosto de dizer que o Benfica é um underdog, mas em termos financeiros tem que o ser, a comparar com as principais ligas europeias. Ainda assim, coloco França à parte. Acho que o Benfica tem equipa para se bater com qualquer clube de França, até mesmo com o PSG. Já provou isso. É possível lutar pela Champions com condições que nos são completamente alheias, como a sorte, o sorteio. Acho que é possível mais perto do final do mandato, com a estabilização do projeto económico, financeiro e desportivo o mais depressa possível. Temos igualmente que fazer uma reestruturação económico-financeira. Se nos mantivvermos em cima, sempre a ganhar campeonatos, conseguimos evitar as fases mais difíceis pelo caminho. Acho que é perfeitamente possível vermos o Benfica ganhar a Champions, embora coloque dúvidas no imediato.
Bola na Rede: A estrutura do Benfica tem sido notícia nas várias semanas, com entradas e saídas, como os exemplos de Rui Pedro Braz ou Lourenço Coelho. Qual é o seu plano para esta estrutura? Já tem nomes pensados?
João Diogo Manteigas: Tenho os nomes todos pensados e todos fechados. Não vou revelar nenhum, não me vou desviar de perguntas. Eu aprendi muito com a candidatura. Ainda mais do que aquilo que eu pensava. Eu tenho que responder ao que obedece a factos. As pessoas associam-me nomes conhecidos da área, não estou a dizer que são nomes reconhecidos a nível mundial. Ainda assim, essas pessoas trabalham, estão sob contrato. Eu para anunciar um diretor desportivo, que faz parte da estrutura, tenho de vencer as eleições. A minha estrutura tem um diretor desportivo e um diretor desportivo para o próprio Campus, para tornarmos aquilo uma máquina mais afinada, com uma maior capacidade profissional. Os nomes estão fechados, os nomes vêm comigo. Não digo o nome porque seria desrespeito para a entidade com quem funcionam. Falei com as pessoas e com as entidades. Posso dizer é o perfil. Eu serei o presidente da SAD e ficarei com o pelouro do futebol e da comunicação, que é uma área que me diz muito e que é necessária uma remodelação. Haverá um diretor de comunicação para o grupo Benfica, que se vai dedicar a tempo inteiro. É alguém que conhece o Benfica tão bem ou melhor do que eu, um profissional na área. O perfil dos diretores desportivos é muito importante. Para mim, o Benfica tem que ter os melhores jogadores em Portugal e isso implica que terá que se prestar atenção ao mercado nacional. O Benfica até pode prestar atenção pelo scouting ao futebol português, mas connosco vai adotar uma política de captação dos melhores jogadores em Portugal. Obviamente que há limitações. Não consigo chegar ao pé de Sporting e FC Porto e negociar diretamente com eles. Vão-me pedir valores exorbitantes e irreais. Porém, tudo o resto o Benfica deve ter. O Benfica tem que competir com os maiores rivais naquilo que é o futebol nacional. Vou-lhe dar um belo exemplo. Tenho visto ao Leonardo Lelo, que atua no Braga, com alguma atenção. Não pelo Benfica, mas pelo meu trabalho na área. Sempre me falaram bem no jogador. O Benfica manifestou supostamente intenção no jogador. Estou agradado com as suas exibições e trata-se de um bom exemplo de um bom jogador que existe. Gustavo Sá é outro, mas aqui já tem uma idade distinta e no Benfica há jogadores com esse perfil, não é necessário gastar dinheiro. Eu quero um diretor desportivo que conheça muito bem o futebol português, que tenha experiência não apenas em Portugal, mas também lá fora, e de preferência que seja ex-jogador. Os ex-jogadores entendem-se entre eles. Eu acho que as pessoas deduzem isto. A comunicação deles é muito própria. Eu conheço o nosso diretor desportivo e o nosso sub-diretor desportivo. O nosso diretor desportivo foi um ex-jogador, que passou pela seleção, mas que teve algumas lesões. Ele recentemente contou com um jogador no clube para o qual trabalha em que ele é que tratava da comunicação com o próprio atleta, porque passou pelo mesmo problema. Podia ser o departamento médico, que faz o seu trabalho, ou um vice-presidente, mas é ele quem faz isso, devido à sua experiência. É uma comunicação muito própria e isto é meramente um exemplo. Tem que ser um diretor que também se saiba relacionar com jogadores, empresários, treinadores e dirigentes. Isto é muito importante. Eu não quero um diretor desportivo que saiba usar o Wyscout. Claro que sim, mas o Benfica tem o melhor departamento de scouting de Portugal e um dos melhores do mundo. O departamento não está é afinado e tem vícios internos, que nós queremos acabar. O scouting deve ter muito mais preponderância do que aquilo que tem. Isto é uma oportunidade de afinar novamente, com pessoas novas, com pessoas bem capazes que já lá estão. Merecem e vão ser durante o meu mandato responsabilizadas no bom sentido para terem mais preponderância também. Queremos criar um modelo que é transversal. A identidade Benfica, todas as pessoas que vão entrar comigo sabem o que é trabalhar com identidade própria. É fundamental que as pessoas conheçam os valores emergentes em Portugal. Além disto, a formação do Benfica tem que circular, com novos CFT’s, com polos em outros sítios, em várias confederações. Isto é muito importante. Eu gostava muito de ter um jogador por confederação na formação. Gostava de dar essa experiência, de dar esse espaço e essa oportunidade a jogadores de confederações distantes, de maneira a serem exemplos para outros jogadores que podem vir no futuro.
«Queremos que os jogadores sintam a responsabilidade a aumentar e o que é ser profissional o mais depressa possível, para sabermos quem tem capacidade para o serem. O objetivo final é chegar ao final do mandato com 50% da formação na equipa A, um pouco à imagem com aquilo que a Real Sociedad faz, embora aí a tendência seja 60%».
Bola na Rede: Estamos perto de fechar o capítulo do futebol. Gostaria que falasse da formação do Benfica e da sua importância no seu projeto.
