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«Está cada vez mais difícil para o treinador em Portugal» – Entrevista Bola na Rede a Nuno Pereira

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Depois de anos no alto rendimento e passagens pela Primeira Liga e pela Série A no Brasileirão, Nuno Pereira reflete sobre o caminho feito, as referências que o moldaram e a vontade de dar o salto para treinador principal.

[Nota da redação]: Esta entrevista foi realizada poucos dias antes da oficialização de Nuno Pereira como treinador do Ferroviário Atlético Club, do Brasil.

«prezo muito a família, prezo muito os amigos, sou muito amigo do meu amigo e acima de tudo sou uma pessoa também ambiciosa».

Bola na Rede: Quem é o Nuno Pereira?

Nuno Pereira: O Nuno Pereira é um cidadão transmontano com 48 anos de idade que se caracteriza como uma pessoa simples, uma pessoa de trabalho, uma pessoa que gosta de valorizar a família, prezo muito a família, prezo muito os amigos, sou muito amigo do meu amigo, e acima de tudo sou uma pessoa também ambiciosa no sentido de ter constantemente objetivos para alcançar na vida e objetivos que me permitam também estar constantemente ligado porque é assim que eu gosto de ser, estar vivo estar sempre com algo em mente para conseguir sentir-me feliz, gosto de ter sempre algo a alcançar para me sentir realizado e acima de tudo sou uma pessoa apaixonada pelo futebol, que é o desporto que mais gosto para além também de gostar muito de praticar desporto, gosto muito de andar de bicicleta, caminhar, fazer exercício físico, a minha atividade física diária, adoro fazer isso, mas essencialmente a paixão pelo futebol move-me constantemente, move-me diariamente. Sou uma pessoa que também me formei em educação física e desporto, tirei posteriormente o mestrado em alto rendimento, concluí também a licença UEFA Pro, tudo situações que me permitissem também chegar ou alcançar determinados patamares e esses foram muito importantes para eu conseguir profissionalmente alcançar algo que tanto desejava.

Bola na Rede: Nuno, quando é que apareceu a paixão pelo futebol?

Nuno Pereira: A paixão surgiu de miúdo, sempre adorei futebol, jogava futebol de rua, adorava jogar na escola, adorava jogar com amigos, e até que a determinada altura passei para o futebol de formação e posteriormente passei pelas várias etapas da formação, joguei também federado a nível sénior durante 15 anos e depois de terminar digamos assim essa parte de jogador de futebol, a paixão que já tinha em conhecer algo mais, em conhecer o treino, em conhecer o jogo, levou-me a formar também noutros aspetos mais específicos para eu poder também adquirir mais competências e mais conhecimento e dar continuidade depois a carreira de treinador, ou seja, foi o desligar, ou o passar do jogador para o treinador logo de seguida e até ao momento continuo a trabalhar nesse sentido de cada dia cada vez adquirir mais conhecimentos e mais competências e para cada vez também em cada dia que passa ser melhor e estar mais bem preparado digamos assim para o futuro.

Bola na Rede: Este envolvimento com o futebol, até chegar a este nível, foi algo que surgiu naturalmente?

Nuno Pereira: Sim, surgiu naturalmente, também em termos familiares o meu pai já estava ligado ao futebol numa primeira fase como jogador, numa segunda como massagista, e comecei a acompanhá-lo, comecei a lidar com os jogadores, com pessoas adultas, comecei a ver que realmente uma bola para mim fazia todo o sentido, uma bola para mim era alegria, era sentir-me feliz, dai essa felicidade nunca mais ter desaparecido, bem pelo contrário, foi contínua e foi dar seguimento aquilo que era a minha paixão e felicidade.

Bola na Rede: Neste trajeto natural, houve algum momento ou pessoa que te fizesse perceber mesmo que isto era o que realmente queria?

