«Apareceu o FC Porto, não deu. Apareceu o Sporting, não deu. Só faltava o Benfica e esse era gigante» – Entrevista BnR com Manduca

– Campeão como jogador, treinador e diretor… Na mesma época –

BnR: Depois ainda fazes mais três anos no Chipre, mas és obrigado a terminar a carreira por causa de uma lesão.

GM: Exato. Sentia que podia jogar até aos 40, a cada ano sentia-me melhor, não só fisicamente, como em experiência dentro de campo. Em 2014/2015, quando sofri uma lesão e sou obrigado a terminar a carreira – tenho dores até hoje no tornozelo – estava com sete golos no campeonato, também na Liga dos Campeões contra o Ajax e tinha sido o melhor em campo contra o PSG. Estava numa ótima forma com 34 anos, mas a lesão estragou os planos.

BnR: Estavas preparado para abandonar o futebol?

GM: Para ser sincero, estava. Sentia-me bem fisicamente e dentro de campo, mas já estava satisfeito com a minha carreira e cansado da rotina do futebol. Já tinha dois filhos, estava a precisar de mais tempo com a família e psicologicamente já estava a relaxar. Pela minha performance em campo, podia jogar tranquilo até aos 38 e bem, mas psicologicamente já tinha parado.


BnR: Deixas os relvados, ficas como diretor desportivo mas acabas por treinar a equipa no final da época. O que aconteceu?

GM: Devo ser a única pessoa no mundo que foi campeã como jogador, diretor desportivo e treinador [Risos]. Tive essa lesão e tentei recuperar, fui para a Alemanha, Holanda… Tentei mas não deu, fiquei três meses a penar. Depois o presidente chamou-me e disse «olha, eu confio em ti, se quiseres renovamos mais um ano contigo lesionado ou passas para diretor desportivo». Achei que era uma boa oportunidade e em março desse ano [2015] assumi o cargo. Mas foi um trabalho muito difícil, que não tive prazer em fazer porque tive de lidar com muitos amigos: passei a ser o patrão e tive de decidir quem fica, quem sai e quem tinha de dar a notícia era eu, mesmo que não fosse minha decisão. Foi difícil demais não misturar as coisas… Eu consegui, mas muitos jogadores passaram a ter problemas comigo.

BnR: E pior deve ter sido quando passaste mesmo para treinador.

GM: Faltavam dois jogos para acabar o campeonato – mais a final da Taça – e o presidente chama-me para uma reunião depois de uma derrota, estávamos um ponto à frente no campeonato e íamos jogar contra o segundo. O presidente disse «Gustavo, garantes que com este treinador vamos ser campeões?», e eu disse que não posso garantir, porque no futebol tudo pode acontecer. E ele: «Não era isso que queríamos ouvir, se não podes garantir então o treinador sai e ficas tu à frente da equipa». Nem tinha a licença UEFA C, mas eles fizeram um jeito, puseram um adjunto, e assumi a equipa.


BnR: Foi por causa disso que acabaste por sair do APOEL?

GM: Não. Nós empatámos o primeiro jogo 1-1,  no segundo jogo vencemos 4-0 e fomos campeões e na final da Taça ganhámos 4-1 e fomos vencedores. Só que não podia continuar como treinador e voltei para o cargo de diretor e levámos o Domingos Paciência para treinador. A meu ver, ele fez um bom trabalho, mas houve uma pressão muito forte na equipa técnica, porque estávamos qualificados para a Liga dos Campeões e calhou-nos o Astana – que na altura não tinha tradição europeia – e deram por certa a ida à Champions. Fomos ao Cazaquistão e perdemos 1-0 num jogo equilibrado e começou logo a fazer-se “barulho”. Quando jogámos em casa, estávamos a ganhar 1-0 e com possibilidades de fazer o segundo golo, só que aos 88 minutos fazer o empate em contra-ataque, matam a eliminatória e ficamos fora da Liga dos Campeões. Naquela noite, a direção decidiu mandar o Domingos embora sem o meu consentimento e começaram os problemas porque o presidente – que tinha a autoridade para fazê-lo – despediu-o sem a minha presença. Se me chamasse, não teria havido problemas, mas aí começou a nossa divergência.

BnR: Que fizeste depois de sair do APOEL?

GM: Finalizei o curso de treinador UEFA A, fui convidado para treinar uma equipa da segunda divisão lá do Chipre – o Othellos – para terminar o curso e era um clube com pouca estrutura, diferente do que estava habituado. Criaram um projeto em cima de mim, a achar que com o meu nome iam chegar à Primeira, mas tínhamos 13 jogadores, salários em atraso… Depois completei o curso e voltei ao Brasil com a família, porque não tive tempo de descansar desde que terminei a carreira.

BnR: Arrependeste de alguma coisa na tua carreira?

GM: Olha João… A única coisa que posso dizer que tenho algum arrependimento foi ter aceitado ser diretor do APOEL. Foi uma experiência boa, mas não me fez bem, foi muito “atropelado”, não tive suporte. Teria feito diferente hoje, descansava um pouco, preparava-me um pouco mais aceitar esse desafio. Agora sou empresário com um grupo italiano, o meu filho joga no Torino e estamos a morar na Itália e é um trabalho que me deixa mais de acordo com o que acho bom. Estou envolvido com o futebol, ajudo os jogadores e tenho tempo com a família, sem perder os meus princípios.

BnR: Chegaste a ter a possibilidade de voltar a Portugal?

GM: Não, não. Até porque o futebol português – tirando os grandes – é uma vitrine muito boa, mas depois o nível financeiro baixa muito em Portugal. Há outros países que te oferecem uma estrutura melhor financeira e chegas numa idade em que isso é importante. É difícil estar a ganhar 40 mil e ires ganhar 8 mil. Nunca existiu uma oportunidade concreta e boa.

BnR: Quem vês como o próximo Manduca no campeonato português? A dar um salto para um grande?

GM: Ah não consigo dizer. Há muitos jogadores jovens, com bastante talento e qualidade, mas são coisas do futebol. Olha o meu caso: do nada as coisas foram correndo, num foi para o Paços, do Paços fui para o Marítimo e em ano e meio estava no Benfica. As coisas correm rápido, não dá para responder.

BnR: Para terminar, digo-te que acabou o Marítimo-Benfica. Ganhou o Marítimo 2-0.

GM: Ganhou o Marítimo? Fico feliz e triste ao mesmo tempo. Tenho um carinho muito grande pelos clubes onde passei, hoje mais pelo Marítimo porque o José Gomes foi meu treinador no Paços de Ferreira, ele chegou a ir para o APOEL… E o Briguel é diretor, chegámos a jogar juntos. Tenho um relacionamento mais pessoal, enquanto o Benfica é um gigante, que tem sido campeão e está bem, mas com esta derrota fica difícil a cinco jogos do fim.

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João Reis Alves
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Flaviense de gema e apaixonado pelo Desportivo de Chaves - porque tem de se apoiar o clube da terra - o João é licenciado em Comunicação e Jornalismo na Universidade Lusófona e procura entrar na imprensa desportiva nacional para fazer o que todos deviam fazer: jornalismo sério, sem rodeios nem complôs, para os adeptos do futebol desfrutarem do melhor do desporto-rei.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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