João Diogo Manteigas: É fundamental. O nosso modelo é construído através do modelo de formação, é mais sustentável financeiramente. Nós chamamos o modelo da gestão da otimização do valor de mercado das equipas. Isto é composto por três grandes princípios. Há que ter uma maior gestão dos contratos. Quando entrarmos em outubro, temos de analisar o plantel. Tenho que me sentar à mesa com o treinador e o diretor desportivo, onde explicamos o nosso modelo. O treinador, seja ele quem for, é essencial para nos falar do plantel. Queremos saber o que ele acha do plantel, é a pessoa que lá está. Isto implica que nós tenhamos que perceber que jogadores contam para o treinador e os que não contam. Há jogadores que estão motivados, outros desmotivados e isso acontece. Temos que gerir isso e preparar o futuro imediato. Isto também está relacionado com o mercado de janeiro, ainda que tenha alvos em mente, eu trabalho na área. Eu respeitarei sempre a opinião do treinador, tem que ser uma decisão unânime. Também temos que melhorar os contratos dos jogadores essenciais. Dou um exemplo: António Silva é um dos jogadores mais importantes e não renovou, é essencial renovar, tal como aconteceu com o Rúben Dias no Manchester City. A formação é outro ponto. Tem que existir uma aposta de risco e eu tenho que assumir isso. Serei a cara e o máximo responsável por esse efeito. A aposta na formação vai ser a grande marca made in Benfica. Temos valores seguros como o Leandro Santos. O João Rego é um jogador que eu gosto muito e Bruno Lage não tem apostado nele. Sei que estão a tentar renovar com ele e a meter-lhe aquelas cláusulas de 100 milhões de euros, o que levanta um problema na gestão do próprio jogador. O que me dá a entender é que jogador não joga mais porque não renovou. Isto não é uma boa gestão. Se não joga, se não está a renovar, tem que ser colocado a rodar. O jogador não pode estar aparado. Tem que se organizar tudo o que há para ser organizado. Jogadores que estão para despontar, quem conta e quem não conta, encontrar solução para os que não contam. Vai passar a haver uma aposta de risco e uma maior retenção. Terá que haver uma maior rotatividade dos jogadores. Os jogadores têm que dar um salto mais depressa para o profissional. O Benfica este ano está a fazer isso este ano. Guilherme Muller dá-me boas indicações, ótimas mesmo. Ele disse recentemente numa entrevista que há jogadores que têm que ser queimadas mais depressa. Por mim, ótimo. É o que queremos para o Benfica. Queremos que os jogadores sintam a responsabilidade a aumentar e o que é ser profissional o mais depressa possível, para sabermos quem tem capacidade para o serem. O objetivo final é chegar ao final do mandato com 50% da formação na equipa A, um pouco à imagem com aquilo que a Real Sociedad faz, embora aí a tendência seja 60%. O Benfica é conhecido internacionalmente também por ter os melhores jogadores, nunca vamos ter 100% de jogadores unicamente formados. Não posso é permitir que os jogadores saiam de forma facilitada e perder valores essenciais da formação. Um outro principio tem a ver com uma boa gestão de compras e vendas dos jogadores. O Benfica tem sido muito bom a vender jogadores, é difícil eu contrariar isto. Há casos pontuais, mas também tem a ver com a necessidade financeira. O que o Benfica tem que fazer é contratar melhor. Mais qualidade e menos em quantidade. Temos muitos jogadores no plantel e tem que se reduzir isto. O que interessa é ter mais equilíbrio, dois jogadores por posição. Assim proporcionamos modelos distintos aos treinadores. Terá que haver mais compromisso. Quem está e quem vier tem que aceitar e promover os valores e princípios do Benfica. O Otamendi é um bom valor disso. Ele não era do Benfica e encaixa naquilo que ele dá a entender enquanto capitão da equipa.
Bola na Rede: O Benfica é um clube eclético, não é só futebol. Quais são os seus planos para as modalidades?
João Diogo Manteigas: Estruturalmente é muito importante mudar algumas coisas, principalmente o organograma. O que eu proponho é o que está no nosso site: um modelo de gestão com um vice-presidente para as modalidades. É alguém que já conhece há muitos anos. Dou-lhe o perfil. Tem uma experiência muito grande e sempre ligado ao desporto. É um homem das instituições e conheci-o com o desporto genericamente em Portugal. Tem muita experiência em gestão desportiva, nas modalidades. É uma pessoa que praticou desporto amador e que tem conhecimento exímio daquilo que para mim é muito importante, o modelo desportivo em Portugal (federações, IPDJ, COP). Abaixo dele vai ser complementado por duas pessoas. Um diretor desportivo propriamente dito, cuja função é ocupar-se da performance e do scouting. É alguém com experiência nas modalidades amadora e que conhece muito bem o Benfica. O outro diretor será alguém que se vai ocupar mais com a parte da comunicação. A comunicação nas modalidades terá que ser mais vasta e direta, além de que as mesmas devem ser promovidas. O Benfica tem três grandes caraterísticas: associativismo, formação e ecletismo. O Benfica é um clube, não falando da SAD, que demonstra ser grande pelo ecletismo, pelas modalidades que tem. É algo que me é muito querido. Por isso merece tal comunicação difusora. O Benfica ganha nas modalidades, tem pano para mangas, tem muito para mostrar ao mundo, é incrível. Esse diretor também ficaria com outra parte que nos é muito importante, relacionada com a Clínica Benfica. Para nós isso tem que ser um chamariz do Benfica, relacionado com as modalidades e com o futebol. Obviamente que temos que organizar as cinco principais modalidades de pavilhão, as que são mais conhecidas: futsal, andebol, hóquei, basquetebol e voleibol. Há umas modalidades que são mais preocupantes, nomeadamente o andebol, devido ao insucesso desportivo. Temos que perceber o que se está a passar. Eu não desgosto do treinador, acho que até contratamos bem. Fico preocupado com a questão do nosso treinador se dividir com uma seleção. Em relação a estas modalidades, vamos ter um coordenador da modalidade. O diretor geral vai assumir a coordenação de uma dessas modalidades, porque é muito