Nuno Pereira: Sim, como jogador nunca fui um jogador excecional, mas era um jogador muito na base do trabalho, tinha determinados ideais e regras que cumpria rigorosamente porque vivia aquilo de uma forma muito sentida, muito apaixonada e tinha alguns exemplos que eu seguia como jogadores profissionais que eram para mim aquela referência, e que procurava, independentemente do meu nível ser muito mais baixo, procurava seguir esses ideias desses tipos de jogadores, há muitos nomes que poderia citar, mas prefiro não citar. Como treinador também trabalhei com algumas pessoas que me faziam pensar o jogo, faziam pensar o treino, e eu muitas vezes chegava a casa e registava aquilo que treinava, registava o porquê de ter feito determinado exercício, questionava muitas vezes os treinadores o porquê que fizemos aquele exercício ou aquele tipo de treino, porque eu tinha ali algo que me despertava muito a atenção, e durante essa fase tive algumas referências que me ajudaram a perceber melhor o jogo, a perceber melhor o treino e a partir dai fui sempre em busca de algumas referências, é claro que depois de chegar a um patamar profissional, no caso do alto rendimento, as nossas ligações são muitas e lidamos com muitos profissionais competentes, desde jogadores a treinadores que nos permitem e, ao mesmo tempo, nos despertam muito a atenção em percebemos determinadas coisas, determinados momentos em percebemos que o jogo, o treino, o jogador ou o profissional o porquê de determinada metodologia, o porquê determinada a estratégia, foram todas situações com algumas pessoas com quem eu trabalhei com algumas pessoas com quem eu partilhei, desde cursos de treinador, desde congressos, algumas referências que me despertaram ainda mais o interesse que me despertaram ainda mais a curiosidade em querer ser melhor, em querer evoluir, portanto, tenho muitas referências tenho muitas pessoas com quem eu, digamos assim, bebi também muito do conhecimento muito de informação, desde pessoas com quem eu trabalhei mais diretamente neste caso o Mister Petit, o Mister Pepa, o Mister Natxo também foram três referências muito importantes para mim e que despertaram, a cada dia que passa, em cada treino, em cada momento, essa curiosidade, essa paixão de querer ser melhor e de querer chegar a um patamar do mais alto possível porque é isso que me move, essa paixão, essa curiosidade, esse interesse.

Petit e Nuno Pereira
Fonte: Rio Ave

Bola na Rede: Por que razão decidiu que este é o momento indicado para dar o salto e assumir o cargo de treinador principal? Sente-se preparado?

Nuno Pereira: Sim, ao longo destes anos todos preparei-me quer em termos científicos, quer em termos teóricos, quer em termos práticos, em busca de muito conhecimento, em busca de muitas informações complementares que pudessem ajudar a adquirir esse conhecimento e reforçar ainda mais as minhas competências e as minhas qualidades procurei sempre em cada momento, em cada contexto, em cada equipa, em cada grupo de trabalho em que eu inserido procurei tirar e retirar sempre o melhor, evidente que nós temos o conhecimento, por exemplo, na faculdade muito teórico, mas depois falta-nos a prática e eu consegui sempre aliar a teoria com a prática e aí foi muito enriquecedor embora eu já tivesse tido uma experiência também no Sport Clube Vila Real como treinador principal que correu muito bem e da qual eu queria ainda mais aquele desejo e aquela ambição do treino, do jogo e da parte do treinador e juntamente depois com a minha envolvência nas equipas técnicas com quem trabalhei esses conhecimentos e essas competências foram ainda reforçadas fui adquirindo em cada momento, em cada contexto que passei adquiri, refleti e analisei sobre o que foi bom, menos bom, o que é que poderá ser melhorado o que é que não poderá ser melhorado, como é que eu posso evoluir, como é que eu posso tirar o melhor de mim, como é que eu posso crescer nesta daquele aspeto, o futebol tem várias vertentes e eu procurei ao longo destes anos todos adquirir esse conhecimento e essa informação ao longo das várias vertentes para quê? Para me conseguir preparar, para me conseguir apetrechar com meios e conhecimentos que pudessem fazer melhor e neste momento sinto que estou preparado para um novo desafio, para uma nova etapa e porque vivi contextos muito bons no alto rendimento, muito desafiantes e agora o momento de poder aplicar tudo isso que eu vivi, tudo isso que eu adquiri ao longo deste tempo todo e, portanto, sinto-me preparado para os novos desafios.

Bola na Rede: O facto de ter estado estes anos como adjunto facilita este passo para treinador principal? Se sim, em que aspetos concretos sente essa vantagem?

