Campeonato Nacional de Futsal 2024/25: o olhar de João Santos sobre a temporada

João Santos, treinador de futsal de 32 anos, natural de São Pedro do Sul, fez uma análise à temporada 2024/25 do Campeonato Nacional de Futsal. Em conversa com o Bola na Rede, o técnico destacou a conquista do título por parte do Benfica, que impediu o pentacampeonato do Sporting, o desinvestimento do Braga e a entrada do FC Porto na modalidade.

João Santos, recentemente distinguido como o melhor treinador da 2.ª Divisão Nacional Sub-19, após garantir a promoção do Módicus à Primeira Divisão, analisou a temporada 2024/25 do Campeonato Nacional de Futsal. O técnico de 32 anos começou por destacar a conquista do título de campeão nacional por parte do Benfica:

«Não esperava este desfecho. Tinha falado com o Cassiano e disse-lhe que ele era a pessoa certa para sermos campeões. Sou benfiquista assumido e não tenho problema em dizê-lo. Disse-lhe: ‘Tu és o homem certo. Acredite que vai dar certo.’ E ele acreditou, não por causa da nossa conversa, mas porque é um homem decidido, um excelente treinador. O que o Benfica alcançou é fruto das ideias dele. Chegou com uma mentalidade nova, um sistema de jogo diferente e uma abordagem defensiva distinta. Foi fiel aos seus princípios desde o primeiro dia e, no fim, venceu. O Benfica x Sporting é sempre imprevisível, mas estávamos habituados a ver o Sporting sorrir no final. Do outro lado está o Nuno Dias, um treinador de topo, dos melhores do mundo. Mas o Cassiano chegou, viu e venceu. Fez um trabalho incrível, com um plantel jovem e vários atletas da formação. Mereceu. Foi mais uma final à altura do que é habitual nestes duelos. Já nos habituámos a esse nível. Para mim, é a melhor final do mundo e espero que continue a ser durante muitos anos».

João Santos avaliou a temporada do Braga, o desinvestimento no plantel e as condições atuais dos bracarenses:

«Este ano, o Braga caiu um pouco. Notou-se desinvestimento e saídas importantes, como a do Alann Guilherme para o Sporting. Quando se perde um jogador de referência para um rival direto, isso tem impacto, não só pelo reforço que o Sporting ganha, mas pelo enfraquecimento do Braga. O clube tem excelentes condições. Já joguei no pavilhão e fiquei impressionado. Só a entrada já impõe respeito: ‘Bem-vindo, guerreiros’, o símbolo no chão… Um ginásio com equipamentos de alto rendimento. Só que o Benfica e o Sporting dispõe dessas condições criadas há mais tempo. E são equipas com outro carisma, com outra história dentro do nosso futsal».

Quanto ao impacto da perda do título do Sporting, o técnico de 32 anos acredita que o desfecho pode funcionar como estímulo:

«É possível que pese, mas também pode ter o efeito contrário. Quando nos tiram algo, pode surgir ainda mais vontade de o recuperar. Tudo depende de como se reage à queda: ou nos levantamos ou ficamos no chão a lamentar. Se o Sporting quiser levantar-se e correr atrás do que tem conquistado nos últimos anos, acredito que teremos mais um grande campeonato. Há outras equipas a crescer. Os Leões de Porto Salvo estão a reforçar-se bem. A Quinta dos Lombos tem agora o Alcides Lopes, um treinador que conheço bem, com um trabalho de grande qualidade. Já é uma referência, e acredito que será ainda mais relevante a nível nacional. Quando esteve no Centro Social de São João, alcançou resultados surpreendentes. Mesmo depois de perder jogadores para o Dínamo Sanjoanense e outras equipas da Primeira Liga, conseguiu sempre colmatar essas saídas com jovens da formação. Acredito que mais equipas vão surgir, roubar pontos aos grandes e até lutar pelo título. Mas o Sporting vai dar resposta à altura. Tem um ego ferido e vai querer reagir. Não acredito que vá acusar o golpe».