experiente. No basquetebol vamos apostar muito mais na formação, onde vamos criar um plano. Não vamos meter miúdos da equipa B todos diretos na A, longe disso. Esta modalidade bebe muito dos americanos, sempre foi assim. Eu quero ir buscar mais parcerias, eventualmente através de empréstimos, com clubes da Europa, mais ao centro e ao leste. Em Espanha também há clubes muito interessantes para parcerias estratégicas. O basquetebol vive disso. O Benfica todos os anos têm americanos e alguns até acabam por ficar. Aaron Broussard é um excelente exemplo, vai ficar por cá. No hóquei em patins fizemos um grande investimento. O Bargalló é o melhor jogador do mundo, o João Rodrigues é o melhor finalizador. Temos o Viti que tem um grande potencial. Também temos o melhor guarda-redes do mundo. No hóquei não é necessário um investimento elevado. Sem ser eu, poucos dos candidatos falaram do tema das modalidades. Quando falamos de investimento, há uma coisa que as pessoas nunca têm a noção, que se tratado risco de lesão. O caso do Bargalló é um exemplo. Quando o fomos buscar foi uma bandeira de contratação. Ainda assim, temos de pensar que há riscos, como adaptação, idade ou lesão. Temos que ver se o jogador tem esse risco ou não. Há um exemplo básico, que é a idade. É normal, ainda por cima o hóquei sendo uma modalidade que exige muito no aspeto físico. Eu não estou a dizer que o Bargalló tenha sido uma má contratação, mas não chega apenas contratar, tem que existir cuidado na negociação e existir um projeto sustentável. Tem que haver alguém ao nível do Bargalló e aí a fasquia já é demasiado elevada. Não é preciso fazer o que se fez o ano passado e isso provou-se. O Benfica não ganhou. Temos uma boa formação e vale mesmo a pena continuar a apostar nela. O caso do futsal está bem entregue a nível interno ao senhor Moreira. Essa contratação ao nível de gestão foi boa, tem uma visão que eu acho que é acertada, mas não o conheço pessoalmente. O Benfica ganhou um campeonato passado muito tempo. Acabou com o domínio do Sporting, mas agora tem o papel mais complicado: voltar a ganhar. Tem que fazer aquilo que o Sporting fez nos últimos anos. Tem que se limar algumas arestas, mas há potencial. Contratou o Pany Varela, que é um grande jogador. Lá está, não sei se o Benfica precisava de criar este contexto financeiro, mas é um grande jogador. Contudo, se falhar desportivamente temos aqui um problema. O voleibol sempre foi uma modalidade importante para o Benfica. No feminino fez um brilharete, ganhou passado 50 anos, temos um novo treinador e não há grande coisa a apontar. No masculino tem que se fazer algumas alterações, tem que se apostar um pouco mais numa gestão dos jogadores. Gostava de ver mais formação nessa modalidade.
«Falamos do ciclismo. É uma modalidade vital para o Benfica, faz parte do emblema a roda da bicicleta que é magnífica. O Benfica teve há décadas atrás um grande atleta, um dos primeiros a vencer a Volta a Portugal, o José Maria Nicolau. Seria uma honra voltar a trazer o ciclismo e há uma oportunidade».
Bola na Rede: Queria questionar-lhe se pretende criar ou eliminar alguma modalidade?
João Diogo Manteigas: Boa pergunta, mas dizer duas coisas importantes que tenho que dizer, relacionadas com as modalidades e com o projeto olímpico. Este projeto é algo que tenho pleno conhecimento e acho que tem que ter uma reformulação ao nível de gestão. Falamos mesmo de pessoas. Eu vou tentar criar um projeto olímpico mais condizente daquilo que é a verdadeira instituição Benfica. Em relação a outras modalidades, acho que deve haver uma aposta, sobretudo nas olímpicas, mas consciente ao nível financeiro. Posso dar um exemplo do remo, que conheço bem. O Benfica pode apostar perfeitamente nesta modalidade e ter custos pequenos. Consigo arranjar um patrocinador para a modalidade. Os atletas do Benfica usam os centros de alto rendimento que existem no país, que foram criados pelo governo, mas estão obsoletos. Acredito que consigo criar outra modalidade que não precisa de investimento, mas sim de controlo naquilo que é a sua gestão e de um parceiro que seja sério e credível. Claro que temos de começar com calma. Há outra modalidade que me diz muito. Percebi que os sócios do Benfica falavam nela. É uma modalidade histórica no clube que surgiu, desapareceu, voltou a surgir, mas não teve grande seguimento. Falamos do ciclismo. É uma modalidade vital para o Benfica, faz parte do emblema a roda da bicicleta que é magnífica. O Benfica teve há décadas atrás um grande atleta, um dos primeiros a vencer a Volta a Portugal, o José Maria Nicolau. Seria uma honra voltar a trazer o ciclismo e há uma oportunidade. Estamos numa altura complicada na modalidade, como é do vosso conhecimento, fruto do que é processo de dopings e ética desportiva. A Agência Mundial Anti-Dopagem presta muita atenção ao doping no ciclismo e ao boxe. Era a altura ideal para o Benfica voltar, não investindo por si próprio, mas arranjar uma parceria estratégica para esse efeito. O Benfica juntar-se a um clube que tenha determinados pressupostos válidos. Quando eu falo do doping, o risco existe sempre. Ou assumimos que não queremos entrar no ciclismo porque é um mundo com um risco muito elevado e que não vamos ganhar porque a concorrência é elevada ou desleal. Ou então entramos. Atenção, não temos dinheiro para investir em grande. Ou seja, não vamos colocar um milhão ou dois para ganhar a Volta a Portugal. Estamos a falar do tier 3. Pensemos nos orçamentos de topo, é impossível, estou tramado, custa 60 milhões de euros, como o caso da Emirates. Temos pleno conhecimento do que se passa. Queremos entrar no ciclismo, com uma parceria estratégica, que seja séria e cuja equipa seja inatacável no passado. Terá que ser uma equipa na vanguarda e no máximo interesse da ética, que promova esse controlo, que tenha passaportes biológicos, que cumpra à regra a lei e que promova o desporto saudável. Até podem querer ganhar, mas eu prefiro no ciclismo tentar ganhar em que o Benfica dá o empurrão juntando a marca. Temos a prova de que o Benfica juntando-se a um projeto desses, vai dar um empurrão mesmo muito grande.
