A vitória do Braga em Famalicão levanta uma questão inevitável: estará a equipa bracarense finalmente a encontrar a consistência que tanto tem faltado esta época? O jogo do passado sábado deixou alguns sinais claros, sendo alguns positivos e outros nem tanto. De qualquer das formas, aproveitaram a oportunidade para voltar ao quinto lugar da Primeira Liga. Já o Famalicão, foi uma equipa que se mostrou capaz de se bater frente-a-frente contra o adversário, sendo capaz de condicionar os processos ofensivos e de criar oportunidades que poderiam ter mudado o contexto do jogo.
A equipa da casa arrancou melhor na partida, conseguindo limitar bastante a saída curta do Braga através de uma marcação apertada aos extremos bracarenses, não permitindo que estes oferecessem apoios frontais. Sorriso foi importante neste processo, acompanhando também as constantes desmarcações de Victor Gómez pelo corredor direito. O extremo brasileiro foi ainda o foco dos ataques famalicenses durante a primeira parte, recebendo vários passes diagonais na exploração da profundidade, algo já enfatizado pelo técnico Hugo Oliveira como essencial no ataque da sua equipa. Para além disso, aproveitou o facto de o defesa-lateral espanhol estar mais subido na pressão para encontrar espaços nos quais atacou as situações de um-para-um frente a Gustaf Lagerbielke.
Porém, um pouco contra a corrente do jogo, o Braga alcançou a vantagem aos 24 minutos. O desequilíbrio foi criado com uma dinâmica na qual Gorby Baptiste juntou-se ao corredor direito, criando uma superioridade numérica. Victor Gómez, que normalmente oferece a largura ao ataque bracarense, fez um movimento por dentro, entre o central e o lateral, e serviu Ricardo Horta para o golo. O remate do português sofreu ainda um desvio que traiu Lazar Carević. Depois do golo, conseguiram estabilizar o ataque e tomar maior controlo da partida. Chegaram até a criar oportunidades de aumentar a vantagem, continuando a explorar as ligações no flanco direito, muitas das vezes com passes do defesa-central sueco a encontrar jogadores nas costas da defesa adversária.


A resposta do Famalicão acontece também num momento pouco esperado, mas muito oportuno. Já perto do intervalo, com o jogo a tender para o lado dos visitantes, Gil Dias mostrou toda a sua qualidade técnica ao bater 3 jogadores na pressão e encontrar Gustavo Sá entre-linhas. O jovem médio desbloqueou a linha defensiva do Braga com um passe a aproveitar a desmarcação entre os defesas-centrais por parte de Sorriso, que cruzou para a finalização de Yassir Zabiri. O avançado marroquino chegou, assim, ao segundo golo em dois jogos e começa afirmar-se como o futuro do ataque famalicense.
Após o intervalo, a equipa de Hugo Oliveira mostrou dificuldades em estabelecer as suas ideias de jogo e permitiu que o Braga se instalasse no seu meio-campo ofensivo. Esta tendência tornou-se ainda mais óbvia com as entradas de Florian Grillitsch e Rodrigo Zalazar. O médio austríaco ofereceu mais poderio físico na zona central do meio-campo e o uruguaio providenciou uma ligação com o ataque. Desta forma, os visitantes foram capazes de controlar o ritmo de jogo, retirando muita confiança ao adversário.
Pau Víctor esteve particularmente mais envolvido na segunda parte, estando no final de várias oportunidades claras, antes de chegar mesmo ao golo aos 71 minutos, num lance de bola parada. Uma bola perdida dentro da área sofreu um toque de Victor Gómez, deixando o avançado espanhol isolado no primeiro poste, a uma distância difícil de não converter.


O Braga ainda demonstrou alguma vontade de aumentar a vantagem, e estiveram muito perto de o fazer em mais uma oportunidade para Pau Víctor. Aos 80 minutos, o avançado encontrou um espaço no primeiro poste e rematou forte mas Lazar Carevic fez uma grande defesa que manteve a sua equipa no jogo. Contudo, nos últimos 10 minutos, o Famalicão partiu para um jogo mais direto e foi à procura do empate.
Esta atitude forçou a equipa de Carlos Vicens a fechar-se atrás, terminando a partida num esforço totalmente defensivo. Simon Elisor ainda esteve perto de fazer o golo da temporada, com um remate de pontapé de bicicleta que forçou Lukas Hornicek a uma defesa apertada a dois tempos. Os arsenalistas souberam sofrer e aguentaram a carga adversária, saindo vitoriosos pela margem mínima.
Deste modo, as mudanças táticas e de atitude de ambas as equipas ao intervalo marcaram a diferença e o Braga somou a segunda vitória consecutiva na Primeira Liga, num terreno sempre complicado, contra uma equipa que partiu para o jogo com ideia de competir frente-a-frente. Este triunfo permitiu ultrapassar o Famalicão na quinta posição da classificação e oferece alguma confiança para a viagem a Nice, na próxima quinta-feira.


BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: O Braga mostrou dificuldades na saída de bola curta durante a primeira parte, o que pediu aos jogadores durante o intervalo para conseguir melhorar no segundo tempo?
Carlos Vicens: Mais do que dificuldades, o que tivemos foi: na fase seguinte, quando chegávamos às zonas onde o Famalicão queria pressionar, faltou-nos ajustar os timings de certos jogadores para aparecerem em determinadas zonas. Foi o que procurámos ajustar no intervalo, para que a nossa posse de bola fosse mais fluída, e creio que o conseguimos. Na segunda parte, é verdade que tivemos capacidade de fixarmos-nos no campo adversário e ter o controlo do jogo.
Bola na Rede: Na primeira parte, com o Victor Gomez mais subido na pressão, o Famalicão criou várias oportunidades através do Sorriso, tanto nas bolas diagonais como a explorar o um-para-um contra o Gustaf Lagerbielke. Para além disso, conseguiu criar bastantes dificuldades na saída de bola curta do Braga. O que é que acha que mudou na segunda parte para que essa estratégia tenha sido anulada?
Hugo Oliveira: Concordo com a análise. Conseguimos criar ocasiões numa primeira parte dividida. Acabámos por ter oportunidade de golo, de criar ligações e relações através do nosso jogo, encontrando meios espaços, encontrando situações de um-para-um por fora que gostamos. Nesse sentido criámos situações, o adversário acaba por fazer um golo numa situação que deveria ter sido controlada, mas reagimos e acabámos por chegar ao empate. Na segunda parte o adversário acabou por adaptar um pouco a nossa construção e acabou por criar-nos muitos problemas na sua mobilidade e funcionalidade ofensiva, com muitas trocas e com uma dinâmica que nos criou problemas defensivos. Esses problemas defensivos criaram-nos algumas dúvidas. Dúvidas essas que depois se transformaram.
Nas grandes equipas não pode haver uma equipa que ataque bem sem defender bem e não há equipas que defendam bem sem atacar bem. Como não estávamos a defender bem essa dinâmica e fluidez posicional do Braga, acabámos por sentir algum receio e não tivemos tanta confiança para ir à procura dos nossos caminhos com bola. O adversário acabou por estar, em largos períodos, melhor que nós, criando problemas e situações para finalizar. Acabou por chegar ao golo numa situação com alguma sorte. A verdade é que depois de termos sofrido, libertámo-nos um pouco e, ainda que seja com muita emoção, voltámos ao jogo e criámos situações. Apesar de termos tido um grande período do jogo que não estivemos ao nosso nível, com a nossa coragem de ir à nossa ideia em todas as circunstâncias. Mesmo assim, acabámos o jogo criando situações e uma situação que nos podia ter dado o empate.