Nuno Pereira: Claro que sim, nos como adjuntos, e mais concretamente no meu caso, eu passei pelas várias áreas dentro das equipas técnicas, desde a análise, desde a preparação física, desde a metodologia do treino, e muitas vezes também alguma liderança na substituição do treinador principal, desde a envolvência e o trabalho diário com os jogadores, porque eles também nos ajudam a crescer muito, obrigam-nos a pensar muitas vezes e obrigam-nos a ter capacidade de resposta e creio que nesse sentido eu consegui adquirir esses conhecimentos, essas experiências que foram uma mais valência para mim. É evidente que também ao longo deste percurso como treinador adjunto, o contexto que percorri numa fase inicial saindo do Campeonato de Portugal e depois passando realmente para os campeonatos profissionais mais concretamente para a Primeira Liga, em clubes como o Boavista, Tondela, B SAD, Rio Ave, e também o trajeto pelo Brasileirão na Série A permitiram-me nos diferentes contextos adquirir um conjunto de valências que hoje sinto que foram muito importantes, em cada etapa, em cada contexto, para eu poder ser melhor, para eu me sentir mais capacitado dos meus conhecimentos e de tudo aquilo que eu também, que é aspeto importante, que eu também pude ‘beber’ e partilhar e adquirir com colegas de trabalho com os treinadores como já referi há pouco, porque eu também cresci muito pelos meus colegas nas nossas discussões, quando partilhamos as nossas ideias, os desafios que surgem no dia a dia, tudo isso me fez crescer e tudo isso eu bebi um pouco por isso neste momento sinto que o momento certo porque preciso dum desafio diferente, um desafio novo porque gosto de sentir isso e quando nós sentimos que precisamos de um desafio diferente, um desafio novo, temos que fazer algo e neste momento sinto que tudo o que fiz para trás tudo que adquiriu para trás é importante para esta nova etapa e creio que vai ser fundamental também para, passo a passo, digamos assim, fazer o meu trajeto, fazer o meu caminho para conseguir alcançar os meus objetivos.

Bola na Rede: Com essa bagagem e experiencia, acha que consegue antecipar alguns dos maiores desafios que vai ter neste novo capitulo?

Nuno Pereira: Neste momento a experiência é um dado adquirido e é um valor muito importante para o que poderá ser o meu futuro. Não sei se vai ter muita importância ou pouca importância, o futebol hoje em dia, nos por vezes olhamos para determinados contextos e determinadas situações e percebemos que se calhar a experiência não é tão importante percebemos que se calhar o currículo, também já não é tão importante, se calhar há outros fatores que podem ser mais importantes, eu vou-me fazer valer pelos meus conhecimentos pela minha experiência, pela minha competência, pelo meu currículo também, digamos assim, é um currículo em que são praticamente 11 anos de Primeira Liga, praticamente 400 jogos que dá muito conhecimento, dá muito, digamos assim, nós com 400 jogos e à volta de 10.000 treinos, conseguimos adquirir para além da experiência, conseguimos adquirir também o conhecimento, em cada momento, em cada contexto que nos vai ser muito útil para o futuro, aí sim depois temos de saber adaptá-lo ao contexto, creio isso será mais importante, por isso, creio que tudo isso são fatores importantes para o meu trajeto, não consigo antecipar que tipo de futuro, que tipo de contexto, mas consigo sim, dizer que para os determinados contextos que possam surgir, desde que seja algo interessante quer no ponto de vista desportivo, quer também ponto de vista competitivo creio que isso pode ser importante e eu também sinto-me preparado para esse desafio.

Bola na Rede: Dentro desses desafios qual é que acha que pode ser mais atraente para si?

Nuno Pereira: Toda a gente gosta do melhor, e o melhor neste momento para qualquer treinador é sempre estarmos numa Primeira Liga, é sempre um contexto competitivo muito elevado, que é aquilo que nós mais desejamos e mais procuramos alcançar, no entanto, não descarto outras situações, desde que seja um projeto realmente em que tenha objetivos bem definidos onde eu também possa ser parte ativa desse projeto, quer em termos desportivos, quer em termos de valorização dos ativos do clube, quer em termos de projeção do clube, creio que esse pode ser também o grande desafio para eu poder ponderar as futuras situações.

Bola na Rede: A ambição de voltar a ter uma experiência internacional, tal como já teve no passado, também está presente nesta fase?

Nuno Pereira: Sim, neste momento também não ponho de parte, até pelo contrário, porque tem surgido algumas situações, algumas em que achei que não poderiam ser importantes ou desafiadoras para mim, mas neste momento estão algumas situações que poderão ser interessantes e eu claro que as coloco em cima da mesa porque se for um projeto em que haja pessoas com competência também e que me apresentem um conjunto de ideias e de objetivos que eu considero ambiciosos, sim, estou disponível.

«creio que cada vez está mais difícil para o treinador em Portugal».

Bola na Rede: Considera que o futebol português, tal como está hoje, continua a ser um contexto atrativo para treinadores?