Bola na Rede: Tocou num ponto no começo da entrevista que foi a BTV. Entrando aqui noutro capítulo, qual o futuro da BTV e da Rádio Benfica?
João Diogo Manteigas: Em relação à rádio, eu desconheço o projeto. O Benfica colocou um ponto final numa empresa que tinha que era a Benfica Rádio. Foi extinta o ano passado. Eu, mesmo sendo candidato, enquanto sócio achei curioso que acabam com a rádio e passado um ano há um projeto da rádio. Então e não se aproveitava a empresa rádio que existia? Nunca foi alimentada e havia um investidor, fica a saber. Esse investidor apresentou um projeto e era ele que metia o dinheiro. É preciso muito dinheiro, quando não é em streaming é preciso um sinal. Achei estranho de um momento para o outro em que volta a haver um projeto. Esse projeto é-me muito querido, mas não sei qual é o projeto. Sei que é José Gandarez que está a tomar as rédeas e já contratámos à volta de 20 pessoas para esse projeto que trabalham dentro do estádio. Sei que o Benfica não conseguiu obter a licença, isto é público, não foi autorizado. Devo colocar este tópico na situação: é um projeto que eu quero avançar no Benfica e vou aproveitar o que foi bem feito. É um projeto que para mim é essencial, principalmente se for em streaming. Hoje em dia todos temos um Android, um IPhone, acesso à internet. Quero chegar aos PALOP com este projeto. É uma questão pessoal minha. O meu pai foi fundador da RDP África e eu assisti com ele e viajei com ele para todo o lado. Vi a importância que ainda hoje tem a rádio. Foi algo que me surpreendeu. A rádio associada à diáspora benfiquista é uma arma de arremesso desportiva, no bom sentido claro, a nível global. É um projeto importante, sobretudo para quem está fora de Portugal, mas dentro também é importante. Se implementamos um sinal sobre tudo para fora de Lisboa as pessoas vão gostar dos conteúdos. O projeto Benfica Rádio é essencial, embora o Rui Costa o tenha trazido como medida eleitoralista. Eu iria sempre trazer no meu programa eleitoral. Em relação à BTV, diz-me muito, já que estive lá muitos anos e conheço muito bem o canal. É verdade que eu era independente, isento e imparcial naquilo que é o meu pensamento e tive muitos problemas internamente com isso. Compreendo e tive sempre cuidado de não hostilizar nada nem ninguém que estivesse à frente do Benfica durante esse tempo. Confrontei publicamente nesses programas algumas ideias e projetos. Tentei sempre respeitar ao máximo todas as pessoas, mas defendendo o que era para mim defender o Benfica. É para mim um universo muito importante. Eu era independente e não precisava da BTV para viver, eu ia lá e era carolice. É uma das principais armas que o Benfica tem a nível global. Acho que a BTV deve ser aberta aos sócios, exceto nos jogos que transmite. Há pessoas que não são do Benfica e compram para ver os jogos, conheço muitas. Acho que o canal deve dar muito mais conteúdo, sobretudo nas modalidades e associativismo. Não nego que tenha bons conteúdos, mas acho que pode fazer muito mais com as Casas do Benfica. Tem um programa pelas Casas, que é interessante, mas pode fazer mais. Também devia mostrar o ecletismo, a força do Benfica lá fora. Devia mostrar a realidade dos sócios que estão isolados. Há um exemplo: na semana passada estive em Vizela, onde vi o jogo contra o Fenerbahçe. Antes passei pela casa de um senhor que vive lá, que se chama José Alves. Ele tem um museu num Bunker do Benfica. É incrível, inacreditável. Aquilo é debaixo de terra e tem lá coisas com um grande valor. Tem lá uma tarja de uma das finais da Taça dos Campeões Europeus que o Benfica participou. O Benfica tem que ir atrás disto, demonstrar o que fazem. Há uns anos atrás conheci um emigrante, que é pedreiro na Alemanha, que me disse que gasta o seu salário todo a vir aos jogos em casa e ir aos jogos fora. Ele vive na Alemanha, embora não tenha família, é um grande gasto. Ele vai aos jogos fora no estrangeiro igualmente. O Benfica é um clube único por isto, não é por ter 400 mil sócios, mas sim porque maior parte deles são especificamente benfiquistas, cada um à sua maneira. Temos que mostrar ao mundo porque somos diferentes. O Bayern Munique também tem muitos sócios e tem capacidade financeira de inventar uma história. A história do Bayern ganha força dos anos 70 para a frente. O Benfica é de 1904 para a frente, tem uma história de 121 anos para defrontar, não apenas dos anos 70, com todo o respeito ao Bayern, com quem eu me relaciono profissionalmente e tenho as melhores indicações, é um monstro do futebol mundial. O Benfica consegue competir com estes monstros com o seu associativismo. Temos é que mostrar a nossa posição de força e a BTV serve exatamente para isso.
Bola na Rede: Passando aqui para outro tópico. O Benfica tem um grande suporte nos PALOP e nos países em que existem milhares de portugueses. Pretende fazer chegar o Benfica mais próximo destes adeptos?
