Paulo Bento passou em revista quase 40 anos de carreira. Do acaso que o lançou no Estrela da Amadora à mágoa dos títulos perdidos no Sporting.
Livre no mercado após a experiência nos Emirados Árabes Unidos, Paulo Bento foi o convidado do videocast 90+3, onde abriu o livro de memórias. Numa conversa longa, o treinador abordou o atual momento de Portugal e a forma como a influência de Cristiano Ronaldo se transformou ao longo do tempo.
Para o antigo médio, a seleção vive hoje uma realidade distinta daquela que ele próprio comandou (entre 2010 e 2014) ou onde jogou.
«Havia uma maior dependência dele, não há como esconder. Portugal hoje não depende tanto dele como dependia há uns anos. E posso falar de 2010, 2012, 2014… em 2016 já menos, até porque acabámos por ganhar a final do Europeu, embora com a infelicidade de ele estar lesionado. Estamos a falar de que, devido às opções que existem hoje, há menos dependência, e também fruto da idade dele, embora continue a fazer golos na Arábia», afirmou o antigo selecionador nacional.
Recuando à fita do tempo, Paulo Bento recordou que a sua carreira profissional esteve por um fio. Aos 20 anos, foi um treino de captação no Estrela da Amadora, observado por João Alves, que mudou tudo.
«Se não houvesse essa oportunidade de um senhor me ver durante 20 ou 26 minutos e dizer ‘para mim é suficiente, vamos contratar aquele miúdo, provavelmente teria ficado pela distrital ou terceira divisão. Hoje em dia esse cenário é quase impossível, pois os miúdos são captados muito cedo. Fui treinar à experiência, fiz uns 20 minutos num treino, ele mandou-me sair e, quando eu pensava que me vinha embora, disseram-me que me iam oferecer um contrato de três anos», recorda.
Sobre a passagem pelo Sporting, foi treinador e jogador e, recorda a época dourada de 2001/2002 como o auge. Já como treinador, apesar das duas Taças de Portugal conquistadas, fica o sabor amargo do campeonato da Primeira Liga que fugiu.
«Fica o sabor amargo de não ter conseguido o campeonato. Em 2005/06, recuperámos muitos pontos e podíamos ter passado para a frente no jogo com o FC Porto em Alvalade (o golo do Jorginho). Em 2006/07 perdemos por um ponto (o golo com a mão do Ronny). Fico orgulhoso de ter contribuído para o crescimento de jogadores como João Moutinho, Nani, Rui Patrício, Veloso, Adrien, entre outros», concluiu.