Nuno Pereira: Sinceramente o futebol português é atraente, tem bons clubes, bons dirigentes, algumas boas estruturas, mas ainda lhe falta principalmente, por outra experiência que já vivi também no estrangeiro, falta-lhe ainda à maior parte dos clubes apetrecharem-se em termos estruturais, e eu creio que também alguma instabilidade que existe nos clubes, quando os resultados não são tão positivos, é importante percebemos o porquê desses resultados não serem tão positivos, e por vezes o que é que surge? Surge um despedimento, surgem clubes com três e quatro treinadores numa época, porque algo falhou e muitas vezes o problema, não muitas vezes, eu creio que 80, 90 por cento não são os treinadores, são outras coisas que são adjacentes ao sucesso. O que eu quero dizer com isto é que o futebol português tem coisas interessantes, mas em termos de dar estabilidade aos treinador, em termos de projeção para os treinadores e que lhes permita fazer um trabalho com alguma paciência, creio que cada vez está mais difícil para o treinador em Portugal.

Bola na Rede: Em 2014/15 foi treinador principal no Vila Real. Passados cerca de dez anos, o que mudou para agora voltar a querer assumir novamente o papel de treinador principal?

Nuno Pereira: Mudou muita coisa claro porque ao longo destes tempos, em primeiro lugar o contexto foi logo diferente, saí de um campeonato de Portugal para a Primeira Liga e o contexto foi muito diferente, a grande vantagem que tive foi alguns conhecimentos que eu já tinha adquiridos, quer em termos teóricos e científicos, quer também em termos práticos com a vivência de cinco anos no Sport Clube Vila Real me permitiu também adquirir, embora num nível mais baixo, adquirir muito conhecimento e muita experiência, mas depois a partir do momento em que entro na Primeira Liga Portuguesa os diferentes contextos por onde passei obrigaram-me a crescer, obrigaram-me a ser melhor, obrigaram-me a ir em busca de mais conhecimento, obrigaram-me ir em busca de respostas para darmos muitas vezes quer na parte de física, na parte técnica, na parte tática, na parte psicológica e esse contexto todo e, juntamente com o trabalho que também já referi dos meus colegas desde equipas técnicas, dos treinadores com quem trabalhei, tudo isso me fez crescer e tudo isso me fez tornar uma pessoa com valências com mais competências e neste momento o Nuno Pereira é um treinador muito mais capacitado do que era o Nuno Pereira, por exemplo, em 2014 e 2015 quando estava no Sport Clube Vila Real.

Bola na Rede: Em relação à experiência no Cuiabá, no Brasil, o que é que retirou desse desafio? Que aprendizagens levou de lá e de que forma é que essa passagem influenciou a maneira como treina hoje?