João Diogo Manteigas: O Benfica tem essa obrigação. Não acho que o Benfica tenha esquecido os seus sócios e os seus adeptos lá fora. Acho que simplesmente não vai procurá-los. Sabe que eles se interessam pelo Benfica e por isso não faz nada por ir ao encontro das pessoas. Eu quero fazer ao contrário. Não é preciso um grande investimento para tal efeito. Eu já tenho a relação com os PALOP, para mim é fácil. Trabalhei com clubes, com federações, fiz uma das leis desportivas para a Guiné-Bissau. Essa ponte é fácil de criar. Eu tenho é que criar uma estratégia que ainda não foi criada de comunicação, mas apenas posso fazer isso estando dentro do Benfica. Eu tenho que perceber como está o projeto da Rádio, como posso pegar para esse efeito. BTV, exatamente a mesma coisa. Tenho que perceber qual a minha margem. Até lá, tenho que ser eu a fazê-lo. Tenho uma pessoa que está comigo, mas que não faz parte da lista nem dos quadros. Já conheço há muitos anos. Trabalha com o futebol e tem uma grande experiência com a CAF. É português e emigrante. Ele tem uma empresa que lida com a parte social do desporto, ou seja, ex-jogadores que terminaram a carreira e dedicam-se em ir atrás das pessoas que gostavam deles. Replicar um bocadinho isto com o Benfica. A partir do momento em que entrarmos vai-se dedicar muito em quem está lá fora. O Benfica tem essa obrigação, mas se nós formos e apresentarmo-nos, dizer que estamos lá por vocês, essas pessoas passam a fazer muito mais por nós. Nem vemos isto pela perspetiva comercial. Temos aqui uma meta dos 500 mil sócios. Para o ano vai haver uma renumeração e vai haver um corte. Queremos chegar a esse número no final do mandato. Acredito que vamos cair para os 300 mil sócios e vamos precisar de 50 mil sócios por ano e as pessoas de fora são essenciais nessa estratégia. A angariação de sócios não é o nosso objetivo para chegarmos aos sócios mais distantes. Temos que ver a newsletter, a BTV e ver o ponto da rádio. Quero fazer o que foi feito há muitos anos atrás. Meter a máquina a andar no imediato e ir imediatamente aos primeiros polos, que são as Casas do Benfica, mas organizando um business plan de nos primeiros dois meses viajar por todas as Casas do Benfica lá fora, mas a chamar os sócios da zona, num raio de X quilómetros para explicar por que viemos ao Benfica.
«Não há muita transparência na comunicação para os sócios e para fora. Mas depois é curioso que o Benfica se relaciona com determinados canais de comunicação onde passa informação privilegiada, as tais fontes. No site da FPF tem lá um Portal da Transparência, que diz duas ordens de coisas: quem são os detentores das Sociedades Desportivas e as transferências. A março de cada ano está lá quem é o empresário, quem transferiu que jogador, quem assegurou a transferência. Isso tem muita piada, mas não chega».
Bola na Rede: Algo que está presente no seu programa é um Portal da Transparência. Pretende fazer algo semelhante ao que foi criado por André Villas-Boas no FC Porto?
João Diogo Manteigas: O FC Porto fez isso com o seu presidente. O Sporting quando apresenta as suas contas tem ao pormenor o custo, a mais valia, a menos valia… Qualquer entidade hoje em dia tem que demonstrar aquilo que está a fazer, limpinho, sem qualquer vírgulas. O Benfica infelizmente não tem isso. Eu acho que é intencional, é a minha opinião pessoa. Não é porque queiram esconder muita coisa para que não seja alvo de discussão. Não há muita transparência na comunicação para os sócios e para fora. Mas depois é curioso que o Benfica se relaciona com determinados canais de comunicação onde passa informação privilegiada, as tais fontes. No site da FPF tem lá um Portal da Transparência, que diz duas ordens de coisas: quem são os detentores das Sociedades Desportivas e as transferências. A março de cada ano está lá quem é o empresário, quem transferiu que jogador, quem assegurou a transferência. Isso tem muita piada, mas não chega. Para nós o Portal da Transparência é mostrar informação que não seja confidencial, mas que seja relevante para os sócios em primeiro lugar, e para o público no geral, em segundo lugar. Falamos de uma empresa cotada em bolsa. Precisamos de dividir isto em clube e SAD. O clube tem o seu Relatório e Contas e mostra o seu estado. Eu lancei uma proposta que foi aprovada que foi a criação de uma nova Assembleia Geral que é desportiva. Isto já aconteceu na década de 80 quando um grupo de sócios pediu, em que os dirigentes têm que explicar qual o modelo desportivo, qual é a sua visão e estratégia. Foi muito criticado quando foi aprovado pelos jornalistas. Há um jornalista do Record que fez uma coluna a criticar este tema, a dizer que os sócios vão discutir as transferências com os dirigentes. Então, mas isto não é o objetivo? Os sócios de um clube têm que discutir o projeto desportivo, o modelo, as transferências. Tudo o que estamos a falar, que o Ricardo me pergunta, é um portal que é postado no site, com determinado acesso. Terá a informação toda relacionada com transferências, outras receitas como patrocinadores, se nos for permitido. Contudo, por outro lado, o nosso Portal da Transparência vai muito mais à frente nas Assembleias Gerais. Vai dar todas as informações, vamos falar diretamente com os sócios, teremos o Provedor do Sócio, temos um departamento jurídico que vai apoiar os sócios. Os sócios vão ter finalmente um canal de informação para prestar esclarecimentos, fazer queixas, darem sugestões e serem defendidos. O nosso objetivo é implementar uma liderança servidora. O sócio hoje em dia, numa sociedade informada, pede muito mais informação que pedia anteriormente. Eu sou obrigado a ser criticado e a responder à crítica. Eu sou obrigado quando me parabenizam a agradecer e a explicar. Claro que nunca podemos extravasar a confidencialidade. Conseguimos dar uma visualização do que nós pretendemos.
Bola na Rede: Para não sairmos muito do seu programa, há um ponto que gostaria de falar consigo, relacionado com o naming do Estádio da Luz. O que pretende fazer? qual seria o valor de uma possível negociação?
