«Não tive a estrutura ideal para o meu crescimento na equipa principal do Benfica»
Bola na Rede: Falando agora no momento da altura do Benfica, foi na época 2000/2001 que fizeste a tua estreia, o Benfica ficou em 6º lugar do campeonato. Achas que esta época desapontante do clube teve alguma influência no teu crescimento enquanto jogador, pelo facto de ser um clube aquém das expectativas, achas que isso te afetou?
Ricardo Esteves: Não me afetou. Agora, é verdade que, não é mágoa, mas de alguma forma me deixa triste ter a oportunidade de jogar num clube grande como o Benfica e entrar numa altura em que o clube estava numa fase muito difícil, tanto financeira como estruturalmente. E saber que, por não haver a estrutura forte que o Benfica tem neste momento, o elo mais fraco são sempre os jovens e naquela altura havia alguns jovens na equipa principal, e que depois de tanta perturbação que o clube vivia, por tantas fases que o clube passou, obviamente que os jovens que estavam naquela altura saíram do Benfica e essa se calhar é a mágoa, é a tristeza que me deixa, por não ter a estrutura ideal para o meu crescimento na equipa principal do Benfica. Não tenho dúvidas nenhumas que, se o Benfica estivesse nesta fase que está neste momento, se calhar as oportunidades que eu tive naquela altura seriam muitos mais neste momento que o Benfica atravessa. Por isso de alguma forma me deixa triste por o momento do Benfica naquela altura, mas orgulhoso por ter estado ligado àquela casa e ter concretizado o meu sonho desde pequeno.
Bola na Rede: Na época seguinte fazes menos jogos pelo Benfica e és emprestado ao SC Braga, em janeiro; que memórias tens da tua passagem pelo clube minhoto, onde também trabalhaste com um treinador conhecido do futebol português, que era o Manuel Cajuda?
Ricardo Esteves: Neste momento é um clube grande e consolidado no futebol português e naquele tempo o SC Braga também era um excelente clube. Apesar de triste por deixar o Benfica, sabia que ia para um clube importante no campeonato português e também com história e lá está, para um jovem, foi mais uma fase de crescimento. Nós na vida estamos sempre a aprender e no futebol não é diferente, cada clube tem a sua mentalidade, cada clube tem os seus jogadores e estamos sempre a aprender. Foi mais uma fase de crescimento para mim, continuava a ser um jovem a jogar na I Liga, com uma equipa que também tinha nomes conhecidos no futebol português, com um treinador diferente, com outros métodos de trabalho e acho que isso foi importante para mim, para a minha carreira, ter crescido em vários sítios e ter aprendido com todos eles.
Bola na Rede: No verão de 2002 fazes o teu adeus definitivo ao Benfica, essa despedida foi algo que encaraste com alguma dificuldade?
Ricardo Esteves: Não, tristeza sim, mas no futebol temos que estar habituados a isto mesmo. Um dia estamos num clube, amanhã podemos não estar, por isso temos que estar sempre preparados e para mim o mais importante, como jovem, era jogar, porque um jovem sem jogar não se mostra e depois é difícil, aí sim, de alguém o querer. Achei que era o momento ideal, não estava a ter a oportunidades que queria, precisava de jogar e eu tinha que agarrar um clube e continuar a minha carreira, não sendo o Benfica, tinha que ser outro.
Bola na Rede: Esse clube acabou por ser o CD Nacional, onde voltas a trabalhar com José Peseiro, isso influenciou a tua decisão na escolha do clube?
Ricardo Esteves: O Peseiro tinha subido o Nacional à I Liga e desde que conseguiu esse feito demonstrou interesse em que eu fosse para a equipa dele. Sabia que era uma equipa que vinha da 2ª Divisão, mas, pelas contratações que o Nacional estava a fazer naquele momento, por conhecer o treinador e saber que poderia ser uma aposta dele, não tive receio em aceitar. O contrato que me propuseram também era importante e tudo junto, achei que era uma boa oportunidade para poder vir para o Nacional.
Bola na Rede: Na época seguinte sais do CD Nacional e vais pra o FC Paços de Ferreira e és treinado por José Mota, também ele um treinador bem conhecido do futebol português, como é que foi essa experiência de trabalhares neste clube e com este treinador?
Ricardo Esteves: O Paço de Ferreira é dos clubes onde eu mais gostei de jogar. Tive o prazer de jogar em todos os clubes por onde passei, gostei muito, mas de facto o Paços de Ferreira foi um clube que me marcou sobretudo pela maneira como me trataram. Joguei quatro meses no Vitória de Setúbal, estive uma época e meia no Nacional, depois com alguns problemas com a direção derivados ao meu contrato, deixei o Nacional para ir para o Paços de Ferreira até ao final da época. E encontrei um clube humilde, de gente muito séria, com um treinador carismático no futebol português. Gostei muito de jogar no Paços de Ferreira sobretudo pela maneira como me trataram, pelas pessoas que o clube tinha, pela cidade em si de tratar muito bem das pessoas vindas de fora, e depois pelos jogadores, por todo o ambiente que se vivia naquele clube. Apesar de não ter feito uma boa época, o Paços de Ferreira desceu de divisão nesse ano, mas tinha um grupo muito unido, de muita amizade e com um treinador que era amigo dos jogadores, muito próximo de nós e por isso tudo junto foi um clube que me marcou.
Bola na Rede: Nesta fase da tua carreira, tens 24 anos, já foste treinador por nomes como José Peseiro, José Mota e Toni, todos eles treinadores reputados do nosso futebol. Sendo exposto a tanto conhecimento quando ainda eras um jogador relativamente jovem, dirias que isso influenciou de forma positiva a tua carreira?
Ricardo Esteves: Sim, sem dúvida. Foram treinadores, todos eles com ideias diferentes, joguei em realidades diferentes e isso faz-te crescer como jogador, faz-te estar preparado para qualquer clube que possa surgir à tua frente. No Benfica foi o Toni, no Braga foi o Manuel Cajuda, José Peseiro no Nacional, José Mota, todos eles com as suas ideias, métodos de trabalho diferentes e obviamente que fui bebendo um pouco de cada treinador para o meu crescimento e para ter outra maturidade enquanto jogador.