Nuno Pereira: A experiência no Cuiabá foi muito enriquecedora, em primeiro lugar por estarmos numa Série A, no Brasileirão, onde competíamos com equipas de alto nível, hoje em dia a Série A é um campeonato muito atrativo, muito competitivo, evoluiu bastante porque com a introdução de treinadores estrangeiros, neste caso mais concretamente os portugueses que têm tido muito sucesso no Brasileirão, o nível, a exigência e a qualidade aumentou significativamente e daí isso ser um fator muito importante para a evolução do campeonato, assim como os jogadores que passaram por campeonatos europeus, mais concretamente jogadores brasileiros de grande nível que passaram por grandes equipas europeias, quando regressaram trouxeram uma mentalidade diferente, também trouxeram mais competitividade, mais qualidade e isso também fez com que o campeonato fosse muito mais atrativo, mesmo para nós quando aceitamos a proposta do Cuiabá. O Cuiabá foi um desafio muito interessante porque numa fase inicial, o Cuiabá estava em último lugar e nós sabíamos que tínhamos uma missão muito difícil de alcançar, no entanto, com a nossa chegada, o Cuiabá melhorou significativamente porquê? Porque demos mais qualidade ao treino, tivemos que nos adaptar no facto ao campeonato por fazer jogos três dias, é diferente de fazer jogos no micro ciclo normal, por exemplo, de domingo a domingo, e aí a nossa adaptação creio que foi muito boa, foi contextualizada, conseguimos também alcançar, numa fase inicial, resultados muito positivos, quer na Série A, quer na Copa Verde, quer na Sul Americana, foi interessante os registos que alcançamos, desde golos marcados, menos golos sofridos, a nível de pontuação também conseguimos alcançar uma boa pontuação numa primeira fase, creio que o grande problema foi na abertura do mercado também, em que nós não conseguimos reforçar a equipa, ao contrário de outras equipas que se conseguiram reforçar com qualidade e fez a diferença. Nós pelo contrário perdemos alguns jogadores fundamentais que nos tornou, em termos de opções, em termos principalmente de qualidade, mais frágeis e um pouco mais limitados e daí fazer essa diferença. Gostei muito de trabalhar com o jogador brasileiro, fiquei com uma ideia diferente porque conseguiram-me convencer na forma como eles trabalhavam, na forma como eles procuravam aprender mais, a vontade e disponibilidade que eles tinham em cada treino, em cada jogo, de saber o que fizeram bem, o que fizeram mal, como é que poderiam evoluir, em termos de treino eram altamente competitivos revelavam sempre curiosidade em saber mais e em querer evoluir, como evoluir, como é que os poderíamos ajudar e isso também foi um desafio muito interessante porque surpreendeu o facto dessa mentalidade no jogador brasileiro. A experiência no Cuiabá também foi muito interessante porque o Cuiabá é um clube que tem uma academia com excelentes condições, que proporciona aos seus atletas, aos treinadores, quer a nível prático, quer em termos teóricos de preparação, de planeamento, de facto têm uma academia, um centro de treinos muito bom, acima da média, os profissionais também sempre revelaram muito apoio connosco, muita proximidade em querer ajudar e creio que um clube que à primeira vista não espelha a dimensão e as condições que tem, foi um projeto e um desafio muito interessante, enriquecedor e essencialmente, a mim, também me deixou com vontade de um dia poder regressar ao Brasil porque de facto gostei da mentalidade do jogador brasileiro, gostei da competição no Brasil, gostei daquela envolvência de 3 em 3 dias e de adaptar a metodologia, contextualizar a metodologia e acima de tudo estas sempre a competir e os jogadores gostam de estar sempre a competir, é desafiante. Um aspeto que eu considero menos positivo, mais concretamente no caso do Cuiabá, foi o facto da logística em termos de viagens que é muito desgastante, Cuiabá fica muito distante de tudo e em termos de desgaste físico e mental ao nível da logística é muito grande.

Nuno Pereira Cuiabá
Fonte: Cuiabá

Bola na Rede: Entrando agora na parte tática, quando pensa na sua equipa ideal, que imagem é que lhe vem à cabeça? Como é que gostava realmente de ver a sua equipa a jogar?

Nuno Pereira: Acima de tudo eu tenho uma ideia, uma ideia de jogo, uma ideia de treino, a ideia de jogo que eu tenho e que mais privilegio, por exemplo, num sistema tático de guarda-redes mais 4-3-3 em que gosto do ataque posicional alternado com o ataque rápido, gosto de valorizar essencialmente a posse com muitas das vezes alternância num jogo mais rápido mais vertical, de aceleração, evidente que eu neste sistema, gosto também da dinâmica que poderá surgir nos corredores com a envolvência de um lateral, de um extremo e de um médio criando dinâmicas que possam surpreender os adversários. Em termos defensivos gosto de defender num sistema de 4-4-2 onde às vezes poderá também variar num bloco mais baixo, dependendo do momento e do contexto, para 5-4-1 com um encaixe do médio defensivo entre os defesas centrais, por exemplo, gosto de uma equipa que em termos defensivos com uma forte reação à perda essencialmente mostrar uma organização coletiva muito forte, são aspetos que eu defino com prioridade, no entanto, também gosto que a minha equipa esteja sempre equilibrada no processo de jogo sei que por vezes isso não é possível, mas ter ali um sentido de equilíbrio e de organização coletiva muito grande são aspetos que eu valorizo, no entanto, com a experiência toda ao longo destes anos eu também com os diferentes treinadores com quem trabalhei já joguei em várias dinâmicas, vários sistemas desde o 3-4-3, 3-5-2, 4-4-2, ou seja, esses estamos todos permitiram-me adquirir essa tal experiência que para mim neste momento, há uma coisa que é aquilo que eu gosto que eu mais valorizo, há outra coisa que é o contexto e o que é que o momento vai pedir, portanto, é uma questão de adaptação porque nós hoje também, nós os treinadores hoje em dia, temos que perceber rapidamente o contexto onde estamos, o momento em que entramos, por exemplo, porque tudo isso aí pode fazer a diferença e a diferença está realmente em nós, em nos adaptarmos a esse contexto.

Bola na Rede: Há um detalhe que pode moldar tudo isto, a preparação mental dos jogadores, que hoje em dia é um tema cada vez mais sensível. Como é que lida com essa dimensão no trabalho diário?