João Diogo Manteigas: Para mim a venda do naming do estádio está completamente justificado. Para mim, vai ser sempre o Estádio da Luz, podiam meter qualquer empresa no nome. Nunca diria que vou para o Allianz Arena, por exemplo. Nenhum português vai dizer aquilo. Não deixa é de ser uma receita muito interessante ao Benfica. O Benfica teve uma proposta de oito milhões por época, isto em 2015, por aí. O valor era simpático. Oito milhões por ano era muito dinheiro. Quanto é que o Benfica tinha feito de lá para cá? Eu vou em busca desse naming do estádio, mediante uma segunda condição que já vou dizer. É uma receita adicional muito importante e é algo lógico. O Benfica é um parceiro muito interessante. Ainda assim, tem que ser uma boa proposta financeira, diria que cinco milhões de euros por ano é baixo. Não lhe consigo dizer quanto vale a marca Benfica porque não está a ganhar. O Benfica quando ganha traz mais sucesso financeiro e mais interesse, logo mais investidores. É preciso primeiro meter o Benfica a ganhar. É preciso o projeto desportivo para depois falarmos de valores. Consigo dizer-lhe que tenho falado nos últimos meses com entidades que eu conheço, que tenho confiança ao nível privado para propor nos sentarmos à mesa. Há interessados, posso garantir. Valores não lhe consigo dizer, que eu depois começo a fazer benchmarking na minha cabeça. Isto é a parte de adepto e de sócio, eu entendo que vale mais do que um Bayern Munique. Mas depois tenho que me lembrar que a Allianz, a Audi e a Adidas são sócias do Bayern. São alemães e são parceiros estratégicos. Eu acho que em Portugal nós não temos esse benchmarking. Não conseguimos capturar, no bom sentido da palavra, um parceiro que quervermos para o Benfica. Também acho que tem mais impacto se for um parceiro estrangeiro. A segunda condição está relacionado com várias camadas de identificação. Dou-lhe um exemplo muito claro, mas simples. Não faz sentido o Benfica ter um parceiro com a cor verde, azul, amarelo, cor de rosa, tem que estar relacionado com as nossas cores. Isto pode ser limitativo na procura, mas não acho que seja assim tanto. Não estou necessariamente a limitar mercado. Podemos ter um parceiro disposto a investir e que a sua marca e nome sejam adaptáveis às cores do Benfica, à caraterística do clube, à águia, não falamos apenas do vermelho e branco. Teremos essa sensibilidade, mas é possível ter um parceiro estratégico. Eu gostava muito e tenho falado com entidades que são conhecidas do universo capitalista, fora do desporto. Já falei desde a moda, mas também com o mercado da música. É perfeitamente possível fazer isso. Temos aqui um grande chamariz que é o Estádio da Luz. O parceiro estratégico não quer só meter o nome, mas quer trabalhar em conjunto. O caminho é esse.
Bola na Rede: As eleições do Benfica vão contar com seis candidatos. Acha isto benéfico?
João Diogo Manteigas: Acho que é muito benéfico. É inédito no Benfica. Há um princípio básico que me foi transmitido pelo meu pai e que o meu pai permitiu-me pensar no Benfica à minha maneira. Eu sempre vi o clube como um clube global, sobretudo pelo número de sócios. Porém, depois tinha muita dificuldade em entender a gestão do Benfica, principalmente depois de começar a trabalhar. Acho que desde o ano de 1994 para a frente o Benfica começou a tornar-se num clube muito fechado. O associativismo começou a perder peso. De 2000 para a frente esta situação adensa-se. O associativismo só não morre porque nós somos muitos e há sócios que ainda se interessam mais além do que o futebol. Nos últimos 25 anos a gestão foi profissionalizada no Benfica e tenho de ter cuidado com estas palavras. Foram criadas empresas para diversificar as áreas de negócio, organizar a sua estrutura e o seu grupo. Tudo certo. Porém, há um problema. Tudo isso tem que ser alimentado pelo associativismo. Temos que ser profissionais, mas ao mesmo tempo temos que dar a mesma relevância aos associados e nos últimos 25 anos é que este associativismo foi perdendo esse valor. Foi sendo desconsiderado ao longo dos anos. Isto foi estratégico e foi uma boa estratégia para quem a adotou. Acho que um sócio, no seu mais fervor do associativismo puro, é muito mais consumidor do que qualquer outro cliente. A ideia foi bem pensada por quem a montou, mas não foi pensada enquanto benfiquista. Se tivesse sido bem pensada teriam tido a noção de quem um sócio mais profundo compra mais coisas que o Benfica do que um sócio que tem somente um RedPass. Não foi feito esse cross-selling. Em 2025, a democracia é a mais impactante dos últimos 25 anos. Os estatutos mudaram e trouxeram mais democracia. Estes mudaram ao ponto de que eu só me podia candidatar este ano porque só faço 43 anos de idade em outubro. Havia coisas nos estatutos que estavam completamente errados. Com os novos estatutos, eu ter-me-ia candidatado em 2020 ou em 2021. Estes estatutos estavam fechados à democracia e agora abriram-se. Existem seis candidatos devido a dois pontos: insatisfação pela gestão e permissão de outros candidatos que não se podiam candidatar poderem fazê-los. Há candidatos que estão a concorrer comigo, pelo menos há um, que se os estatutos fossem os que estavam em vigor, que não se podia candidatar. Não vejo os outros candidatos a falarem disso. Para mim, seis ou sete candidatos, melhor. Porquê? Porque agora há coisas muito positivas. Exemplo: listas separadas e segunda volta. Quando o Ricardo me pergunta se seis candidatos são muitos, eu digo que não. Na primeira volta os sócios votam livremente e em consciência. Com a possibilidade da segunda volta, permitimos que na primeira os sócios votem plenamente, sem qualquer tendência ou preocupação. Votam em quem quiserem. Na segunda volta, aí sim vai haver uma maior uniformização daquele que será o presidente do Benfica. A democracia que permite seis candidatos ao Benfica, vai permitir uma maior uniformização e uma maior aposta num candidato final. Acho que ninguém vai ganhar à primeira volta, nem sequer Rui Costa, que é o chamado incumbente. Ele pouco ou nada aparece, tudo isto sob a justificação de que tem que gerir o clube e a SAD. Isto é tudo verdade, mas não deixa de ser candidato. Ainda assim, a primeira volta é votada pelos sócios de forma independente, sem pensar taticamente ou tecnicamente.
