A Referência do Wrestling Português – Entrevista a Bruno “Bammer” Brito

BnR: Como se prepara um show do Wrestling Portugal, decidindo que ganha e quem perde?

B: Temos um booker, alguém responsável pelas histórias e por quem ganha e perde. É um processo que leva tempo. Por exemplo, temos uma ideia de onde queremos estar daqui a seis meses ou um ano e temos um número de shows para chegar lá e vemos o que temos de fazer até chegar ao grande final. Chegando ao espectáculo, tem de se fazer um show para toda a gente. Há quem goste mais de violência, há quem goste mais de comédia, há quem goste de combates mais técnicos. Há que ter de tudo em cada show. Depois há que perceber que os main-eventers têm de ser lutadores que chamem gente, temos de perceber quem vai abrir o show, pois a abertura também é muito importante. São muitas peças para gerir e é um trabalho complicado. Depois há o facto de nem sempre os lutadores não gostarem do que vão fazer. Há lutadores que querem lutar 20 minutos e vão lutar cinco, que queriam fazer um combate violento e vão fazer um de comédia. Não se pode agradar a toda a gente e há que saber gerir os recursos humanos. Não é um processo chato, é um processo de diálogo mas acaba por render.

BnR: Tocaste no ponto das expectativas dos lutadores. É fácil gerir os egos, tendo em conta que haverá sempre um vencedor e um perdedor?

B: Na nossa Academia é fácil, porque lutamos em todos os treinos e há sempre quem ganha e quem perde e no final do dia isso não importa. Eu também sou uma pessoa suspeita porque tive 6 anos sem perder um combate que envolvesse o titulo, mas quando me disseram que ia perder não me fez confusão. Mas acredito que em alta competição isso seja um processo delicado pois há muito dinheiro em jogo. Depois também depende das pessoas. Se tiveres o Miz e a Maryse contra o Cena e a Nikki na Wrestlemania, o Miz estará num combate que envolve muito mais dinheiro do que se tivesse num combate por um titulo e que até podia ganhar, mas mais vale perder para o Cena na quarta hora do show em vez de estar na primeira hora. Mas há pessoas a quem a derrota afecta e pensam que podem começar a cair a partir daí. Em Portugal nunca teremos isso, pois não há muito dinheiro em jogo. Mas lá fora percebo que haja algumas birras. Dou o exemplo da Streak. Tirar a Streak ao UnderTaker pode ter ajudado o Lesnar mas não é uma figura da casa, não está sempre presente. Um lutador a tempo inteiro, como o Roman Reigns, podia beneficiar mais dessa decisão. Aqui também entram a questão das amizades, o Goldberg e o Taker têm uma boa relação e isso também influencia bastante.

BnR: Na Academia, os wrestlers têm liberdade no seu booking ou são aconselhados e só decidem o final dos combates?

B: Nós temos dois níveis de alunos. Temos os alunos que já têm experiência e consegue construir os combates e nós só pedimos para eles nos surpreenderem no ringue e que sigam o final proposto. Depois tens alunos menos experientes e temos um agente para o combate com quem decidimos o combate e ele vê os pontos fortes e fracos dos lutadores e decide o que devem mostrar dentro do ringue e como acabar o combate. Este já é um trabalho a três.

BnR: Foste campeão durante 6 anos. Que peso teve para ti e para o Wrestling Portugal no geral?

B: Por um lado foi bom, por outro foi mau. Não fiquei surpreendido quando soube que ia ser campeão, pois era o treinador principal, era visto como o lutador mais completo e sabia que era uma questão de tempo até ser campeão. O problema foi que, depois de ter ganho o título, fizemos poucos espectáculos, andamos a fazer shows com a WSW e eu também não perdia e eu fui para a Suíça. Este reinado de 6 anos começou a criar a ideia de que nunca mais ia acabar. Havia a percepção de que o ponto alto de um lutador era trabalhar até um combate contra mim, perdia e voltava para o fim da fila e depois vinha outro e era a mesma coisa. Depois havia a ideia de que eu era o John Cena português, era egoísta, não queria perder. A verdade é que tivemos a infelicidade de deixar de ter espectáculos em Queluz, tínhamos com outra entidade e isso esgotou o plantel, que não quis fazer mais shows. A juntar isto, a minha ida para a Suíça. Tudo isto deu a ideia de que ia ter o título para sempre mas nunca foi algo que eu quisesse. Agora reparo que há mais pessoal que acredita que pode chegar ao título. Se o Salvador ganhou ao Bammer, outros também podem ser campeões e começas a ter outro tipo de combates e outras situações que podem acontecer. É como teres o Lesnar campeão ou o Miz campeão. O Miz também pode ser um campeão credível mas sabes que pode perder em qualquer combate, já o Lesnar, sabes que é preciso haver interferências ou algo assim. E eu estava a ficar muito como o Lesnar, no sentido que já não ia ser só com um finisher ou dois que ia perder. Desde que perdi o título, fiquei mais humano.

Bammer e Luís Salvador no final do combate Fonte: Facebook Oficial de Bruno "Bammer" Brito
Bammer e Luís Salvador no final do combate
Fonte: Facebook Oficial de Bruno “Bammer” Brito

BnR: Perdeste o título para o Luís Salvador, alguém que acompanhaste desde o inicio. Que significado teve para ti esse momento?

B: Eu conheci o Salvador desde o primeiro dia. É um rapaz impecável, dos meus melhores amigos, muito ambicioso e trabalhador. Quando soube que ia ser campeão ficou cheio de nervos e ficou a pensar se merecia essa honra de me suceder. E esse nervosismo passou para mim. Sou alguém que vai para os combates nervoso mas não receoso, e ele ficou tão nervoso que me transferiu esses nervos, pois eu queria que daqui a 10 anos olhasse para aquilo e sentisse imensa alegria. Eu queria que o combate fosse uma obra-prima. Fui muito mais nervoso do que vou normalmente, mas correu tudo bem, foi um grande combate e um grande momento. Ele é alguém que reúne o respeito de toda a gente no balneário, pelo que fez com o site, como já te referi. É a cara mais reconhecida do Wrestling português e fiquei satisfeito porque tudo correu bem.

BnR: Como surgiu a decisão de largares o titulo?

B: Foi o nosso booker que tomou essa decisão, apesar de eu achar que estava na hora de largar o título também. Senti que estava a começar a ficar cada vez mais longe dos restantes e estava na hora de colocar o titulo numa cara nova, de criar combates novos e imprevisíveis e nesta nova ronda de espectáculos decidimos agitar isto. Teve para acontecer mais cedo, mas deu para perceber que foi uma boa altura, as pessoas queriam um campeão novo e eu respeito isso.

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