Nuno Pereira: No futebol há quatro vertentes muito importantes, o aspeto físico, que também tem uma preponderância muito grade, o aspeto técnico, este conseguimos melhorar ao longo do dia-dia, ao longo do treino, podemos individualmente ajudar o jogador a evoluir e a crescer, há o aspeto tático em que nós também privilegiamos a organização e como a vamos trabalhar, como a vamos valorizar e aí dar um sentido coletivo na organização da equipa depois de fato o aspeto mental hoje em dia é muito importante e tem grande preponderância no rendimento do atleta porquê? Porque o atleta tem que estar 100 por cento focado e 100 por cento com a cabeça limpa, como se costuma dizer, porque um problema pode ser pessoal, pode ser familiar, pode ser um problema para o jogador e o jogador se não tiver com a cabeça limpa, se não tiver esses problemas todos bem resolvidos na sua cabeça vai afetar claramente o seu desempenho, depois, também creio que hoje em dia, os jogadores por vezes distraem se com muitas coisas ou por influências ou por situações de sucesso, ou insucesso, e por vezes perdem o foco, perdem a concentração e claro que depois não conseguem atingir um desempenho que os possa levar à separação e ser cada vez melhores, ou seja, hoje em dia há muitas ferramentas, há muitos meios em que nós treinadores temos, para poder ajudar essa parte do atleta, o atleta hoje também creio que muitas vezes essa sensibilidade que apresenta é fruto de alguma conduta quer interna, quer externa e se nós conseguimos ajudá-los e perceber o que é que realmente os afeta nós enquanto treinadores, temos que saber liderar e saber gerir este processo mental do atleta, porque nós precisamos dele e ele precisa de nós, mas se calhar aqui a parte mais importante do processo é realmente nós treinadores também termos essa capacidade de saber lidar e gerir o processo mental do atleta.

Nuno Pereira Rio Ave
Fonte: Rio Ave

Bola na Rede: Há treinadores que hoje dão muita importância a esta ligação com o jogador, não só para o compreender melhor, mas também para prevenir certos episódios. Como é que é para si lidar com isso, trabalhar com jogadores enquanto profissionais, mas sobretudo enquanto pessoas?

Nuno Pereira: Nós acima de tudo enquanto treinadores temos de rapidamente antecipar comportamentos e por vezes os jogadores dão nos sinais de alguns comportamentos que estão menos bem, menos bons, que podem estar a influenciar o seu rendimento, o seu desempenho e a nós treinadores de facto no dia-dia é importante termos essa sensibilidade, porque isto é um processo que está tudo interligado o jogador não é só jogador o treinador não é só treinador é a partir do momento em que estamos inseridos num contexto, num grupo, uma equiparação para uma família e nós precisamos todos uns dos outros, e o clube precisa de toda a gente interligada e o adepto tem uma perceção diferente, porque também não sabe o que se passa no dia a dia, não sabe que tipo de trabalho é feito, e o adepto simplesmente quer que o jogador marque golos, quer que o jogador seja sempre o melhor, quer que a equipa ganhe e isso queremos todos nós, o problema está no facto, porque muitas vezes isso também não é passado cá para fora, nem tem de ser, claro, mas o adepto chega ao jogo e só quer saber do resultado, e nós treinadores durante a semana passamos por um processo, e o processo é mesmo esse, os jogadores têm de estar bem preparados em todos os aspetos, físico, técnico, tático e mental, é preciso haver uma simbiose muito forte entre os jogadores e os treinadores é preciso haver uma ligação muito forte entre todos os jogadores, treinadores e todo o staff envolvente à equipa, portanto todo esse processo tem que estar interligado para que consigamos depois chegar ao fim da semana, do micro ciclo, e podermo-nos apresentar nas melhores condições, porque se nos apresentarmos nas melhores condições vamos certamente estar mais perto daquilo que queremos, que é conquistar os três pontos e certamente que os adeptos também vão ficar mais satisfeitos porque a equipa se calhar vai ter mais resultados positivos, se calhar vai ter mais sucesso, agora, isso é de fato um processo que ao longo do micro ciclo ao longo uma época desportiva tem muitas alternâncias, porque nem sempre o jogador está bem, nem sempre a simbiose é melhor, mas nós treinadores temos de ter essa capacidade de rapidamente decifrar comportamentos para que consigamos atacar logo de uma forma rápida e direta para quê? Para mantermos o jogador no seu melhor e os jogadores estando no seu melhor vai ser um jogador feliz, um jogador feliz vai certamente tem um rendimento muito maior, e quem vai beneficiar com isso é o coletivo, quem vai beneficiar com isso é a equipa, e os adeptos certamente que irão ficar muito mais satisfeitos, por vão ganhar mais vezes como é lógico, e creio que passa muito mesmo por aí, que é na questão de o treinador antecipar comportamentos, alguns sinais que o jogador pode dar e logo ia atacar de forma direta, para resolver rapidamente aquilo que poderá ser um problema, ser logo uma solução. Creio que grande parte do sucesso passa por aí.