«Se estivesse no lugar de Luís Filipe Vieira, não me candidataria com esta dúvida a pairar sobre mim. No caso de Rui Costa, não me recandidataria porque fui um falhanço. Novamente indo a Luís Filipe Vieira. À parte dos processos judiciais, Luís Filipe Vieira é devedor acima de 400 milhões ao Novo Banco e tem processos em curso com o Novo Banco. O Novo Banco tem um crédito sobre ele brutal».
Bola na Rede: Presumo então que concorde com a possibilidade de Luís Filipe Vieira se poder candidatar, tendo em conta o seu histórico e a possibilidade de não poder dirigir a SAD.
João Diogo Manteigas: Eu não concordo ou deixo de concordar. Há questão que são morais, relacionadas com a própria pessoa. Eu dou-lhe um bom exemplo. Uma vez perguntaram-me o que eu achava de Rui Costa se recandidatar. Eu disse que dependia do entendimento de cada um. Se eu estivesse no lugar de Rui Costa não o faria, porque o meu mandato foi um falhanço. É uma decisão pessoal. Voltando a Luís Filipe Vieira, é igual a Rui Costa. Colocando-me no lugar dele eu entendo-me que não tenho condições. Embora de forma diferente. Eu acho que Luís Filipe Vieira terá primeiro que tirar aquela nova que existe e que os sócios têm na sua maioria de que ele prejudicou o Benfica. Há processos judiciais que ele tem que deixar que corram o seu tempo e o seu curso. Tem que se provar que ele não afetou o Benfica, não prejudicou, não roubou, não infetou o Benfica. A partir daí é um sócio na plenitude dos seus direitos para poder apresentar-se a votos. Esta é a minha primeira noção, se estivesse no lugar de Luís Filipe Vieira, eu não me candidataria com esta dúvida a pairar sobre mim. No caso de Rui Costa, não me recandidataria porque fui um falhanço. Novamente indo a Luís Filipe Vieira. À parte dos processos judiciais, Luís Filipe Vieira é devedor acima de 400 milhões ao Novo Banco e tem processos em curso com o Novo Banco. O Novo Banco tem um crédito sobre ele brutal. Está a ser feito um projeto de penhoras sobre tudo o que lhe pertencia diretamente ou indiretamente. O Novo Banco pode pedir a insolvência de Luís Filipe Vieira ao nível pessoal. Se o Novo Banco partir para esse pedido, Luís Filipe Vieira não reúne as condições formais para poder ser membro da Benfica SAD, embora reúna para ser candidato ao clube. Para ser candidato tem que ser sócio do clube. O que se passa em torno de Luís Filipe Vieira não é violador dos estatutos. Para a SAD já é diferente, porque é uma sociedade cotada em bolsa. A minha opinião pessoal é que Luís Filipe Vieira não pode ser administrador, caso o Novo Banco partir para tal pedido de insolvência.
Bola na Rede: Não saindo do nome do Luís Filipe Vieira, mas não nos concentremos somente em tal figura, existe uma pessoa muito falada no universo Benfica nas últimas semanas: Pedro Proença, atualmente presidente da Federação Portuguesa de Futebol…
João Diogo Manteigas: Sócio do Benfica, há 50 anos.
Bola na Rede: Qual a sua opinião sobre Pedro Proença?
João Diogo Manteigas: É um profissional, não o conheço pessoalmente. É um profissional que tem muito bem vincado aquilo que quer, é uma pessoa que tem objetivos e vai cumprindo esses objetivos, mas os meios que utiliza para atingir esses fins são o seu grande problema. Simplificando, que eu tenho tanta coisa na minha cabeça relativamente a isso, o Ricardo já percebeu que eu sou direto e transparente, eu sou igual a mim próprio. Ninguém me vai poder dizer que o João está diferente. Quando me perguntam sobre várias pessoas do futebol, eu tenho que segmentar na minha cabeça as coisas, já que trabalho com pessoas e entidades. Pedro Proença é um homem do futebol e vê-se perfeitamente que tem determinados fins que quer atingir, independentemente dos meios que usa para isso, já quando estava na arbitragem. Na minha opinião, eu entendo que é uma figura nada consensual no Benfica, desde o tempo de arbitragem. Não estou a criticar o seum perfil enquanto árbitro, posso criticar as suas prestações. Tenho plena consciência de que é verdade que os benfiquistas não gostam, na sua maioria, de Pedro Proença. Não estou aqui a discutir que prejudicou intencionalmente. Mas existiram erros, desde uma grande penalidade que não existiu sobre o Yebda sobre o Lisandro López a 50 cm dele. Há várias razões, eu sei que os benfiquistas não gostam dele. O Pedro Proença não é consensual para os benfiquistas. Isto independentemente de ser sócio, que ele é. Mas isto é como tudo, há sócios que não gostam de mim e eu também sou sócio. Na figura do futebol, Pedro Proença foi amplamente contestado enquanto árbitro, foi amplamente contestado enquanto dirigente da Liga e está a ser amplamente criticado pelos benfiquistas enquanto dirigente da Federação. Eu estou-me a candidatar ao Benfica. Eu tenho que entregar a quem eu devo responder. Se o meu sócio, se a pessoa que exige a mim o meu trabalho e que confia em mim, me diz que não gosta de figura A ou B, eu tenho que lidar com essas pessoas a defender os interesses de acordo para quem eu trabalho. Na minha opinião pessoal entendo que, à parte do sucesso enquanto árbitro, acho que não foi meritório de tal premiação, nunca lhe revi essa capacidade, exatamente por ser do Benfica e pelo seu histórico. Enquanto dirigente da Liga tenho plena consciência de que elevou a Liga financeira a um patamar completamente dispensável. A Liga tornou-se num centro de custos brutal, aumentou sem necessidade o número de trabalhadores. Não tem que profissionalizar algo tendo que gastar dinheiro. Consegue profissionalizar sabem gerir sustentavelmente o negócio. Deixou ali um belo fardo para Reinaldo Teixeira. Eu quero ver como o doutor Reinaldo vai gerir a herança que lhe deixaram. Transportando para a Federação, acho que Pedro Proença conseguiu