Sporting Benfica jogadores Futsal
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Sobre a possível transição geracional no Sporting, João Santos considera que não se trata do fim de um ciclo, mas sim de uma renovação:

«O Sporting tem uma formação fantástica. Já saíram de lá grandes jogadores, e há outros que estão agora a aparecer. Têm vários atletas jovens que fizeram um excelente campeonato este ano, e que certamente farão ainda melhor na próxima época. Além disso, o Sporting tem feito boas contratações. Por isso, não acho que seja o fim de um ciclo. Acho que é, antes, uma renovação da geração que lá esteve. Um renovar, não um fim. E isso é necessário. Temos o exemplo do Pany Varela, que voltou ao Benfica. É um jogador com 36 anos, mas vai chegar ali e vai dar aquilo a que já nos habituou a nível nacional: uma grande intensidade, é um jogador fogaz, rápido, intenso, com uma capacidade de remate acima da média. Por isso, acredito que ambas as equipas vão investir bem e colmatar as saídas dos seus plantéis de forma inteligente. E acho que vamos ter mais um ano de futsal de topo no nosso país. O nosso futsal está a crescer cada vez mais. E acredito que outras equipas vão entrar na luta. Tenho essa ideia, esse feeling… e acho mesmo que isso vai acontecer».

O técnico português considera que a futura entrada do FC Porto nas competições séniores será benéfica para o crescimento do futsal nacional:

«Quanto à entrada do Porto em seniores acredito que, em cinco anos, cheguem à Primeira Liga. Pode haver um ou dois anos em que tropecem porque futsal é futsal, e será sempre futsal, se não adulterarem a modalidade, mas a perspetiva do Porto é subir de forma galopante até ao topo. E acho que isso é necessário para o crescimento da modalidade, até a nível económico. Para trazer mais negócio, mais investimento. E isso é algo de que o futsal precisa. Com o Porto, vamos passar a ter quatro equipas de topo: Porto, Braga, Sporting e Benfica, daqui a cinco ou seis anos, é o que se perspetiva. Depois, claro, haverá outras equipas que também já são clássicos: Quinta dos Lombos, Leões de Porto Salvo, Ferreira do Zêzere, Caxinas…. Aliás, o Caxinas, se calhar, vai ser a equipa que mais vai ser prejudicada com esta entrada do Porto, tanto a nível distrital como nacional. Porque, até aqui, quem mandava no distrito do Porto era o Caxinas. Agora, com o Porto a entrar, isso vai mudar. Temos também o Rio Ave, o Famalicão, que são projetos interessantes e com bons investimentos que subiram agora à Primeira Divisão. Eu acompanhei isso de perto. Mas a entrada do Porto, para mim, vai ser muito boa para o futsal. É necessária. Já se fala disso há anos: o Porto tem de ter futsal, tem de estar nas modalidades. É preciso haver essa rivalidade entre Benfica, Sporting e Porto. Isso só faz crescer o espetáculo e a modalidade».

No balanço final, João Santos destacou os Leões de Porto Salvo como a equipa que mais o surpreendeu:

«Para mim, foi mesmo os Leões de Porto Salvo. O Cláudio Moreira fez um trabalho incrível. Ele nem sequer teve os reforços que queria no início da época, e mesmo assim conseguiu construir uma equipa muito competitiva. Acabaram por descobrir dois miúdos na formação, o que mostra bem o trabalho que está a ser feito ali. Temos o exemplo de uma estrutura que aposta verdadeiramente na formação e na transição dos jovens: os Leões de Porto Salvo têm uma equipa B a competir na 2.ª Divisão Nacional o que, no fundo, funciona como uma espécie de Sub-23. É uma forma de os miúdos que saem dos Sub-19 não darem logo aquele ‘salto’ repentino para os seniores. Ali, eles têm três, quatro anos em que podem crescer com calma, adaptar-se melhor e desenvolver-se. E essa equipa B tem mesmo o objetivo de competir ao mais alto nível possível, dentro do que é permitido, neste caso, a 2.ª Divisão. E permite também ir buscar jogadores diretamente para a equipa principal. Foi isso que aconteceu este ano. Foram buscar dois ou três jogadores da equipa B para os seniores, e o Cláudio conseguiu fazer um trabalho fantástico. Foi, sem dúvida, uma das grandes surpresas  e pela positiva».

Rodrigo Lima
Rodrigo Limahttp://www.bolanarede.pt
Rodrigo é licenciado em Ciências da Comunicação e trabalha atualmente na área do jornalismo desportivo. Apaixonado pelo mundo do desporto, tem no futebol a sua principal área de interesse e análise.

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