Bola na Rede: A relação com os adeptos pode ser muito positiva, mas também depende sempre dos resultados. Acha que envolver os adeptos no projeto é essencial para criar estabilidade e identidade?

Nuno Pereira: Eu creio que os adeptos são também uma parte ativa do projeto dos clubes, mas os adeptos nem sempre sabem, nem podem saber tudo o que é feito, claro que há sempre aqueles adeptos mais interessados e que conseguem perceber algumas coisas, também há aqueles adeptos menos interessados e que não conseguem ou não tem noção nenhuma do que é o futebol, só sabem que o futebol é ganhar e aí esses vão ter mais dificuldade, e por vezes o foco destabilizador são esses mesmos, em que não tem essa capacidade de perceção e que por iniciativa própria são desestabilizadores, são críticos, são destrutivos em relação por vezes aquilo que é o jogador, porque criticam de uma forma que o jogador por vezes pode sentir muito sensível às vezes ferem mesmo o atleta porque os jogadores já têm noção muitas das vezes que o seu desempenho não foi o melhor e estar constantemente a ouvir críticas quer no estádio, quer fora de estádio não é bom e não vai ajudar em nada ao processo, como é que adeptos podem estar envolvidos nesse processo? Se calhar por vezes também uma situação que ocorre muito e cada vez mais creio que se fecha muito, antigamente às vezes abrisse a porta aos treinos e os adeptos tinham se calhar a noção de algumas situações, hoje em dia praticamente sempre treinos à porta fechada por vezes surgem 10, 15 minutos em que o treino é aberto, por exemplo, a comunicação social, mas são muito poucas vezes em que o adepto tem contacto com situações, por exemplo, de treino, evidente que os treinadores também, e eu reconheço isso, vêm muito isso como uma parte estratégica, a parte de tática e poder às vezes haver fugas de informação, mas creio que era importante também os clubes e treinadores começarem a pensar, não digo todas as semanas como é lógico, mas uma vez por mês se calhar, envolver os adeptos, terem uma presença no treino terem contacto com os jogadores se calhar às vezes dar ali cinco minutos no fim treino para que possam até conviver com os jogadores e as vezes abrem se, se calhar o jogador vai sentir, os jogadores já sentem respeito pelos adeptos, mas se calhar os adeptos vão sentir ainda mais respeito com aqueles atletas, porque se calhar uma pequena conversa, um gesto, um tirar de fotografia ou um autógrafo muda muitas vezes aquilo que é a opinião dos adeptos com um jogador, se calhar aí eram pequenos aspetos, mas muito importantes. Creio que essa também pode ser uma das soluções que os clubes têm que repensar em termos estratégicos, e até por uma questão de marketing do próprio clube, essa envolvência, creio que seja fundamental.

Bola na Rede: Quando surgem atritos entre jogadores e adeptos, qual é o seu papel para manter o grupo unido e de que forma reage a essas situações?

Nuno Pereira: O papel é muito simples, é fazer o jogador pensar que o seu foco é único e exclusivamente naquilo que é o treino, que é o jogo o que as suas tarefas diariamente e ter a capacidade de saber lidar com momentos menos bons, com aumento de crítica, neste caso têm os treinadores para poder ajudar para aumentar os níveis de confiança, para poder contornar a situação e para poder elevar ao máximo a sua autoestima, sem que ela seja ferida por um adepto que simplesmente fez uma crítica, fez um comentário, não, vamos ajudá-lo, vamos perceber o que é que aconteceu, como é que o vamos ajudar e como é que vamos fazer com que o jogador esteja realmente focado naquilo que interessa, naquilo que podemos nós todos controlar e claro, sem o jogador ficar afetado porque precisamos do jogador sempre disponível para o treino, sempre disponível para o jogo, porque um mau treino tem consequências significativas para o seu desempenho em termos daquilo que é o rendimento no jogo e nós não queremos isso, então compete-nos estar sempre despertos, disponíveis e também arranjar estratégias para os podermos ajudar a estar com a autoestima e os níveis de confiança sempre muito elevados para tirar um melhor rendimento ao atleta.

«não podemos entrar em bloqueio porque senão isso irá nos tirar capacidades de raciocínio e não vamos conseguir tomar as melhores decisões».

Bola na Rede: E para si, como costuma lidar com a pressão?

Nuno Pereira: Normalmente sou uma pessoa que gosta da pressão diária, e o futebol é isso, é pressão diária de trabalhar, treinar, planear, do resultado, temos que saber lidar com essa pressão de uma forma natural sem entrar em stresse, entrar em bloqueio, porque o stresse e o bloqueio não nos vai levar a lado nenhum, bem pelo contrário, temos que tentar de uma forma transparente, de uma forma tranquila, poder fazer as nossas análises, as nossas reflexões e ver onde está o erro, se é que existe, onde está e como o vamos corrigir, e como vamos lidar com a situação de pressão, de uma forma mais agressiva ou mais forte, porque, como já referi, não podemos entrar em bloqueio porque senão isso irá nos tirar capacidades de raciocínio e não vamos conseguir tomar as melhores decisões.

Bola na Rede: Já mencionou que acompanha outros desportos. Por exemplo, Mikel Arteta ou Jorge Jesus admitiram ir buscar ideias ao basquetebol. Qual é a sua perspetiva sobre esta abordagem e, se fosse aplicar conceitos de outros desportos, que exemplos destacaria?

Nuno Pereira: Por exemplo, há um desporto que eu valorizo muito, valorizo uma componente daquele desporto, não é o meu desporto favorito, mas vou-lhe dar o exemplo do andebol, para trabalhar a basculação. É um desporto que tem um momento muito interessante principalmente no momento defensivo em que os jogadores têm de bascular para um lado e para o outro de forma organizada e coordenada, já retirei muita coisa nessa basculação para o futebol, evidente que no basquete também tem situações, por exemplo, passe e corte que é fundamental e no basquete utiliza-se muito, ou seja, nós podemos retirar algo interessante dos outros desportos e o algo interessante podemos também depois adaptar e contextualizar, em determinados momentos, em que nós podemos no nosso planeamento, na nossa metodologia, encaixar ali algumas situações que iram contribuir para o nosso exercício, o nosso treino e o nosso jogo seja muito melhor, não vejo problema nenhum, aliás muito pelo contrário, nas modalidades todas elas têm a sua especificidade, e dentro desta especificidade todas têm uma parte em comum, que é ganhar, a forma como vamos ganhar, ou conquistar a vitória, há muitas formas, mas retirando uma ou outra, e eu dei esses dois exemplos, são duas modalidades muito fortes em que nós realmente podemos tirar ideias e não há problema nenhum, pelo contrário, nós aprendemos com estas situações porque, o ganhar tem muitas formas de se ganhar, o planear tem muitas formas de se poder planear, a metodologia tem muitas formas e métodos de se conquistar o sucesso, portanto são situações para reflexão e para valorização da própria modalidade, porque se acrescentarmos algo diferente, certamente vamos nos tornar mais ricos, mais conhecedores, e vamos também conseguir exportar para o nosso dia a dia, para a nossa metodologia, certamente, com o objetivo de ter sucesso.

Bola na Rede: Dentro destas diferentes formas de ver o futebol, recentemente tivemos o caso do treinador Luís Henrique, que observa os primeiros minutos do jogo a partir da bancada para ter outra perspetiva. Qual é a sua opinião sobre esta abordagem e o que acha que se pode ganhar ao observar a equipa desta forma antes de intervir ao intervalo?

Nuno Pereira: Muito sinceramente acho uma boa ideia. Uma das coisas que menos gosto são quando os bancos são rebaixados, os bancos de suplentes onde os treinadores também estão no seu ponto de intervenção, são muito rebaixados e a nossa visão é muito limitativa, creio que num plano superior o treinador consegue fazer uma melhor leitura, consegue tomar melhores decisões, consegue fazer uma análise diferente tem uma perceção diferente do espaço do campo do posicionamento, e isso de fato é uma situação que eu concordo, e acho que devia ser um ponto a repensar realmente quando, por exemplo, se vai fazer uma vistoria ou quando se analisa como é que está o posicionamento, porque de facto o treinador ganha muito mais com esse plano superior do que num plano normal ou num plano rebaixado, a ideia, a perceção é completamente diferente.

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