atingir passo para o segundo plano das suas intenções. Acho que ele quer passar para um primeiro plano que é ser presidente da UEFA. Aquilo que Pedro Proença está a fazer nos primeiros meses do seu novo cargo, eu entendo que é uma gestão muito perigosa. As pessoas que o rodeiam é uma questão interessante. Luís Filipe Viera focou-se de que essas pessoas eram sportinguistas. Eu não estou preocupado com isso. Estou preocupado efetivamente pelo Benfica não estar devidamente representado nas instituições desportivas. Mas não é aí que o Benfica fica a perder. É não ser vigilante daquilo que os outros fazem nas instituições e o Benfica não pode abandonar o barco sobre os projetos da Liga e da Federação. O Benfica tem que ter um papel muito ativo. Um exemplo que dou é o de Rui Caeiro. Rui Caeiro é o vice-presidente para a arbitragem e não integrou as listas de Pedro Proença. Nem sequer era membro substituto na lista. Alguma coisa se passou, o IPDJ está a investigar e eu tenho andado a falar disto. Se calhar é legítimo, mas ninguém percebeu como. Em todas as listas existem os suplentes. Se alguém sair da lista principal, sobem os suplentes. Isto é assim em todas as federações. Rui Caeiro não estava na lista. Há coisas que passam e que devem ser da atenção de todos os stakeholders em Portugal. Há outros problema na Federação que é a arbitragem. Acho que vai haver a tendência de ser mais transparente e vão haver medidas interessantes para ser avaliar. Duarte Gomes é uma pessoa respeitada, respeito o seu trajeto. Nunca vamos ser consensuais em todo o lado. Porém, temos que ser íntegros e profissionais. Temos que ter elevação e ser sérios. Duarte Gomes é uma pessoa séria, mas temos estado a avaliar e vamos continuar a avaliar. Há um bom exemplo com os relatórios dos árbitros a serem públicos, os VAR’s vão passar a ser avaliados. O Benfica terá que adotar um papel de interesse pelo caminho que a arbitragem está a fazer. O clube tem que ter uma vigilância muito importante no Centro da Maia, onde existe o acompanhamento, e também na Cidade do Futebol, onde é feito o projeto. O Benfica tem que ser uma relação direta com os vários conselhos, como o Conselho de Arbitragem e isto não é para pressionar, não quero pressionar ninguém. Eu tenho é um problema que é que ninguém me responde, não sei porquê. Mas quando eu for presidente do Benfica as coisas vão mudar, porque aí já têm o dever de me responderem institucionalmente. Eu quero que os sócios sejam esclarecidos sobre o que são as intenções do Benfica.
BnR: Para fecharmos, caso vença as eleições, onde é que imagina o Benfica no final do seu mandato?
João Diogo Manteigas: Sem dúvida que as nossas intenções passam no imediato por um Benfica ganhador. O Benfica é sempre capaz de ganhar, internamente isso nem se questiona, mesmo sem as melhores condições. Queremos uma política de gestão muito mais transparente e sustentável. O modelo desportivo tem que ser muito específico, muito concreto, que precisa obviamente de tempo e maturação. No final do mandato temos que ser obrigatoriamente mais ganhadores, ter mais títulos nas modalidades e no futebol. Temos que ter inovado. O Benfica tem que ser uma prova e um exemplo de inovação, sobretudo a nível social, mas também na BTV, na Rádio, na Fundação Benfica. Mas, tem que ser sustentabilidade económico-financeira e eu estou muito preocupado com essa parte. Entro no Benfica com uma equipa que me dá a garantia que é muito séria e tem muita experiência de várias áreas diferentes. Obviamente que eu sou a pessoa com mais conhecimento de causa do setor, a par com os diretores. Porém, na área económico-financeira, tenho duas pessoas que estão comigo que conhecem muito bem como funciona o sistema desportivo, mas uma delas tem um conhecimento económico-financeiro que vai ser uma mais valia, pela entidade para a qual trabalhar. O Benfica não é só um clube, mas sim um grupo de empresas que tem que ser sustentável. O Benfica consegue recompor-se porque é uma marca e uma potência a todos os níveis muito grandes. É um barco muito grande para ser manejado, mas é um barco compartimentado e que tem muito para dar. O Benfica está mal desportivamente porque não ganha e acho que tem uma política de gestão desportiva perigosa, que não está a sair do buraco que se enfiou. Acho que consigo dar a volta, senão não estava aqui. Mas acho que podemos ganhar já no imediato e que podemos ser mais sustentáveis ao longo do tempo, com mais receitas e menos custos. Acima de tudo, o Benfica tem que desempenhar o papel essencial para a sociedade em dois pilares essenciais: ecletismo, mantendo bem vivas as modalidades e indo ao encontro dos sócios que estão por aí, e associativismo. Temos um vice-presidente com o pelouro associativo e na SAD vai haver um vice-presidente que terá o pelouro de ligação ao clube que criou um programa de ideias e de soluções muito interessante. Vamos atrás dos sócios, vamos angariar sócios do Benfica e vamos entregar Benfica à porta de casa. Vamos inserir Benfica na cabeça dos adeptos. Somos uma candidatura com muita alma e muita paixão benfiquista e muito conhecimento do Benfica. Somos a candidatura com a maior base associativa destas eleições. É algo que vamos ter que entregar. A minha mensagem passa sempre por ser esta: nós somos uma candidatura que defende o Benfica ganhador e liderante, tal como defendemos que somos uma candidatura que vamos confirmar e atestar competência, transparência e paixão. É o que é necessário para o Benfica vencer hoje, no presente e no futuro. Quando vencermos as eleições, vamos provar que somos a candidatura que mais uniu os benfiquistas. Isto é o mais importante.
Consulta as entrevistas já realizadas pelo Bola na Rede aos candidatos à presidência do Benfica: